Arcebispo Santo!

Ainda no rescaldo da Solenidade de Todos os Santos (1 de Novembro) e da festa de Todos os Santos da Ordem dos Pregadores (7 de Novembro), a nossa Ordem dos Pregadores alegra-se com a Proclamação Solene do Decreto de Canonização de fr. Bartolomeu dos Mártires, que terá lugar amanhã na Sé de Braga, pelas 15h30. 


Mas quem é frei Bartolomeu dos Mártires?

1. Origem

Bartolomeu Fernandes, nasceu em Lisboa, em 1514, de uma família humilde. Apenas com catorze anos, Bartolomeu entra da Ordem dos Pregadores, vulgo Dominicanos, no Convento de São Domingos de Lisboa (actual igreja de São Domingos da baixa ou igreja paroquial de Santas Justa e Rufina), onde recebe o hábito em 1528, tendo professado um ano mais tarde. Aos vinte e oito anos, é assignado ao Convento da Batalha para ali realizar os seus estudos teológicos, em 1542. 

Em 1552, foi chamado para ser Mestre de Dom António, futuro Prior do Crato e pretendente à coroa. Foi aqui que contactou pela primeira vez com os religiosos da Companhia de Jesus. 

Entre o fim de 1557 e o início de 1558, é eleito Prior do Convento de Nossa Senhora do Rosário, em Benfica, um convento de observância e aí permanece até à sua eleição para suceder a Dom Frei Baltasar Limpo. 

2. Arcebispo de Braga

Dizem algumas fontes que, para suceder a Dom Frei Baltasar, a Raínha indicou o nome de Frei Luís de Granada, mas que terá recusado a nomeação e apontando o nome de Frei Bartolomeu. Assim, em 1559, Bartolomeu é nomeado Arcebispo de Braga, pelo Papa Pio IV. 

A par das qualidades intelectuais, Bartolomeu demonstrou-se um zeloso pastor, tendo começado pela reforma da sua Arquidiocese (que, na altura, incluíam as atuais dioceses de Braga, Vila Real, Viana do Castelo e Bragança-Miranda), a começar pela vida do clero. 

Durante este período empreendeu várias visitas pastorais, percorrendo praticamente todo o território arquidiocesano, facultou um catecismo para instruir os seus diocesanos, sobretudo no que toca à doutrina e espiritualidade cristãs. 

Participou na terceira parte do Concílio de Trento (1561-1563) e ficou nele conhecido como aquele que proferiu a famosa frase: «Os eminentíssimos Cardeais necessitam de uma eminentíssima Reforma», o que lhe levou a merecer o título de «Luminar do Concílio». 

Quando regressou do Concílio, começou logo a implantar as medidas que esta importante Assembleia decretou. Por isso, em 1564, organizou um Sínodo Diocesano e, em 1566, organizou um Concílio regional. 

A ele se deveu a criação do primeiro seminário diocesano, dito «conciliar», para fomentar a formação do seu presbitério, em 1572, a cargo da Companhia de Jesus. 

3. Fim da vida

Em 1582, renunciou ao Arcebispado, renúncia esta aceite pelo Papa, tendo voltado à sua vida simples de Frade, no Convento de Santa Cruz (actual igreja paroquial de Nossa Senhora de Monserrate), em Viana do Castelo. 

Aqui, segundo os historiadores e hagiógrafos, dedicou-se à oração, ao estudo e à caridade, tendo ficado conhecido pelo episódio do casal recém-casado. Neste episódio, Frei Bartolomeu dos Mártires, sabendo que um casal não tendo uma cama onde dormir, através da janela do seu quarto lançou o colchão para a rua, tendo ficado a dormir sobre tábuas. 

É aqui que, a 16 de Julho de 1590, acaba por falecer e onde é sepultado. Nesse mesmo dia é aclamado pelo povo como «Arcebispo Santo».

Em 2003, o poeta e ensaísta António Couto Viana compôs um poema intitulado Prece da Ribeira a Frei Bartolomeu dos Mártites, que aqui reproduzo:

Frei Bartolomeu, meu Bartolomeu!
Que Santo mais Santo o Senhor me deu!

Arcebispo peregrino
Foste a voz de Deus em Trento
E ouviste o louvor do hino
À tua fé e talento:

Olha a pobreza que reza
Debaixo da tua cela:
Farta-lhe de pão amesa
E de peixe o barco dela.

Lança-lhe ao frio da mão
P'ra triste nudez da casa
O calor do teu colchão,
Como um conforto de brasa!

Soa cinco badaladas
Da torre do teu Convento
Quando as ondas vão iradas,
E rasga as velas o vento, 

P'ra que aconteça o milagre
Do barco a varar na areia
E a companha te consagre
Ao dar graças, à ceia. 

E na Viana do Mar, 
No teu Convento altaneiro, 
Vieste humilde, esperar
O suspiro derradeiro.

Pois que sempre me proteja
Teu corpo à esquerda do altar, 
Que alumia toda a igreja
Como o farol luz no mar. 

E à tua alma, tão bela, 
Que subiu, em glória, ao Céu, 
É a mais brilhante estrela
Da noite, Bartolomeu!

Frei Bartolomeu, meu Bartolomeu!
Que Santo mais Santo o Senhor me deu!  

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