Festa na Terra, Vida no Céu

«Abraça, Senhor, na Tua misericórdia, os irmãos e irmãs da minha Ordem
Tu que os escolheste para Te pregarem, consagra-os na Verdade»
(Palavras atribuídas a S. Domingos)

No Credo da Igreja, nós afirmamos que acreditamos na «Comunhão dos Santos, na Ressurreição da Carne e na Vida Eterna». Estes três artigos do Credo, afirmam que quando a vida terrena termina, seguimos para a Vida (Sim, vida com letra maiúscula, porque é a vida em plenitude). 

Hoje a nossa Ordem encontra-se em festa, porque celebramos a Festa de Todos os Santos da Ordem dos Pregadores. E perguntam-me: então, mas no dia 1  de Novembro não celebramos todos os santos, os vossos não se incluem nesse número? Sim, responderei, também entram nesse número admirável. 


Diz a história que São Domingos teve uma visão do Céu, durante a recitação de Completas. Apareceu Jesus e Maria e, ao seu redor, muitos santos de muitas Ordens Religiosas, excepto da Ordem dos Pregadores. São Domingos entristeceu-se. Jesus dirigiu-lhe a palavra e disse: «Porque estás tão triste?». São Domingos retorquiu: «Vejo tantos irmãos e irmãs de tantas Ordens, mas não vejo nenhum da minha». Então, olhando para Maria, fez-lhe sinal e as duas senhoras que a acompanhavam abriram o manto e, debaixo dele estavam os santos da Ordem. Jesus acrescentou: «Não fiques triste. Os teus filhos entreguei-os ao cuidado da minha mãe». 

Esta história cabe mais na festa do Patrocínio de Nossa Senhora sobre a Ordem, mas é o reflexo de tantos irmãos e irmãs que já nasceram para o Céu e que, agora intercedem por nós que aqui andamos. São esses santos anónimos que, dentro da Ordem, viveram santamente e que não tiveram um dia certo para a sua celebração, nem entraram no calendário oficial. 

Esses irmãos e irmãs que já partiram antes de nós e que estão já a interceder por nós e que, de um modo ou de outro temos devoção. Então, já faz sentido recordarmos Todos os Santos da Ordem para que, junto do Cordeiro que já contemplam, possam interceder por nós, que ainda não o vemos. A isto chamamos, na Escatologia, a dicotomia do Já e do Ainda-não.

É por eles que já contemplamos o Cordeiro, mas ainda não completamente; temos já uma ideia da felicidade plena (santidade), mas ainda não a podemos viver na plenitude; vivemos já com Deus, mas ainda não plenamente... e assim por diante!

São Domingos estava para morrer e os freis que o rodeavam começaram a chorar. São Domingos alentava-os, dizendo: «Não choreis, ser-vos-ei mais útil no Céu». 

Deus, Pai de Misericórdia,
concede-nos, por intercessão de todos os santos da nossa família, 
que possamos experimentar-te e seguir-te, 
consagra-nos na Verdade, 
para que, animados pelo seu exemplo, 
possamos ser Pregadores da Verdade
e, ao terminar a nossa peregrinação na Terra, 
possamos ir ao teu encontro.

Que os seus exemplos nos inspirem...

Pax Christi!

(A propósito das palavras de São Domingos, os nossos irmãos da Província de França, escreveram e compuseram um hino com as suas palavras. Estreou-se na peregrinação em que participei, no passado Julho. Está em francês, mas vale a pena ouvir... )




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