Capacitados ou Escolhidos?
Hoje, a Igreja celebra a festa de São Matias, Apóstolo e Mártir. Ocupou o lugar de Judas Iscariotes, restabelecendo, assim, o número doze, que é um número simbólico, pois doze eram o número das tribos de Israel.
Da vida de São Matias, sabemos muito pouco, visto que só aparece no relato da eleição, nos Actos dos Apóstolos. Sabe-se, a partir de tal trecho bíblico, que terá sido um dos que seguiu Jesus desde o começo - provavelmente um dos 72 discípulos - e que foi testemunha da Ressurreição de Cristo.
A palavra apóstolo advém do termo grego Απόστολος (Apóstolos) e que significa «aquele que é enviado», «o embaixador», «o que representa». Nesta lógica, apóstolo significa aquele que é enviado a ser representante de Cristo.
É Cristo quem envia os seus apóstolos a ensinar, a baptizar e a anunciar por todo o Mundo a sua mensagem e o acontecimento salvífico da Ressurreição. Daí que, aquele que tinha de ocupar o lugar de Judas, tinha de ser um homem que tivesse testemunhado a Ressurreição.
Mas, a escolha de ser apóstolo não é uma decisão própria, é por vontade de Deus e pela força o Espírito Santo. Há uma frase que eu gosto particularmente e da qual não sei a autoria, mas que expressa tudo isto. Diz assim: Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.
Ora, isto foi e é muito importante na minha vida. Embora não me sinta capacitado a 100% para a Missão que Jesus me pede, através da Igreja, contudo confio que a graça de Deus me vai capacitando. Pode parecer uma falta de humildade dizer que me sinto escolhido, mas digo, com toda a certeza, de que se Deus me chamou, é porque me quer.
No Evangelho do dia de hoje (João 15,9-17), destaco apenas uma passagem:
É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei.
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos.
Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando.
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai.
Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá.
O que vos mando é que vos ameis uns aos outros»
Jesus é uma pessoa pratica, não dificulta nada, mas simplica-nos muitas coisas. Por exemplo, o único mandamento que ele nos dá, é o mandamento do Amor. Nele está contida toda a lei: quem ama, não mata; quem ama; quem ama, não tem inveja das coisas alheias; quem ama, não difama. Realmente, o Amor é o remédio para muitos problemas e questões da nossa vida.
No fundo, quem ama, dá a vida. Dá a vida pelos seus irmãos, dá a sua vida pela causa do Evangelho, dá a sua vida a Deus e reconhece o dom que é a vida. Todos os dons recebidos, têm de ser entregues e devolvidos, mas com lucro.
Hoje, neste tempo que nos resta para entrarmos já numa outra festa importante para a Igreja, há que pensar:
E Eu? Sou escolhido porque sou capacitado ou sou capacitado por ter sido escolhido?
E não deixemos que a vaidade de ter sido escolhidos nos inunde, mas saibamos manter a vida simples, à semelhança do Mestre.
Um aparte: Hoje, por não ter missa, fui a uma primeira comunhão. Uma celebração simples e bonita e cheia de significado. Mas, no final, depois da comunhão, um menino começou a chorar e o catequista aproximou-se para saber o que se passava. A resposta da criança comoveu-me: «Estou a chorar de alegria!». De facto, quantas vezes nós vamos à comunhão como se fosse um ritual, um gesto social? Temos, verdadeiramente, alegria por receber Jesus?
Pax Christi!
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