Museu vs Hospital

Batolomé Esteban Murillo
«Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: 
encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
"Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado"»

Lc 15, 1-3.11-32

Ontem, a minha afilhada de Crisma escreveu-me a pedir que lhe explicasse a Parábola do Filho Pródigo «como se fosse muito burra», já que se debatia com a injustiça de que o filho mais velho da parábola foi alvo. De facto, facilmente ficamos com essa sensação: que este filho mais velho é alvo de uma grande injustiça. 

Facilmente nos solidarizamos com a sua revolta, porque todos somos um pouco como ele. Mas, como lhe respondia, isto acontecesse porque nos centramos na atitude dos filhos e dificilmente vemos aquilo que Jesus quer ressaltar: a atitude bondosa de um Pai que acolhe este Filho mais novo.

Mas, porque nos «colamos» à figura do Filho mais velho?  Porque todos temos este Filho mais velho na nossa personalidade. Somos mesquinhos, somos intolerantes, somos incapazes de reconhecer que uma pessoa pode converter-se, pode voltar a Deus, que significa voltar à sua génese, que é a bondade. Deus criou-nos para o bem! Sim, a criação de Deus é um acto gratuito e bom. Sim, o ser humano é criado para o bem e no seu ADN é o gene mais patente. 

Infelizmente, vemos tudo de um ponto de vista humano e utilitário, vemos tudo de um ponto de vista egoísta em que nos colocamos no centro de tudo: somos os melhores, somos aqueles que permanecemos fiéis, somos aqueles que precisamos do elogio... é a política do EU!

Esquecemo-nos tão facilmente que os outros têm este gene da bondade e usamos a regra do funil: (muito) largo para nós, os «bons», e bem estreito para os outros. 

Se o Filho mais novo se afastou do Pai, exigindo a herança e gastando-a com uma vida pouco recomendável, o Filho mais velho afastou-se do pai por procurar o elogio, por cair na rotina, por querer ser adulado como aquele que permaneceu fiel. No fundo, Jesus quer mostrar que ambos pecaram, ambos se afastaram do seu pai. 

Também nós nos afastamos de Deus quando nos achamos os melhores, quando somos mesquinhos e intolerantes para com os outros, quando procuramos elogios e não elogiamos o bom trabalho dos outros, quando desvalorizamos os outros, quando procuramos o nosso bem-estar e não tratamos dos outros, quando só escolhemos o mais fácil para nós e deixamos o mais difícil para os outros, quando queremos ser apoiados mas não apoiamos os outros... poderia continuar a lista!

Mas, agora, centremo-nos na figura deste Pai: respeitador da liberdade dos filhos (o Filho exige a herança e ele reparte-a), quando vê o Filho mais novo não o recusa, mas toma a atitude de uma mãe (sai ao seu encontro e enche-o de beijos) e toma uma atitude de pai (veste-o, dá-lhe dignidade e integra-o na família) e é, por fim, uma figura conciliadora (não só acolhe o Filho mais novo, como vai ter com o Filho mais velho para lhe explicar a situação). 

Com isto, Jesus quer mostrar-nos a figura de Deus Pai, que ama uns e outros: a nós, os fiéis, mas também os que d'Ele estão longe. É assim o nosso Deus! E o mesmo acontece com as parábolas do encontro: a ovelha perdida e a dracma perdida. São Paulo vai dizer que «Deus não faz acepção de pessoas», porque ama a todos de igual modo. 

O grande erro que cometemos é pensar que Deus gosta apenas daqueles que gostamos, é pensar que nós somos os santos, os bons, os puros. Mas, Jesus afirmou no Evangelho: «Eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores». O Papa Francisco tem uma frase que penso resumir bem isto: «A Igreja não é um museu de santos, mas um hospital de pecadores». 

Pensemos na graça que recebemos por habitar junto deste Deus de Amor, de Misericórdia, de Bondade e da Ternura. Pensemos que somos agraciados por ser estes filhos mais velhos, mas não descuremos os mais novos, não os desprezemos porque foi para estes que Jesus veio. 

E, quando assim pensarmos, façamos o exercício de reler esta parábola e ver esta atitude deste Pai que se alegra não só por ter a seu lado o Filho mais velho, mas também porque o seu Filho mais novo regressa a sua casa. Pensemos, também, que quando pensamos como o Filho mais novo estamos a afastar-nos deste Deus de Misericórdia, porque não aderimos ao seu amor sem medidas. 

Que esta Quaresma possa ser uma oportunidade para recentrar a nossa vida no Pai e não nos filhos. Dêmos uma oportunidade, não excluamos, deixemos que estes filhos mais novos voltem a Deus! Deus tem amor para todos!

Pax Christi!

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