Deus não desiste de nós

«Quem és tu, Senhor?»
«De onde lhe vem tudo isto?
Não é Ele o filho do carpinteiro?»

Conversión de San Pablo, de Murillo
Um dos meus professores de Sagrada Escritura disse no início do semestre que quem encontrasse a maçã do pecado original e o cavalo de onde caiu São Paulo, ele mesmo pagaria um jantar. Obviamente que nunca pagou! Porque, mais importante que saber se Paulo caiu ou não do cabalo, é saber que Deus não desiste de quem ama e escolhe aqueles que acha convenientes para a missão de anunciar o Evangelho. Foi assim com Paulo, foi assim com José, foi assim com cada um de nós! Escolhe-nos e chama-nos para o seu trabalho e associa-nos à sua missão. 

Certamente que, ao tempo de Jesus, haveria gente mais bem preparada, mas Deus escolheu aqueles dois homens: Saulo de Tarso, «perseguidor» e «judeu zeloso» para ser Apóstolo de Cristo e José, «homem bom e justo» para ser o pai de Jesus. 

Lucas narra três vezes, nos Actos dos Apóstolos, a conversão de São Paulo para chamar à atenção de como este encontro com Deus muda tudo, desconstrói tudo e, a partir daí é necessário começar de novo, com mentalidade renovada e com Deus na sua vida. E todo este relato se constrói com uma pergunta: «Quem és Tu, Senhor?».

Sim, quem és Tu, Senhor, que escolhes alguém que tanto mal fez aos teus discípulos? Quem és Tu, Senhor, que o envolves em Luz? Quem és Tu, Senhor, que lhe provocas a cegueira, apagas a cegueira interior e o fazes ressuscitar para uma nova realidade? Quem és Tu, Senhor?

E mesmo nós poderíamos questionar: Quem és Tu, Senhor, que olhas para mim apesar da minha pequenez? Quem és Tu, Senhor, que, apesar dos meus defeitos e limites, me amas tal como sou?

E Jesus responde-nos: «Eu Sou Jesus a quem tu persegues». Sim, perseguimos Jesus com os nossos egoísmos, com os nossos ídolos, com a sede de poder, com a sede de dominar, de querer prestígio e fama...

Mas, Deus não desiste de nós! Deus não desiste daqueles a quem ama. Aliás, são escolhidos por Deus aqueles que são fracos aos olhos do Mundo e é São Paulo quem o diz: «Quando me sinto fraco, então é que sou forte».

Um outro homem foi escolhido por Deus para ser na terra aquilo que Deus é no Céu: Pai! Os evangelhos apócrifos narram a infância de Jesus ao lado de seu pai e sua mãe, naquela oficina de Nazaré, onde Jesus aprendeu o seu ofício. Mas foi mais que isso! Para além da arte da carpintaria, Jesus aprendeu de São José a arte da bondade e da justiça, pois Ele é o Justo!

Os seus contemporâneos, cegos, ficaram admirados de onde lhe vinha toda aquela sabedoria e até questionam: «Não é Ele o filho do carpinteiro?». Jesus, vendo-se na pela dos antigos profetas de Israel, responde-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua própria terra». E porquê? Porque nos custa sermos contrariados pelos nossos semelhantes, porque nos custa ouvir as verdades, porque achamos que mais ninguém tem autoridade sobre a nossa vida, a não sermos nós próprios. E lá esta: Mais uma vez somos perseguidores de Jesus com tudo aquilo que nos afasta d'Ele.

Queridos irmãos,
A conversão de Paulo, para além do acontecimento extraordinário, de nada valeria se, em cada dia, não houvesse o encontro diário com este Cristo Pascal. É este Cristo que nos ilumina e nos faz perceber que a missão não é nossa, o brilho não é nosso, mas d'Aquele que nunca desiste de nós.

Aprendemos de São José a humildade, a bondade e a justiça para que, também nós, de perseguidores passemos a ser perseguidos pelo Amor de Deus e de pecadores passemos a convertidos. Numa palavra: passemos da morte à ressurreição.

Comentários

  1. "Deus não desiste de nós". É esta certeza que nos faz continuar mesmo quando tudo parece incerto e difícil. Ele continua a Amar-nos e a dizer aqui estou

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