Dias Santos

Sem dúvida que, um dos momentos mais emocionantes, para mim, na vida da Igreja, é a Semana Santa. É uma semana importante, na qual somos convidados a acompanhar de mais perto a vida de Jesus e a fazer caminho. 

É muito fácil que reduzamos tudo a umas quantas 'cerimónias' e a uns rituais que puxam ao sentimento, mas isto é tudo muito sério! É recordar o que aconteceu com Jesus com um único objectivo: a nossa salvação! 

Estas celebrações da Semana Santa, marcam-me muito, embora este ano tenha tido uma nova experiência. Quando estava na minha Paróquia de origem, vivia intensamente estas celebrações, mas com muitas preocupações, tentanto assegurar a dinâmica e a harmonia das celebrações (era eu uma espécie de 'cerimoniário'). O ano passado, como estive em Sevilha, a Semana Santa é vivida de outra forma: as famosas procissões que tomam conta da cidade e esta semana é mais vivida fora da Igreja, do que dentro (é a cultura). Este ano, as coisas foram diferentes. Vivi mais intensamente e com mais recolhimento estas celebrações e fiz uma preparação mais interior, apesar de que o exterior (trabalhos comunitários, preparação dos cânticos, cantar nas celebrações) também são importantes!

Destaco dois momentos que me comoveram imenso e que quero partilhar: Sexta-feira da Paixão e a Vigília Pascal. 

A Sexta-feira Santa porque é o momento em que vemos Jesus entregue, de boa vontade, de bom grado, à causa da humanidade. Só um amor extremo é capaz de se dar completamente! Só um amor tão extremo é capaz de se oferecer. É esse amor que Jesus tem pela humanidade, amor tão grande que se dá, que se entrega, que morre e com a morte restaura a vida. De facto, a humanidade é devedora a tão grande amor! 

As celebrações dos dominicanos, marcam-se pela simplicidade e sobriedade: nada de exageros, cingindo-se ao necessário para que os irmãos possam saborear, nesta simplicidade, cada momento, cada palavra, cada gesto! Assim foi!

O momento mais emocionante, para mim, foi a parte inicial: a entrada em silêncio, a prostração, a leitura de Isaias e o Salmo (tentei procurar a ver se havia uma gravação, mas não encontrei). É mesmo um mistério: como alguém naquele duro sofrimento pode dizer: «Nas tuas mãos entrego o meu espírito»? Quem, naquele sofrimento, podia dizer: «Tudo está consumado!»? Aquela confiança de Jesus de que o Pai o ressuscitaria dos mortos, a aceitação da vontade do Pai, aquele sofrimento todo... e eu penso: «Devemos ser mesmo preciosos aos olhos de Deus!», «Eu mereço tudo aquilo que Ele fez e faz por mim?». E surge-me aquelas palavras de um hino da Liturgia das Horas: «Obrigado pelo muito que neste dia nos deste, e perdoa-nos o pouco que de nós tu recebeste». E Jesus perdoa, com tal amor, com tal vontade, que nos ama tal como somos, apesar do nosso defeito, confiando em nós e acreditando na nossa vontade de O amar... Que grande mistério!

A Vigília Pascal também é um momento alto da minha Semana Santa. O semestre passado tive a disciplina de Teologia Patrística e ao ler estes textos dos primeiros cristãos, percebemos a importância desta Vigília. É a noite mais importante, marcada pelos opostos joaninos: trevas/luz, morte/vida, etc...

Logo no início, aquela liturgia da luz emociona. Ver, aos poucos, o mar de luzes que se vai estendendo e difundindo, vemos aquela 'coluna de cera' que se encaminha para o altar e que à sua passagem é impossível ficar indiferente, porque aquela Luz ilumina e irradia a esperança de que não há trevas que possam ocultar a Luz que brota de Cristo.

Um outro momento são as leituras, o recordar que Deus, apesar da infidelidade do Povo, continuou presente na história. Recordar a nossa História da Salvação é unir a Igreja que peregrina na terra, com os irmãos e irmãs que contemplam já a glória de Deus. Dizia o Abade Benedictino Anselm Grün: «A Liturgia é o momento em que o Céu toca a Terra e nós nos unimos mais intimamente aos que já gozam da presença de Deus, em plenitude». É aqui que recordamos que o nosso Deus é um Deus dos vivos, porque todos nós estamos vivos n'Ele e Ele em nós! 

Escrevo isto, já em Tempo de Páscoa, porque as coisas boas têm de ser bem digeridas, bem saboreadas, bem assimiladas. Estes dias que estive na minha terra, foi um tempo de férias, de encontros, de conversas, mas sobretudo de descanso e de reflexão nestes mistérios da nossa salvação que fomos recordando ao longo do Tríduo Pascal! 

Seria bom e, por isso, convido-vos a fazer um 'balanço' da Semana Santa e da Páscoa para, também, saborear aquilo que nos ficou destas celebrações, olhando mais ao aspecto interno, pessoal e espiritual... seria um bom exercício! 

«Olhar para o Cristo sofredor só tem sentido se tivermos em vista a Ressurreição»

Pax Christi!

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