Profetas do «Deus que dança»

«Healing», de J. K. Richards

Ontem, num grupo onde estive, um jovem perguntou-me: «Frei, como podemos celebrar o Domingo da Alegria num mundo onde só há tristeza?».

De facto, as nossas notícias não pintam uma realidade muito alegre e, muitas vezes, é mesmo triste ver as nossas notícias: nações separadas, políticas injustas, mortes, assassínios, desastres naturais, desrespeito pela liberdade do outro, etc... Aliás, os nossos jornais já não nos dão boas notícias, alguns até procuram apenas as desgraças do país e do mundo. Assim visto, o nosso mundo é, de facto, uma realidade muito cinzenta e muito triste.

Porém, os cristãos, desde os primeiros séculos, foram sempre muito positivos. Por exemplo, aquele ditado em que se diz «Vamos à vida, que a morte é certa», nos primeiros séculos era dita ao contrário: «Vamos à morte porque a vida é garantida». Tudo depende da nossa visão! Os cristãos são pessoas positivas e optimistas, porque fundam a sua vida n'Aquele que dá a paz, a vida e a alegria, isto é Jesus Cristo. E porquê?

Todas estas situações, aparentemente tristes e desesperantes, para os cristãos não devem ser fatais, porque acreditamos que, para além de tudo, é nessas situações que Deus se manifesta e Jesus aparece como uma chama de salvação. É Ele que nos dá força e coragem para viver no mundo e de caminhar, mesmo que o mundo nos pareça «uma noite escura», para invocar aqui a S. João da Cruz.

É este o apelo que o Profeta Isaías faz na primeira leitura deste Domingo da Alegria, que os exegetas chamam de «Apocalipse de Isaías»:

«Tende coragem, não temais:
Aí está o vosso Deus,
vem para fazer justiça e dar a recompensa.
Ele próprio vem salvar-nos».

Deus está ali, no meio do mundo e é Ele que vem para fazer justiça. Não somos nós que julgaremos o mundo, as atrocidades e as desgraças que nele surgem, mas é Deus quem julga, porque é Justo. A coragem é a palavra de ordem nesta leitura. E, para haver coragem, tem que haver esperança num Deus que vem. Os cristãos não podem ceder à desesperança deste Deus que vem às nossas vidas, às nossas realidades quotidianas e aí nos salva.

É assim que Deus nos quer! Deus quer fazer de nós um povo de profetas, que rumam contra-corrente e olhar o mundo com os olhos de Deus, pois só quem vê o mundo com os olhos de Deus é capaz de ver a esperança, a alegria e a paz, mesmo que a realidade seja outra.

São Tiago, na segunda leitura, apresenta-nos uma outra atitude para o nosso advento, que é a paciência. Deus é um Deus paciente que, como um agricultor, espera que a árvore cresça e, para isso, enche-a de cuidados. É isto que nos diz São Tiago:

«Sede pacientes, vós também,
e fortalecei os vossos corações,
porque a vinda do Senhor está próxima.
Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência
os profetas, que falaram em nome do Senhor».

E, uma vez mais, esta leitura recorda-nos que Deus nos quer fazer profetas da sua mensagem no mundo, para que levemos alegria e esperança àqueles que vivem no desespero, no sofrimento e na tristeza. 

Por fim, o Evangelho recorda-nos o que deve ser um verdadeiro profeta e, para isso, Jesus aponta a vida, o exemplo e elogia o Precursor João Baptista. E coloca-nos a questão: que tipo de profetas queremos ser? Seremos nós coerentes entre o que anunciamos e o que vivemos? Que mensagem levamos aos outros? Nós, para sermos verdadeiros profetas temos de viver isolados do mundo? Temos de realizar milagres?

Que fostes ver então? Um profeta?
Sim – Eu vo-lo digo – e mais que profeta.
É dele que está escrito:
‘Vou enviar à tua frente o meu mensageiro,
para te preparar o caminho’.

A resposta é simples: para sermos verdadeiros profetas, as pessoas têm que ver, na nossa vida e nas nossas palavras, esperança, paz e alegria. Os pobres, os coxos, os cegos e surdos têm que vem em nós sinais de esperança e de alegria, ou melhor, utilizando a expressão do fr. José Augusto Mourão, as pessoas têm que ver em nós o «Deus de festa» e o «Deus que dança». 

E, agora, respondendo à pergunta do jovem: Se a nossa vida for o reflexo deste Deus que é alegria e vida, então podemos celebrar este Domingo da Alegria. Mais, se a nossa vida for configurada neste «Deus de festa», a nossa vida será uma profecia da alegria verdadeira que Jesus traz ao mundo e, por isso, mesmo que o mundo pareça cinzento e triste, nós daremos uma cor diferente, que é a cor de Jesus Cristo, nascido Homem na humildade, na paz e no amor. 

Eis que o tempo está próximo! Que caminho queremos preparar para o Senhor? Que as nossas palavras sejam verdadeiramente uma preparação para a alegria que este Menino Deus traz ao mundo. Aí poderemos celebrar, com verdade, esta alegria plena, que é Jesus.

«O nosso Deus é um Deus de Festa!»

Pax Christi!

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