Dimensões

Geralmente, quando olhamos a vida, fazê-mo-lo em diferentes perspectivas ou dimensões. Pessoalmente, gosto mais do vocábulo dimensões, mas isso sou eu...

Partilho convosco as dimensões que me têm acompanhado estes últimos tempos. E não, não deixei de fazer publicações, mas há dias e tempos assim mesmo... de retiro, de afastamento parcial das actividades normais, para viver outras que se impõem.

A primeira é a dimensão do estudo e trabalho. Gosto, no geral, de organizar o meu estudo e o meu trabalho para poder libertar-me dos trabalhos de última hora, do corre-corre por causa dos prazos. Então, tenho-me dedicado a isto para organizar-me e também para não ter preocupações excessivas.

Depois, acompanha-me a dimensão comunitária. Como sabem, vivo num convento com mais irmãos. Depois do incêndio, procuro estar mais disponível e atento se é preciso isto ou aquilo da minha parte.

Uma terceira dimensão é a vida espiritual. De facto, quem não cuida desta dimensão, está tramado. É nos tempos mais dificeis que mais precisamos deste elemento. Ainda que, por vezes, estes momentos nos levem a um afastamento da oração... mas não interessa isto. Isto para dizer que, nestes dias, tenho-me tentado dedicar ao diálogo com Deus, feito leituras mais 'piedosas', mais de carácter espiritual, para contrabalançar com o académico.

Uma outra dimensão é a dimensão humana. Como me tenho desligado da Internet, obrigo as pessoas a mandar emails e não aquelas mensagens instantâneas e quase imediatas que trocamos nas redes sociais. E que bem sabem...

Como algumas mensagens têm sido importantes e de grande peso para mim, partilho uma que me tocou... É de um senhor amigo, professor de Literaturas e já com alguma idade - e sabedoria, claro está - não digo nomes, mas que para mim teve grande importância:

《Meu preclaro amigo,
Lembro-me de uma aula em especial. Uma aula em que estava um rapaz ao fundo da sala, um ar sério, calmo, mas ao mesmo tempo desafiador. Não constava da lista, não tinha acesso a dados, mas percebi que estava um rapaz ali. Ali, a olhar-me, atento, sério, mas desafiador, como já lhe disse!
Eu que não gosto de imprevistos e surpresas, fui surprendido. Comecei a aula, apontei a página e lemos o texto! Era um texto de Gil Vicente. No final, entre os 25 alunos, escolhi aquele que não fazia parte da lista. 'Que lhe diz o texto?', perguntei. Ele disse: 'Não sei, o que lhe diz a si?'. Foi a primeira vez que um aluno me respondeu com uma pergunta. Passei a outro aluno. Prossegui a aula.
Sim, meu preclaro amigo, era você. Fez-me pensar, reler, meditar. Não gostei de si, da sua atitude porque me questionar, mas gostei de si por me desafiar.
[...]
Só o mês passado é que o descobri no Facebook e vi que se tinha tornado frade. Pela primeira vez, apesar de ter sido meu ouvinte um ano, percebi o seu trabalho. Que relação poderia haver entre si, Deus e Soares Passos? Agora percebo.
[...]
Obrigado pelo desafio.》

Para terminar, há uma dimensão que me tem acompanhado ultimamente: a do questionamento. Questionar faz parte da vida. É nesta atitude que nos revemos e crescemos...

Obrigado a todos pelas mensagens, não podia partilhar todas, mas a todos agradeço a estima. Procurarei, à semelhança dos anos anteriores, partilhar pequenas meditações no tempo do Advento que se aproxima...

Pax Christi.

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