Cantai o Amor que move

Descrição da imagem ao fundo da publicação
Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, 
mas para que o mundo seja salvo por Ele. 

Vários foram, ao longo da história da Igreja, os tratados sobre a Trindade. Mas, todos eles são apenas tentativas para explicar um mistério tão grande e tão profundo, tão fascinante e tão tremendo que só me lembro do livro de Søren Kierkegaard, intitulado Temor e Tremor, ainda que não seja um tratado sobre a Trindade, mas uma leitura Psico-filosófica do episódio de Abraão que sacrificava o seu filho Isaac. 

Mas, desde Agostinho a Tomás de Aquino, as tentativas de explicar o mistério são tão grandes e há, certamente, um grande esforço por se tentar, pelo menos, entender como funciona a Trindade e qual o tipo de relações entre estas três pessoas na unidade. 

São Tomás de Aquino explicava que as relações trinitárias eram 'processões', isto é, movimentos e relações internas da Trindade em si que explicavam a unidade de Deus na diversidade de pessoas. Já Santo Agostinho, anteriormente, no seu De Trinitate, explica, no livro VIII, que o que faz a trindade e a sua relação é o AMOR. 

Quando se debate estas relações e estes mistérios, lembro-me sempre de um prezado Bispo do Porto, professor de Mistério de Deus que, no final do semestre perguntava aos alunos:
- Os senhores entenderam alguma coisa do mistério de Deus?
Fazia-se ouvir um silêncio, mas um aluno mais espevitado respondeu:
- Professor, eu não!
Então o Bispo sorrindo, dizia:
- Ainda bem! É sinal que expliquei bem... 

Referia-se, claro está, ao facto de ser um mistério tão grande que não haveria possibilidade de o entender total e plenamente.

Mas, então, como entender a Santíssima Trindade?
Uma vez, numa das catequeses, um miúdo perguntou-me: «Catequista, o que é a Santíssima Trindade?». 
Eu gosto de usar uma analogia, em que comparo a Trindade aos estados da água. Não será, de todo, a melhor, mas acho que se faz entender e que, por isso, é uma maneira de abordar o mistério.

Então, a Santíssima Trindade é como a Água nos seus estados.

Pai = Estado Líquido: Deus é como o estado líquido, aquele rio que corre incessantemente e do qual necessitamos para beber e viver. O Pai é aquela fonte inesgotável que jorra e hidrata a vida, mas completamente inalcansável, pois, tal como a água, escorre-nos pelos dedos e é difícil de o conter em nós. Assim como a água precisa de uma garrafa, de um copo, o Pai precisa do nosso coração para ficar na nossa vida.

Filho = Estado Sólido: O Filho é o estado sólido porque Encarnou, veio ao mundo para salvar. O Filho é 'carne da nossa carne e osso dos nossos ossos' ou, ainda, 'em tudo igual a nós, excepto no pecado'. É palpável, é tocavel, porém não deixa de ser água, que procede da fonte. Se o Pai é a fonte, o Filho é o rio que corre.

Espírito Santo =  Estado Gasoso: Está lá, não o vemos, não o palpamos, mas ele está lá. Está no ar que respiramos e que tanto necessitamos. É este vapor que nos alenta e nos guia, que sentimos numa brisa leve ou num vento de tempestade. É a água evaporada que nos cria o verdadeiro clima. Procede desta fonte e deste rio, mas invisível aos olhos. É o Espírito...

Deus é, então, a Fonte de Água Viva que sustenta e hidrata a vida do Homem. Em três estados completamente diferentes, mas unidos numa comunhão de vida e de amor, numa comunhão viva, numa processão ou, simplesmente, no Amor. 

Porém, é engraçado celebrar a Santíssima Trindade depois do Pentecostes. O Pai revelou-se aos Patriarcas, aos Profetas, ao Povo de Israel; o Filho revelou-se aos discípulos e a todos aqueles que o acompanharam; o Espírito foi revelado quando o Pai e o Filho se uniram e dos quais procede e que foi derramado nos Apóstolos, no dia de Pentecostes. Ora, aqui está toda a Trindade revelada e, deste modo, podemos celebrar, depois do Pentecostes, a festa da Revelação plena de Deus ao Homem no seu mistério de comunhão e de amor. 

Que esta celebração nos recorde que o que une os cristãos não é um simples e bonito código moral, não é um simples e elaborado sistema de crenças. O que une os cristãos é o Amor procedente do Deus Uno e Trino. O Cristianismo não é uma religião individual, mas de comunhão, de fraternidade e, por isso, difícil...

Em suma, é nesta Diversidade que o Amor nos faz ser Unidade, à imagem de Deus Uno e Trino. Tal como diz um dos hinos que cantamos no Convento: «Cantai o amor que move / o Mundo em gestação /...». Que este amor nos mova...


Discrição da Imagem:
Aquele relevo é apelidado de «Trindade misericordiosa». 
Ao centro o Homem, enfermo, quase cadavérico, mas nos braços do Pai - à direita - que o beija (Filho Pródigo - Lc. 15, 11 - 32); o Filho - à esquerda - que, cura e beija os pés do Homem enfermo (Lava-pés - Jo. 13) e, por fim, o Espírito que desce - ao cimo - ora em forma de pomba (Baptismo de Jesus - Mc. 1), ora em forma de língua de fogo (Pentecostes - Act. 2).
É uma das mais bonitas formas de representar a Trindade cheia de amor pelo Homem.

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