Para serem verdadeiros cavaleiros...
Este ano, a pedido do Capelão de um colégio, tenho assumido algumas das celebrações da Palavra que todas as turmas preparam e realizam com muito brio, muita descontracção e num espírito muito bonito e de partilha que me tem surpreendido muito e pela positiva. Os 12º anos são anos especiais, já que terminam um ciclo e se «despedem» do colégio para entrarem num outro ritmo, o ritmo universitário e, por isso, as celebrações são sempre emotivas.
Hoje, a celebração da Palavra tinha como título a famosa frase de Fernando Pessoa; «Pedras no Caminho? Guardo-as todas! Um dia vou construir um castelo!» uma aluna escreveu um texto e leu-o para a turma e para os presentes. Passo a reproduzi-lo, tirando os nomes que nele aparecem.
Uma Verdadeira Cavaleira
«NOME, antes de seres uma verdadeira cavaleira tens de cair, no mínimo, sete vezes», disse-me o meu pai momentos antes de entrar pela primeira vez num picadeiro, tinha eu cinco anos de idade. Lembro-me de não ter compreendido o sentido das suas palavras na altura, apesar de as ter levado muito a sério. A cada vez que caía ficava radiante, pois estava perto de tornar-me uma verdadeira cavaleira. A sétima queda chegou! Mas com ela veio também a oitava, a nona e a décima... não conseguia compreender... nada tinha mudado... mas já tinha caído sete vezes...
O tempo foi passando, evoluí do pónei para o cavalo, do volteio para a «turma dos crescidos», onde montava o meu irmão... as quedas sucediam-se... mas ainda não era uma verdadeira cavaleira.
Deixei de acreditar por completo na existência de uma relação directa entre as minhas quedas e o meu progresso hípico. Na minha cabeça de criança, a evolução devia-se única e exclusivamente ao NOME, o meu instrutor, e nada tinha que ver com a chatice de ficar com a roupa cheia de terra e com o corpo coberto de nódoas negras...
Porém, não podia estar mais enganada... cada queda, cada nódoa negra valia muito mais do que qualquer advertencia do instrutor. Tentar, errar, cair levantar, voltar a tentar são as etapas essenciais para o progresso de aprendizagem. Se esta queda não existisse, esta pedra no caminho não me incomodasse, por muitas vezes que o instrutor me chamasse à atenção, nada iria mudar, nunca me poderia aproximar do que é ser uma verdadeira cavaleira.
A pequena NOME tem, agora, 17 anos e já não monta há tempo suficiente para se considerar cavaleira de todo. Porém, agora, consegue entender o sentido das palavras do seu pai:
A vida é feita de obstáculos, de quedas, de pedras no caminho que podem ser interpretadas de duas formas: ou como algo negativo, que apenas serve para nos cobrir de terra e nos fazer nódoas negras; ou como algo positivo, algo com o qual aprendemos e nos vamos construindo enquanto pessoas.
As pedras no caminho são inevitáveis, mas podem ser ultrapassadas de três formas distintas: podemos limitar-nos a atirá-las para o caminho dos outros, evitando a dificuldade inerente à sua ultrapassagem; podemos passar por elas mas deixando-as para trás, sem aprender nada com a experiência; ou podemos guardá-las, de forma a não cometer os mesmos erros no futuro.
Para nos tornarmos verdadeiros cavaleiros, reis do nosso castelo de pedra, devemos utilizar as adversidades da vida para aprender, para nos construirmos e para nos melhorarmos enquanto pessoas.
Há quem diga que «errar é humano». Para mim, é mais que humano... é necessário! Sem pedras, não podemos construir castelos e, sem erros não podemos aprender!
Não tenham medo de errar! Tenham medo é de errar e não aprender nada com isso. E não se esqueçam:
Para serem verdadeiros cavaleiros têm de cair, no mínimo, sete vezes!
Como nos ensinam estes mais novos e que espiritualidade têm eles!
Pax Christi!
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