Revolucionário pela Fé

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 
«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; 
não vim revogar, mas completar.
Em verdade vos digo: 
Antes que passem o céu e a terra, não passará da Lei a mais pequena letra
 ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. 
Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, 
por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, 
será o menor no reino dos Céus. 
Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus».

Muitas vezes e face a alguns episódios bíblicos, habituamo-nos a ver a Jesus como um revolucionário, como um «desertor» da lei de Israel (curas em sábado, expulsão dos vendilhões do Templo), como um verdadeiro 'refilão'. Ora, Jesus, neste trecho, vem explicar a sua atitude... 

Jesus diz que as suas atitudes não vão contra a lei, mas querem completar a lei. Não basta cumprir todos os mandamentos, todas as prescrições, todas as rúbricas, mas é preciso entendê-las, é preciso vivê-las e encontrar nelas o sentido próprio da nossa existência. 

Muitas vezes, as leis, cuja função devia ser regular e ajudar a vida do povo, são mais um fardo pesado e são convertidas em burocracias. Por isso, Jesus completa a lei. 

Completa a lei com a sua própria vida, vivendo-a, mas não se conformando com as injustiças que essas leis comportam. Completa a lei ao colocar-se ao lado dos que levam pesados fardos, daqueles que pagavam o pesado tributo, ainda que, por ser Filho de Deus, estivesse dispensado de tais coisas.

Por isso, Jesus era um revolucionário (vocábulo proveniente da palavra evolução), mas nem tanto. Jesus faz evoluir a lei, faz com que a lei seja manifestada na sua própria vida e passagem pela terra. 

É um apelo claro a pensar nas leis que temos e que nos regem. Somos revolucionários, apenas porque sim? Ou procuramos, na revolução, fazer com que a lei evolua e se transforme em normas de justiça, de equidade, de fidelidade uns aos outros, respeitando o nosso lugar na sociedade, no mundo, na Igreja? O que eu acho pior nisto tudo de revoluções e revolucionários é o facto de se adoptar a política do «estar contra», sem motivo, sem fundamento! Apenas estar contra, ou melhor, ser do contra...

Por isso, e para ser um «revolucionário», vou aqui comentar o cartaz do Bloco de Esquerda. Foi, claramente, uma estratégia que lhe correu mal, um erro que só lhes ficou mal, mas eu vejo o lado positivo disto! O Bloco, confessando ser ateu, foi capaz de trazer para a praça pública um tema eclesial, com o motivo errado, com um fim errado, mas que deu que falar! Ao usar tal publicidade, o BE não só torna falsa uma verdade, mas perde a credibilidade e desautoriza-se!

Vimos gente de todos os partidos, religiões, sexos, condições sociais e estados civis a manifestarem-se.

Aspecto aéreo da Celebração em que participaram, num
novo recorde, 6 milhões de fiéis, nas Filipinas
O Papa Francisco veio demonstrar o contrário do que Bento XVI tinha escrito («Estamos perante um fenómeno social e eclesial em que a Igreja passou de um ambiente de massas, a pequenas comunidades de fiéis crente»). O Papa Francisco mostrou que é possível uma Igreja nova, moderna, capaz de entender os problemas do seu tempo e de (re)evolucionar-se. Tanto é que a participação nos encontros com o Papa nas suas viagens apostólicas têm batido recordes, pois milhões de fiéis saem à rua, sem medo, a proclamar a sua Fé. Não estávamos habituados, desde João Paulo II a ter uma igreja de massa, que se manifesta sem medo, onde quer que seja e como seja. Francisco vem dizer que é possível a Igreja mostrar-se ao mundo, jovem e alegre, comprometida e fiel. 

Por isso, o Bloco ajudou a que a temática religiosa fosse, de novo, discutida em praça pública. Nestes dias, tenho lido as reflexões nas redes sociais sobre este assunto, mas só cabe dizer que o Bloco fracassou na sua campanha, mas brilhou por trazer estes assuntos à praça pública, à consciência de crentes e não-crentes. Sim, porque toda a pessoa que procura a verdade (crente ou não) sabe que «Jesus sempre se referiu a Deus “como Seu Pai”, tinha uma mãe, Maria, e um pai adoptivo, na “terminologia actual”, que era José.» (Cito D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa)

Com humor, disse um confrade: «Pior do que disse o Bloco de Esquerda, naquele cartas, foi ter posto aquela imagem!»

Toda a revolução tem que ter em vista a evolução (re+evolução), pois senão mais valia ficar como se está, acomodados, num regime que mata, que pressiona e restringe... Sejamos radicais, sejamos revolucionários mas em função de uma evolução e não de uma crítica simplicista e feroz que nada constrói, mas que destrói. Falo do cartaz do Bloco de Esquerda, mas podia falar na Eutanásia, no Aborto, etc... Não é uma evolução, mas um regredir aos tempos escuros da nossa história em que se eliminava quem não era útil à sociedade. Mas a questão que se põe é: «Queremos evoluir para uma sociedade justa ou regredir para o passado e cair nos mesmos erros?»...

Completemos a lei com a nossa vida...

Pensemos sobre isto!

Pax Christi!

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