Rabi, onde moras?


«Fishers» | J. Richards

Ραβί, πού ζεις;
Ελάτε να δείτε!

Rabí, onde moras?
Vinde e vede!

Somos confrontados, neste Domingo II do Tempo Comum, com dois relatos que nos falam do seguimento e vocação: o primeiro é o famoso episódio de Samuel e o segundo refere-se aos discípulos de Jesus. 

Ainda na senda do Baptismo de Jesus, aparece-nos a figura de João Baptista, como personagem de transição para a pessoa mesma de Jesus, o «Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo». Há uma grande relação entre o Baptismo de Jesus e a Paixão de Jesus. São Tomás de Aquino refere, na sua Summa Theologia, que todos os sacramentos procedem da Cruz, sendo a Paixão de Cristo origem e fundamento de todos os sacramentos. Assim, este «Cordeiro de Deus» alude ao Cordeiro pascal de Êxodo 12. O reconhecimento que João faz é escatológico e soteriológico, pois refere-se à missão de Jesus, que veio para redimir e salvar o Homem.

Mas, voltando aos relatos da vocação:

Em primeiro lugar, temos o relato de Samuel que não reconhece a voz do Senhor, apesar de viver no seu Templo. Por outro lado, os discípulos necessitam, também, de um interprete para perceber quem é Jesus. Em ambos relatos há a necessidade de intermediários para que se reconheça a voz e a pessoa que chama. 

Em Samuel, a resposta é simples porque ditada pelo sacerdote Heli: «Falai, Senhor, que o vosso servo escuta!». No Evangelho, a reposta é dada em forma de pergunta: «Rabi, onde moras?». Há a necessidade de dar uma resposta ao chamamento; não se pode ficar calado! Tanto Samuel como os discípulos tiveram dúvidas, questões, receios, medos, mas nem por isso ficaram calados. 

Depois, tanto um relato como o outro falam do estar e permanecer. No episódio de Samuel: «o Senhor estava com ele» e, no relato evangélico: «Eles foram ver onde morava e ficaram com Ele nesse dia». Há, por isso, a necessidade de ir e ficar, pois não podemos conhecer algo se não a experimentamos na vida; não podemos experimentar Jesus, se não formos e permanecermos com Ele. É na experiência prática da vida que podemos conhecer melhor Aquele que nos chama. 

Por conseguinte, há a necessidade de testemunhar, pois não podemos calar, abafar e esconder a alegria desta vocação. Samuel profetizava e diz o texto que, «nenhuma das suas palavras deixou de cumprir-se»; os discípulos, na pessoa de André, foram comunicar aos outros, simbolicamente representado por Pedro: «Encontrámos o Messias». 

Por fim, há a necessidade de levar os outros à presença de Cristo. A vocação que Deus nos dá não é para «engorda pessoas», mas para ajudar ao cumprimento do Reino de Deus. Por isso, a nossa tarefa é a de levar os outros à presença de Deus, sobretudo aqueles que estão mais afastados. Daí que André tenha levado o seu irmão Simão à presença de Jesus. 

Aqui estão as necessidades circulares da vocação: os que foram chamados, tornam-se intermediários para os que Deus chama no momento e, respondendo ao Seu apelo, vão e permanecem com Cristo, testemunhando-O com a sua vida e, assim, levam os outros à Sua presença. 

A vocação é algo complexo. Por muito que a tentemos explicar, não há uma maneira objectiva de expôr em palavras a revolução que se opera em nós. Falamos do exterior, do contexto, das circunstâncias, mas é-nos difícil falar da efervescência interior. 

Quando pensamos a nossa própria vocação, encontramo-nos e deparamo-nos sempre com uma grande questão: «Com tantas pessoas mais santas que eu, porque é que Deus me escolheu?». Pois é, Simão Pedro não foi o primeiro a ser chamado e não foi por isso que se tornou o primeiro dos discípulos a professar a fé em Cristo. Se ele era perfeito? Não, até porque acabou por negar Jesus. Deus não escolhe os perfeitos, mas escolhe o imperfeito para o modelar e transformar com paciência, carinho, ternura e dedicação. 

Mas, ainda assim, há alguém que se considere perfeito? 

Saibamos corresponder a estas necessidades da vocação com serenidade, acolhendo dia-a-dia o projecto de Deus a nosso respeito. E, em momentos de dúvida, saibamos perguntar a Jesus: «Rabí, onde moras?», porque a sua resposta será sempre: «Vem e vê!». 

Pax Christi!

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