Anjos: terríveis ou protectores?

No dia de hoje, a Igreja faz memória dos Anjos da Guarda ou Anjos Custódios, que nos guardam, guiam e orientam no caminho a percorrer. Instalou-se a crença de que os anjos nos acompanham e que cada um tem um anjo da guarda, assim como todas as nações. 

«Angel of Deliverance», J. Richards

A minha avó materna, quando eu dormia em casa dela ensinou-me uma oração para rezar antes de ir dormir. Dizia assim: 


Santo Anjo do Senhor, 
Meu zeloso guardador, 
Se a ti me confiou a piedade divina, 
sempre me rege me guarde me governe e me ilumine.
 Amém. 


Quando fui para a catequese, a minha catequista ensinou-me uma outra, esta mais curta. 

Anjo da Guarda, 
Minha companhia, 
Guardai a minha alma
De noite e de dia!

É assim que entendemos os anjos: aqueles que nos guardam sempre no nosso caminhar e que vão sempre diante de nós para nos defender quando o mal se acerca e, assim, dissipar as trevas e fazer-nos ver a Luz. 

Mas quem são os anjos? Na Bíblia, as aparições dos anjos são sempre coisas terríveis e a sua presença enche de temor dos aqueles que se defrontam com eles. Vejamos:

a) Génesis 19: Na terrível destruição de Sodoma e Gomorra, os anjos aparecem a Lot e são portadores da destruição e do castigo de Deus pela perversão daquela cidade. Lot, com medo, prostrado por terra suplica para que estes não destruam a cidade, em atenção à vida do servo Lot.

b) Génesis 22, 11: «Nesse momento o Anjo do Senhor gritou do céu: "Abraão! Abraão!". "Aqui estou, Senhor!", respondeu ele.» A palavra hebraica para gritar é a mesma que atemorizar.

c) Êxodo 23, 20-21: «Eis que eu envio um anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que te tenho preparado. Guarda-te diante dele e ouve a sua voz. Não o provoques à ira; porque não perdoará a vossa rebeldia; porque o meu nome está nele». 

d) Lucas 1, 26-30: Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: "Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo." Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: "Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus"».

E os exemplos poderiam continuar neste sentido, desde o Génesis ao Apocalipse de S. João. A presença dos anjos são, de facto, algo que perturba, dado que não são seres como nós, mas que constituem uma outra realidade. 

«Angel Conforting». de J. Richards
Etimologicamente, a palavra anjo deriva de três palavras (hebraica, grega e latina) mas que significam o mesmo. Em hebraico מַלְאָךְ (malach), no grego ἄγγελος (angelos), no latim angelus e todas significam mensageiro ou portador de uma mensagem. Os anjos, na Bíblia, para além de sabermos que são presenças terríveis, possuem três características fundamentais: 1) identifica-se como Deus; b) fala como Deus e c) exercita as responsabilidades de Deus.

Só na passagem da Revelação (Bíblia) para a Tradição é que se torna possível a mudança do paradigma angélico e passa-se da presença terrível para uma presença próxima e amorosa. São como que um prolongamento dos cuidados de Deus e, por isso, são entendidos como companheiros de caminho do homem.

São Tomás de Aquino, chamado de Doutor Angélico, na Summa, reserva uma série de questões sobre os anjos e a hierarquia celeste. Para ele, a existência de anjos não se resume a uma mera materialidade, mas sobretudo ao conceito que reside no nosso intelecto. Para S. Tomás,  a existência dos anjos é um artigo de fé, mas nem por isso a razão se exime de investigar como uma substância separada não pode ter existido desde sempre, ainda que ela seja espiritual e possua, mediante suas faculdades, poderes que excedam a capacidade intelectual humana. Mais, Tomás defende a eternidade dos anjos por participação e não por natureza e, por isso, o anjo não pertence e nem se limita ao tempo, mas pode actuar no tempo em virtude da sua operação em relação ao homem. 

De qualquer modo, os anjos são criaturas que não pertencem à humanidade mas que se juntam a ela para serem sua protecção e guia, mesmo que não os vejamos ou os interpretemos à luz das nossas imagens e antropomorfismos. 

Assim, os anjos são mensageiros de Deus e guardadores dos homens e, por isso, a sua presença não só ajudam à vida das pessoas, como também nos dão conforto e alento para o caminho. 

Por fim, neste dia dos anjos, recordar que o Papa Francisco pediu a todo o Povo de Deus que, durante este mês de Outubro rezássemos quotidianamente o Rosário, rezando também a oração a S. Miguel para que defenda a Igreja dos ataques do mal. 

Quem ainda não começou esta onda de oração, pode fazê-lo hoje e tendo por intercessão os Santos Anjos da Guarda. 

Pax Christi!

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