Perosinho: os primeiros habitantes
Em 1920, o Padre José Ribeiro de Araújo, natural de Perosinho e pároco de S. João de Ovar, obteve por parte do Bispo do Porto o imprimatur de um pequeno livro intitulado Perosinho. Apontamentos para a sua Monografia. Neste livro, o Padre José Ribeiro de Araújo que, como ele mesmo afirma, não tem «a louca pretensão de apresentar um trabalho de escritor, nem a ousadia de inculcar o meu labor como uma obra de folego, um trabalho científico e literário», acaba por ser uma obra de referência a nível histórico, antropológico e até mesmo religioso.
Andando eu a investigar coisas sobre a devoção e festa a Nossa Senhora do Carmo nesta freguesia,(que terei a grande honra de pregar este ano, apesar das circunstâncias), encontrei alguns factos que achei que deveria partilhar, não só para os meus conterrâneos perosinhenses, mas também com todos. Sobretudo aquela célebre pergunta que me costumam fazer: «Perosinho vem de Perú?» e à qual respondo sempre: «Não, Perosinho vem de pedra». Assim, aqui ficam algumas notas sobre a sua origem.
Segundo o padre e historiador já referido, Perosinho começa a ser habitado pela raça humana muitos séculos antes de Cristo, tal como revelam as escavações arqueológicas ao redor do Monte Murado. Talvez se possa avançar que os primeiros habitantes da região foram os Celtiberos, já que em S. Félix da Marinha se encontra uma mamoa daquela época.
Fixemo-nos, agora, no Monte Murado (actualmente é o Monte da Senhora da Saúde). É neste monte que foram encontrados a maior parte de objectos pré-históricos, na vertente ocidental, pertencentes à idade da pedra, tal como atesta, também, o historiador José Fortes na sua obra Mea Villa de Gaia. Neste monte existiu, também, um castelo ou uma atalaia, como de um ponto de vigia se tratasse, tal como atestam as Chronicas do Mosteiro de Grijó, conservadas na Biblioteca de Coimbra, que se referem ao local como «subtus castrum petrosum». Estas edificações datam de tempos pré-históricos e são anteriores ao domínio romano, que se referiam a eles como «construções peninsulares que algumas tribos construíam em cima dos montes». É neste enquadramento que se insere o Castro do Monte Murado, que agora é um dos santuários marianos mais conhecidos no Concelho e até no Distrito.
Troço da Via Militar Romana (actual Rua Bela Vista) |
Por mais de 600 anos, a Península Ibérica esteve dominada pelos Romanos, a região passou a ser uma província do Império Romano (entre 206 a.C. e 409 d.C.). Ao tempo da conquista, a Lusitania era habitada por povos muito diferentes e autónomos, que despoletou inúmeras e cruentas lutas. Na época de paz que se lhe seguiu, foram construídas uma rede de estradas, a mais conhecida é a «via militar romana», que ligava Lisboa a Braga. Em Perosinho atravessava o Monte Murado, descendo até aos actuais lugares de Brantães, Crasto Muar, Quinta e subindo pela serra de Negrelos até à Senhora do Monte e daí seguia para o Gaia. É possível ver alguns vestígios desta calçada na actual Rua Alzira Pacheco e na rua da Bela Vista, que é, também, uma parte do Caminho de Santiago.
Também, pelo território que Perosinho hoje compreende, passou a invasão e a influência do domínio árabe e disso nos dá conta o Elucidário, do Mosteiro de Grijó, quando se refere a uma doação no século XII: «No ano de 1148 Tructezindo Mendes doou a Grijó o que tinha em Brantães e em S. Félix: Subter illam Stratam Mouricam, discurrente rivulo cerzedo». Isto mesmo confirma Viterbo. Esta estrada mourisca a que se refere o documento é a que liga o lugar de Grijó à estrada militar romana e, por isso, segundo a tradição oral, os perosinhenses chamam «mouriscos» a todos os monumentos antigos, sejam de que época forem.
Núcleo arqueológico do Monte Murado |
Alguns documentos, sobretudo religiosos, fama já da Idade Média e dizem respeito à fixação dos monges beneditinos que ocuparam, em tempos, o Mosteiro de Pedroso. Estes habitantes do referido mosteiro eram procedentes do Mosteiro de Lorvão e que foram despejados pelo facto do Rei D. Afonso II o ter doado às suas irmãs D. Teresa e D. Sancha, por volta do ano 1200. Foi nesta altura que os monges acabaram por ordenar a destruição das fortalezas e vestígios do Monte Murado, ficando apenas aquele pequeno núcleo arqueológico que se encontra entre a Capela de Nossa Senhora do Pilar (ou de Crasto) e o Monte Murado.
Daí aos nossos dias, sempre houve habitantes nesta região, ainda que, na altura não houvesse a denominação Perosinho. Continuaremos estas investigações e publicações.
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