«_________, tu amas-me?»

«The Good Sheperd», de J. Richards
Perguntou-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». 
Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». 
Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. 
Em verdade, em verdade te digo: 
Quando eras mais novo, tu mesmo te cingias e andavas por onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás a mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres». 
Jesus disse isto para indicar o género de morte com que Pedro havia de dar glória a Deus.
 Dito isto, acrescentou: «Segue-Me». 

Nós somos pessoas de hábitos, habituamo- nos a isto ou aquilo e pensamos que sabemos de tudo e de todos. Com os textos bíblicos também é assim!!! Uma anedota (bem real, pois eu a presenciei) para ilustrar esta habituação, mas não para copiar:

Uma vez, numa missa, o sacerdote dirigiu-se ao ambão para ler o Evangelho. Depois do cântico do 'Aleluia', ele enunciou o Evangelho e começou a ler, mas depois da enunciação algo anedótico aconteceu. Depois da habitual saudação, começou e disse: "«Naquele tempo...»! Oh, vocês já sabem qual é o Evangelho, é a Parábola do Filho Pródigo! «Palavra da Salvação».

Isto serve para dizer que nós lemos tantas vezes os textos e habituamo-nos a ler no imediato, limitámo-nos a captar a mensagem imediata dos textos, esquecendo-nos das 'entrelinhas'...

Ora o mesmo sucede comigo... o texto é conhecido, sabemos o que dele resulta, é utilizado para muitas circunstâncias, ligadas com relatos vocacionais, etc etc etc. 

Quando estava a fazer a minha 'Lectio Divina' sobre os textos deste Domingo, tentei ler as entrelinhas e ir um pouco atrás, recordando a história de Pedro.

Jesus chamou-o, juntamente com o seu irmão André, foi o primeiro a ser chamado e o primeiro a dar uma resposta silenciosa: 'Eles, então, deixando as redes, seguiram-n'O' (cfr. Mt. 4, 20). Foi vivendo num zelo tão grande ao ponto de ser o primeiro dos apóstolos. Se reparar-mos bem, Pedro é uma espécie de porta-voz dos apóstolos, pois os Evangelhos referem sempre: «Pedro, tomando a palavra»; «Pedro, adiantando-se, disse». Mas, aproximando-nos um pouco mais do fim do Evangelho de São João, vemos que Pedro ocupa o primeiro lugar dos personagens secundários da Paixão, pois é ele a quem Jesus lava os pés. 

No mesmo capítulo 13 de São João, Pedro quer oferecer-se para seguir Jesus e por Ele dar a vida, mas Jesus parece que o desanima e anuncia-lhe o relato da negação (não gosto de dizer traição), deixando-o desanimado, pois nunca mais Pedro fala com Jesus, mas quem lhe fala é Tomé e Filipe. Só volta a aparecer no capítulo 21 do mesmo Evangelho, mas não fala! Parece que aquilo que Jesus anunciou o deixou mudo, pensativo, pesaroso. Aqui, Pedro parece querer demonstrar a Jesus que daria a vida por Ele, que usaria de todos os meios, até a força e a espada para garantir que não o negaria. E continua em silêncio... até que O nega, por três vezes, tal e qual como Jesus tinha anunciado. 

É aqui que Pedro desaparece. Tal peso devia ser naquela alma, naquela consciência de que o seu Mestre estava a ser maltratado e ele, por vergonha ou por medo, O nega, não uma, mas três vezes!
E acabam as notícias de São Pedro, o Evangelho não nos dá nenhuma informação mais.. que é feito de Pedro? O que deveria passar na sua alma? Se fosse nos nossos tempos, diziam que Pedro estaria com uma depressão. 

Volta a aparecer no capítulo 21, incrédulo por terem 'roubado' o corpo do Senhor e, ao contrário do outro discípulo que 'viu e acreditou', Pedro, voltou para casa. Talvez a esperança de pedir perdão a Jesus pelas negações, tivesse desaparecido, pois Jesus já não estava ali, nem o corpo. Aquela tão grande tristeza não dava para entender que Jesus tinha ressuscitado, era como que uma barreira para ver Jesus.

É então que o próprio Jesus se manifesta, é então que Jesus toca o coração de Pedro e faz-lhe uma pergunta, que talvez já lhe tivesse feito ainda antes da sua Paixão, e é esta pergunta que faz com que Pedro o reconheça e lhe peça perdão do seu acto. Mas não o faz com um pedido de desculpas qualquer, fá-lo com uma resposta de amor: 'Sim, Senhor, tu sabes que Te amo'. 

Jesus não perguntou: 'Olha lá, porque é que tu me negaste?'. Jesus não faz uma inquisição, Jesus não abre um processo, Jesus não castiga... Jesus ama! É assim que Jesus perdoa: abraçando-nos, amando-nos, querendo-nos ver felizes! É assim que Jesus nos quer. 

E Jesus explica-lhe qual a sua missão: não ir por onde ele quer ir, mas ir por onde o plano de Deus o levar, mesmo que esse plano implique a morte, implique o sofrimento. Aceitando as exigências desta missão, Jesus diz-lhe: 'Segue-me!'. 

Claro que, a história de Pedro não termina aqui e que, nos versículos seguintes do Evangelho de João, podemos ver um bocadinho invejoso, com ciumes do discípulo amado, mas a história de Pedro é também a nossa história. 

Dizia um jesuíta, num livro, que 'na vida espiritual não há linhas rectas'. De facto, nós andamos em caminho, desviamo-nos do caminho do Senhor. Também, como Pedro, chegamos a negar Jesus, chegamos a ter vergonha de ser seus discípulos, chegamos a pensar que Ele não nos acompanha, que Ele não responde aos nossos pedidos e lamentações, experimentando, tantas vezes, aquilo a que na vida espiritual chamamos 'o silêncio de Deus'. Afinal, não somos diferentes de Pedro...

Experimentamos, na nossa vida, a desilusão, o cansaço, afastando-nos de Deus e pensando que já não há remédio para nada, isolando-nos, desaparecendo do mundo e da vida das pessoas! Afinal, não somos diferentes de Pedro...

As vezes, vendo Jesus, ressuscitado nos nossos corações, andamos tão apressados e atarefados com as nossas tristezas, com os nossos problemas, com as nossas crises, que nem reconhecemos, nem acreditamos que Jesus prometeu estar presente 'até ao fim dos tempos'! Afinal, não somos diferentes de Pedro...

Mas isto não importa! O mais importante é que Jesus nos pergunta a cada dia: 'Tu amas-Me?', Ele perdoa incessantemente o nosso pecado, as nossas infidelidades, os nossos fracassos e defeitos, porque o Seu amor supera toda a inveja, toda a tristeza, todo o orgulho, todo o desencanto. O Seu amor por nós é tão grande que por nós morreu! Mais, o seu amor por nós é tão grande que ressuscitou para nos poder acompanhar!

Pedro, tu amas-Me?
Maria, tu amas-Me?
Filipe, tu amas-me?
Joana, tu amas-me?
José, tu amas-Me?

E Ele vai continuar a perguntar e a dizer, sempre, em cada dia, em cada momento: «Tu amas-me? Segue-Me!»

Agora é contigo e com Ele. Um frente a frente, um diálogo sincero de um eu para um Tu. Responde-lhe com verdade à pergunta que ele te faz: «______________, tu amas-me?».

Postal oferecido pelas Catequistas de Perosinho
(Eu e o meu Pároco)
Este domingo é um Domingo importante, para mim, porque é o dia das vocações, mas é o dia de eu dar graças a Deus pelo dom da vida que Ele me concedeu e pelo dom da vocação. Agradecer a todos aqueles que, em cada dia, tornam possível a realização da vontade de Deus a meu respeito: o meu Padre Mestre, os meus irmãos dominicanos, a minha família e os meus amigos. São uma força impulsionadora para que cada dia eu possa responder: 'Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo'.

Quero, humildemente, pedir a vossa oração por mim e por todos aqueles que se sentem vocacionados, para que a Igreja possa ter santos ministros e anunciadores do Evangelho (religiosos, religiosas, sacerdotes, leigos...). 

Um bom Domingo do Bom Pastor!

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