Como um peregrino...

Eu sou caminho.
"Eu Sou o Caminho".

Há algum tempo que, a pedido de um irmão, colaboro na Pastoral de um colégio de Lisboa: o Externato Marista de Lisboa. A minha grande colaboração é sobretudo nas Celebrações da Palavra, que cada turma organiza com grande esmero e empenho.

Já aqui partilhei que essas celebrações são importantes para mim, porque é onde ouço a voz dos jovens, as suas inquietações, as suas esperanças e isso faz-nos bem. São eles o futuro e a esperança da nossa Igreja. 

O ano passado orientei alguns encontros que os alunos do ensino secundário organizam como preparação da peregrinação que fazem a Fátima. Este ano estive com eles todos os encontros, na vigília e na própria peregrinação. 

Tal como lhes disse a eles, estava com medo de ir com eles, não por causa do esforço físico, não por causa do medo de ficar fora de casa, mas porque a última peregrinação que fiz foi dolorosa. Mas, como diz S. Paulo, "tudo posso naquele que me conforta" e lá arranjei forças e vontade para fazer este caminho. E agradeço a Deus esta inspiração. 

CASAL DA PENA | INÍCIO DO CAMINHO 
Caminhamos durante dois dias no meio da natureza, com muito calor, muito cansaço, mas muita alegria. Sim, de facto os jovens são uma força da natureza, alegres e disponíveis para tudo, mesmo apesar das bolhas e dos escaldões. São uns aventureiros. E aventuram-se não só a nível físico, mas também a nível espiritual.

E sobre esta aventura, quero partilhar algumas das coisas que vivi com eles:

1. O acolhimento. A presença de um Frei tem uma carga um pouco institucional e às vezes cria um certo distanciamento. O que ali senti não foi um distanciamento mas uma aproximação. Acolheram-me como religioso, mas também como um companheiro de caminho, um colega mais e como um verdadeiro peregrino. Cuidaram de mim, nem que tenha sido para dizer: "O frei está muito vermelho nas pernas. Quer um pouco de creme?" 

2. A colaboração. Vi neles uma vontade e uma disponibilidade muito grandes, bem como um grande empenho na preparação das refeições, das orações e dos momentos de convívio. A propósito disto: uma aluna deixou cair acidentalmente um prato de comida e baixou-se para a apanhar. De repente estavam alguns dos seus colegas a apanhar a massa do chão. Colaboração e entreajuda foi uma das coisas que me impressionou.

3. A oração. Existiram, ao longo do caminho, vários momentos de oração e vi que todos se empenharam em respeitar estes momentos. A oração e a partilha das experiências foram um momento central ao longo deste caminho. 

4. O silêncio. Na sexta-feira houveram dois momentos de silêncio profundo, que foram, para mim, aterradores. O primeiro foi durante o caminho, durante o mistério em que meditamos a Morte de Jesus. Ao mesmo tempo que descíamos o monte e víamos aquelas vistas maravilhosas, ouvíamos apenas o som de 104 pares de pés a caminhar. 
O segundo momento foi quando chegamos à Capelinha das Aparições e paramos ali para agradecer o caminho percorrido. Um momento surpreendente e emocionante vermos aqueles jovens em silêncio e em oração. 

5. A partilha. Fui quase sempre na linha da frente, não para impor o ritmo, mas porque me custa caminhar devagar. Na linha da frente não dá para ver tudo nem para ouvir a todos, mas apercebi-me que todos partilhavam as suas vidas uns com os outros e comigo também.  Tive a companhia de alguns alunos que me iam falando: uns com questões sobre a fé, outros falavam sobre a vida e outros, ainda, falavam sobre jogos, livros, filmes e séries que andavam a ver. Houve, sobretudo, um aluno que me marcou, porque falamos e discutimos sobre a história das religiões, sobre a história da Igreja e sobre o futuro da Igreja. Muito profundo e muito interessante perceber que os jovens se interessam por estes temas e têm vontade de os discutir. 



Enfim, foram dois dias em que vivi como um peregrino que faz caminho com os outros e que procura ser caminho para os outros. Fui um peregrino mais com todos os outros peregrinos.

Agradeco-lhes o convite, a amizade e a partilha. 

Como digo sempre nas Celebrações da Palavra: "mais importante que tudo aquilo que eu vos diga, o mais interessante é perceber o que vocês acham, pensam e sentem". 

E agora respondo àquela pergunta que faço sempre nas Celebrações: o que é que eu levo daqui? 

Eu levo desta peregrinação a visão de uma Igreja jovem e simples, que apenas precisa de momentos como estes para criar laços com Deus e uns com os outros. Levo desta peregrinação a alegria daqueles jovens que procuram viver a sua vida com valores cristãos. Por fim, levo daqui a partilha da vida que fomos fazendo ao longo destes dias enquanto peregrinos a caminho d'Aquele que é "o Caminho, a Verdade e a Vida".

Obrigado Maristas!

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