CIVITAS VIRGINIS

A cidade que agora me acolhe é uma cidade bastante peculiar. O Porto, como dizia a nossa Agustina Bessa Luís, «não é um lugar, mas um sentimento». Vários poetas românticos e ultra-românticos descreviam a cidade do Porto, como o «espaço dos encantos» ou, ainda, como «o mundo rude do amor». Tudo no Porto tem um simbolismo, um significado, mas sobretudo, tem uma história. 


É interessante que as armas da cidade do Porto tenham uma representação de Nossa Senhora. E porquê?

A cidade tem a sua origem no período pré-romano, ainda que só com o domínio romano se veio a chamar Portus Cale, que significa Porto Belo. Mais tarde, deu origem aos nomes Porto (Portus) e Gaia (Cale) e, ainda, ao nome do nosso belo país: Portugal (perdoem-me o povo da capital, mas Portugal teve a sua origem no norte). 

As invasões árabes começaram na península e, cerca de 710, invadiram a cidade, tendo chegado a Lisboa em 714. Este domínio durou mais de um século quando, em 868, Vímara Peres (que, segundo o Prof. Hermano Saraiva, foi o verdadeiro fundador do Condado Portucalense) avança contra as forças muçulmanas.

No século X, entraram na barra do Douro uns fidalgos franceses, acompanhados do Bispo Nónego de Vendôme, que veio a ser Bispo do Porto. Este episódio veio a ser conhecido como «Armada dos Gascões». 

Tendo expulsado os mouros do Porto, consagraram solenemente a cidade à Virgem. Depois da conquista, ergueram umas fortes muralhas e, num dos arcos principais (o do morro da Sé ou da Penaventosa) dessa fortificação colocaram a imagem de Notre Dame de Vendôme, imagem que terá sido pelo bispo acima referido. Por isso, antes de ser Invicta, ela é Civitas Virginis, isto é, Cidade da Virgem.

Só em 1111 é que Dona Teresa de Leão concedeu a D. Hugo a posse do Porto e, por isso, a cidade do Porto ficou sob jurisdição do Bispo e não do Rei Afonso. Por isso, segundo José Hermano Saraiva, o Porto nunca foi a Capital de Portugal, já que não pertencia ao Rei. Terá sido daí que veio a ideia de que «o Porto é uma nação»?

Deste modo, a verdadeira padroeira da Cidade do Porto é Maria, Nossa Senhora da Vandoma, que hoje, dia 11 de Outubro, celebramos com grande solenidade, se bem que não com tanta festa como no S. João.

Percebemos, por isso, que Nossa Senhora tenha a invocação de Vandoma (cidade de que era bispo D. Nónego), mas ela também é conhecida por Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação ou, simplesmente, Nossa Senhora do Porto. A devoção foi levada do Porto, durante os Descobrimentos, para todo o mundo, tendo chegado ao Brasil e às Índias.

Na Catedral do Porto, no lado do Evangelho, encontra-se uma bela representação de Nossa Senhora da Vandoma, atribuída ao século XVI. 


E é assim... pouco a pouco vamos desvendando os mistérios desta bela e maravilhosa «Antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto». Que a Mãe de Deus, Nossa Senhora da Vandoma, vele pelo Porto, pelos portuenses e por todos os seus filhos, que somos nós.

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Fontes:

MATTOS, Armando. As armas da cidade do Porto. Porto, Ed. dos "Amigos do Museu", 1929.
SARAIVA, José Hermano. História de Portugal . Lisboa, Círculo de Leitores, 1981.
OLIVEIRA RAMOS, Luís A. de  (Coord.). História do Porto. Porto, Porto Editora, 1994.

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