Pregação para a Salvação das Almas

No título está patente a principal função dos Frades Pregadores, isto é, dos dominicanos! Pregar a misericórdia e graça que vem de Deus ao homem.

O tempo do Noviciado é também um tempo para nos prepararmos não só para a Pregação pela vida, mas para a pregação por palavras daquela Palavra viva e eficaz que é o Evangelho. Neste sentido, hoje prego aos irmãos na Igreja Conventual, presidindo a uma Celebração da Palavra!!! É assim o meu primeiro acto do ministério da Pregação do Evangelho!!!

Aqui deixo o que disse:

"Queridos irmãos,

Reunidos para meditar o Evangelho do Domingo III do Tempo Pascal, deparamo-nos com o Evangelho de Lucas que nos apresenta a dificuldade que os discípulos têm ao reconhecer Jesus depois da Ressurreição! 

É necessário que Jesus lhes permita tocar as suas chagas para que eles acreditem que Aquele que ali está no meio deles é o mesmo Jesus que acompanharam.

Mas, se voltamos uns versículos atrás neste evangelho, encontramos aquele famoso relato dos discípulos que iam a caminho de Emaús! Jesus coloca-se a seu lado, fala com eles, caminha com eles mas... Eles não o conheceram!!! Havia ali alguma coisa que os impedia, mas o quê? O que seria isto!?

E se fossemos ainda mais atrás neste Evangelho, encontramos Maria Madalena aflita por não saber onde estava o Senhor, mas ele estava ali, à sua frente!!! 

A Teologia foi, ao longo da historia, dando explicações sobre estes episódios mas, embora certos, ficam muito pela rama e a maioria afirma que Jesus estava transfigurado e que por isso não era possível reconhecer Jesus. Contudo, estas explicacoes são demasiado intelectuais!  Quando a Teologia aplica conceitos demasiado intelectuais não explica, mas complica...

Apesar de ser certa esta interpretação, eu aposto que a grande dificuldade é muito mais humana... 

Vejamos: Maria Madalena estava a chorar, os discípulos de Emaús iam pelo caminho desanimados, os apóstolos estavam fechados em casa com medo e tristes! 

Estes sim, são impedimentos humanos que todos e cada um de nós tem! Isto é o que nos impede de ver e de reconhecer Jesus!!!

O Papa Francisco, na viagem que realizou às Filipinas, pronunciou um discurso sobre a Teologia das Lágrimas! É importante, sem dúvida, o modo como o Papa interpreta as lágrimas, elas ajudam a limpar a visão destorcida do mundo e faz-nos ver mais claramente! Mas não podemos ficar-nos pelas lágrimas! As lágrimas são uma ponte para viver com alegria a nossa realidade, por mais triste que seja!

Contudo, ficamos, tantas vezes, nas lágrimas, na tristeza, no desânimo, naquele fatalismo fácil e desorientados pelas contrariedades da vida. Muitas vezes, para nós, é melhor deprimir que passar pelo problema e enfrentá-lo! E porquê!? Porque ficamos presos aos nossos projectos, às alegrias passadas, mas esquecemo-nos que com o passado não se constrói nada!!!! O passado, quando muito, ajuda-nos a cuidar do presente!!!

Eu creio que Deus não esta minimamente importado com o passado, nem com o futuro, a Ele só lhe interessa o presente! É com o nosso presente que construimos o passado e o futuro!!! Apenas há que aceitar a vontade de Deus no dia de hoje!!! 

É isto que Jesus nos diz no Evangelho de hoje: limpai as vossas lágrimas, livrai-vos dos vossos medos e de tudo o que vos torna escravos e vivei con alegria esta nova presença de Cristo ressuscitada e ressuscitadora...

O mesmo Papa Francisco na passada Quinta-feita Santa falou ao clero - mas creio que serve para todo o cristão: "não tenham cara de vinagre". Pois, como podemos anunciar o Deus da Alegria se nós próprios somos tristes!?

A nossa alegria é fruto do encontro com Jesus! Como o encontramo!? Sabemos bem a resposta... A Eucaristia é o encontro fundamental com Cristo e com os irmãos! É aí que Ele se faz presente, derrama o seu amor e o seu perdão. 

Sentindo-nos perdoados que outro sentimento podemos ter que não seja o da alegria!?!?!?

Que o Senhor nos faça cristaos alegres, para que, com a alegria do Senhor Ressuscitado, possamos dizer aos homens que Deus é amor e alegria!

Amén!!!"

Pax Christi,

fr. José Manuel