São Domingos: falar com Deus e falar de Deus


 

Homilia da Solenidade de Nosso Pai São Domingos 

08 de Agosto de 2024

Igreja do Convento de Cristo Rei - Porto



Falar com Deus e falar de Deus


O fim do Evangelho de São Mateus, traz-nos as últimas palavras de Jesus. Antes de passar deste Mundo para o pai, antes de entrar na sua glória, Jesus diz qual é a sua última vontade: ele entrega o seu poder de ensino e a sua autoridade aos Apóstolos. De agora em diante, Jesus não falará mais directamente à humanidade, mas falará pelos seus discípulos e através de homens escolhidos, ungidos pelo Espírito Santo, para que os homens cooperem com Ele na obra da Salvação. 

«Ide e ensinai todos os povos», para que todo o Universo tenha conhecimento da salvação que Deus nos deu em Cristo. Diante deste mandato, podemos dizer que não temos a necessidade de pregadores pois todo aquele que invocar o nome de Jesus será salvo.  Se isto fosse assim, os dominicanos ficariam no desemprego. Mas, o Apóstolo São Paulo diz-nos: «Como podemos invocar a Deus sem primeiro ouvir falar d’Ele?», ou seja, e como podemos acreditar e ouvir se não houverem pregadores que nos anunciem o Evangelho? 

Se Deus quer que a humanidade seja salva e chegue ao conhecimento da Verdade, o que só pode ser feito através do Evangelho, então precisamos de homens que nos preguem e falem, precisamos de homens e mulheres enviados por Deus. Todos estes homens e mulheres têm duas preocupações, duas ambições ou duas regras em comum:

Primeira regra: Falar com Deus. Acontece que este é o traço mais notável da personalidade de São Domingos. A antiga crónica diz que «se durante o dia falava de Deus, à noite falava só com Deus». Domingos quis, antes de tudo, ser um discípulo, isto é, um homem que escuta a Cristo. 

Ruminou de tal maneira o Evangelho a ponto de o poder citar de cor, tal como nos contam as fontes dominicanas: «onde quer que fosse, levava consigo o Evangelho de Mateus e as epístolas de Paulo. 

Por isso, a primeira grande obra de Domingos é a de preparar o seu coração e a sua mente, a sua inteligência e a sua vontade para receber esta Palavra. Meditou-a no seu coração, tal como Maria, porque sabia que Deus apenas se dá a conhecer de coração a coração. 

A sós com Deus, Domingos fala-lhe constantemente na oração discreta da noite, da oração coral, na Igreja e no caminho. Mas qual era o objeto do seu diálogo com Deus? Dizem-nos as fontes que falava sobre os homens. Domingos confia ao seu Senhor as suas esperanças e desesperos, a sua boa vontade, mas também as suas fragilidades e pecados. 

«Meu Deus, minha Misericórdia, que será dos pobres pecadores?», gemia ele durante a noite. Domingos tornou-se o embaixador dos homens do seu tempo junto de Deus. Ele leva até às suas entranhas o sofrimento dos homens, as suas necessidades, materiais e espirituais. Ele é o companheiro caritativo dos homens, uma vez que vendeu todos os seus livros para dar de comer aos pobres e vizinhos. 

A segunda regra: falar de Deus. O zelo de anunciar o Evangelho devorou o coração de Domingos, tal como nós cantamos: «Ele que ardia de amor pela salvação dos homens». Sim, ele tomou a verdade com o seu cinto e os seus sapatos para poder pregar zelosamente o Evangelho da salvação e da graça. A sua grande preocupação apostólica era a de partilhar o que descobria a cada dia sobre o amor de Deus que tantos homens do seu tempo ignoravam. Em Domingos, o Amor e a Verdade encontram-se e fundem-se para dar lugar à pregação do nome de Deus. O Beato Jordão dizia: «Um dos seus pedidos mais fervorosos e singulares a Deus foi que lhe desse uma caridade sem limites e como amava a todos, todos o amavam».  E Deus atendeu-o nas suas preces. Com todos, homens e mulheres, ricos e pobres, judeus ou hereges, Domingos se mostrava sempre amigo. Assim ele pregou a doutrina a partir da verdade que extraiu do «Livro da Caridade», que é o Evangelho, porque é da Caridade que nasce a verdadeira pregação. 


É assim que Domingos idealizou a nossa Ordem, assente em quatro pilares: oração (falar com Deus), contemplação (abrir o coração à Verdade), vida comum (caridade) e pregação (falar de Deus). 

Irmãos, se temos caridade, esta caridade nos ensinará. Se tivermos caridade, conheceremos a Deus. Se somos enviados a viver a Caridade, vivamo-la! Ela levar-nos-á, como Domingos a falar de Deus aos homens e a falar dos homens com Deus. Ânimo! Sigamos os caminhos de São Domingos!

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