Recordar é...
Hoje, como o tempo aqui por Lisboa estava fosco, fiquei pelo Convento e deu-me para revisitar alguns momentos da minha vida, sobretudo os da minha infância.
Diz a canção «que recordar é viver», outros dizem que é uma perda de tempo, outros dizem, ainda, que é uma coisa depressiva. Eu, em particular, acho que recordar faz bem, faz bem revisitar alguns momentos da nossa vida e ver o quanto crescemos e o quanto mudamos.
Hoje, foi a Primeira Comunhão na minha terra e recebi, via Facebook (já que hoje é o dia das Comunicações Sociais), uma fotografia da celebração. Imediatamente recuei a 14 de Junho de 2001, dia da minha Primeira Comunhão.
Enfim, acabei por recriar aquele dia na minha cabeça e as pessoas que dele fizeram parte, ainda que algumas já partiram.
Os dias de comunhão foram sempre dias de festa na minha terra, de procissão e de bom comer. Infelizmente, os tempos mudaram e já não se celebra com tanto afinco e devoção estes dias.
Aqui fica uma espécie de crónica deste dia, que acompanho com uma Marcha de Procissão, própria destes momentos:
Pelas 9h30, reunimos todos no Solar da Quinta da Pena, para as tradicionais fotografias, indicações finais e cortejo para a igreja.
Entretanto, enquanto nos organizávamos, os sinos tocavam a festa como que a anunciar a alegria daqueles que iam receber, pela primeira vez, o Corpo de Jesus.
Ali estávamos, na conversa até chegar o sr. Padre. Depois começava-se a organizar a procissão e preocupados procurávamos encontrar o nosso par.
Por volta das 10h00, saíamos do Solar em direcção à igreja, com muita gente nas ruas para verem passar os 'comungantes' e, se nos conheciam, lá vinham dar beijinhos. E os sinos tocavam...
E lá íamos nós, com a nossa roupa nova, prontos para a Comunhão... e eis que chegávamos à porta da Igreja que estava fechada, com algumas flores à porta, como que a anunciar que algo de importante se iria passar (os tapetes de flores são tradição na minha terra). Enquanto as catequistas nos davam as últimas informações, os pais entravam pelas portas laterais e acomodavam-se.
Depois, abriam-se as portas, com uma igreja cheia com as famílias, lá entrávamos, cheios de orgulho, enquanto o coro cantava. Chegávamos ao lugar, fazendo sempre 'figurinhas', pois tanto tínhamos ensaiado, mas saía sempre diferente no momento.
Nervosos, sempre, atentos e ao mesmo tempo distraídos. Fazíamos a primeira comunhão, mas apenas no Domingo seguinte é tomávamos consciência de que tínhamos comungado, dado que estávamos mais preocupados com o momento certo para ir ler ou para fazer isto ou aquilo. Não digo que esteja mal, mas é a pura realidade...
Depois da Comunhão, recebíamos a 'benção' dos pais e familiares. Mais um momento de inquietação: estávamos sempre a espreitar a ver se víamos alguém da nossa família. E eis que surgiam os nossos pais. A mãe trazia uma flor que nos dava nesse momento que, no meu caso, era um 'anthurium' branco com algumas espigas.
Antes de sairmos da igreja passávamos no altar de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da Paróquia, e ali depositávamos a flor. Um de cada vez, ligeiramente inclinados para que ficássemos bem na fotografia. Mais uma vez não tínhamos noção do gesto.
De seguida, íamos para a escadaria da igreja para tirar a foto de grupo. Em seguida, mais um momento de fotografias, desta vez num espaço diferente e com os que se tinham atrasado para a celebração. Os sinos tocavam novamente, anunciando a festa. Em seguida, lá íamos para os carros e nos encaminhávamos para o almoço de família.
Como disse, acho que naquele dia não tomei consciência da importância do que recebi, do que fiz... Só, quando, no Domingo seguinte a Catequista nos encaminhou para a fila da comunhão é que terei tomado consciência deste grande passo na fé, de querer ser 'templo de Deus', como diz S. Paulo.
São estes pequenos momentos que nos fazem crescer na fé. Por isso, rezemos pelas crianças (adultos também), que fazem as suas primeiras comunhões para que sintam alegria em serem 'templos' e sejam verdadeiras anunciadoras de Cristo, sendo apóstolos das outras crianças e jovens...
E nós, os mais crescidos, não sejamos como os homens da Galileia a olhar para o Céu, mas que sejamos continuadores e anunciadores do Evangelho...
Pax Christi!
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