Duas vidas, duas atitudes
«Martha and Mary», de Matthijs Musson |
Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço.
Interveio então e disse:
«Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir?
Diz-lhe que venha ajudar-me».
O Senhor respondeu-lhe:
«Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas,
quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».
Lucas 10,38-42.
Sempre me impactou o evangelho de Marta e Maria, porque sempre me revi nas duas atitudes destas mulheres: umas vezes estou mais dedicado às tarefas e descuro o encontro com Deus; outras, porém, estou tão focado em estar mais próximo de Deus que acabo por deixar o trabalho e serviço de lado.
Jesus foi claro: a atitude de Maria é a mais verdadeira e mais genuína, isto é, ouvir o Mestre. Porém, eu creio que na vida é necessário um pouco das duas, mas com muito equilíbrio. Como diz o povo, e bem: «Nem tanto ao mar, nem tanto à terra».
Até hoje, o comentário que me parece ser o mais coerente e correcto é o de Santo Agostinho, no seu sermão 104, em tenta estabelecer um certo equilibro entre as duas atitudes destas mulheres. Ao procurá-lo, hoje, dei conta que um site de partilha do Evangelho diário, o incluiu. Ainda bem que se recomeçam a redescobrir as fontes patrísticas...
Então diz Santo Agostinho:
«Duas vidas: meditemos mais longamente sobre elas, e consideremos de que é feita esta vida. [...] A vida de Marta é o nosso mundo; a vida de Maria é o mundo que esperamos. Vivamos neste mundo com rectidão, para obtermos o outro em plenitude. Que possuímos já dessa vida?»
A nossa vida, ainda que seja a de Marta - ocupada, atarefada, cheia de preocupações e inquietações - deve possuir um bocadinho e cada vez mais a de Maria, isto é, deixarmos a vida do mundo e aproximar a nossa vivência e experiência cristã à experiência de Jesus Cristo.
Maria deixou-se tocar por Jesus, pelos seus ensinamentos, tinha o gosto de o ouvir e de o descobrir, tinha o gosto de deixar Cristo entrar na sua própria vida, deixando de lado tudo o que é secundário e tudo o que a mantinha longe de Deus.
E nós? Continuamos atarefados? Continuamos tão ocupados que nem um tempo tiramos para estarmos juntos de Deus? Continuamos a achar que o trabalho e as coisas do mundo são mais importantes do que a oração? Quanto tempo tiramos para Deus?
Aqui, trata-se de escolher a melhor parte que não nos será tirada, porque é o próprio Cristo que se dá sempre e sempre que nos dispomos a ouvi-lo.
Ouça-mo-lo!!! O tempo gasto com Jesus é sempre lucro...
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