Perosinho: a igreja paroquial

Em Perosinho, antes da actual igreja paroquial e no lugar dela existiu uma igreja paroquial da qual hoje pouco ou nada existe. Há alguns antigos que dizem que a antiga igreja era apenas a capela mor da actual. Esta hipótese não creio ser verosímil, já que na capela mor da actual igreja não cabiam os cinco altares de que falam os documentos. Apontamos para a sua demolição total e edificação de um novo templo. 

Quanto às razões desta nova edificação, não sabemos muito. o Padre José Ribeiro de Araújo escreve assim a este respeito:

Aí pelos fins do século XVII foi a primitiva igreja demolida ou por ser pequena para a população ou porque já estivesse arruinada, o que é mais certo, pois tinha visto passar sobre ela quase sete séculos. Para a substituir levantou-se no mesmo sítio a actual, que foi inaugurada em 1802, como mostra a data que encima a porta principal.

Da antiga igreja resta a placa de mármore de que já falamos numa das publicações anteriores, a imagem de Nossa Senhora da Purificação (em pedra) e provavelmente um crucifixo em tamanho natural que, no actual, se encontra guardado numa arrecadação da paróquia.

Diz a tradição que a capela mor foi erigida às custas do Mosteiro de Grijó e, por isso, no arco cruzeiro da igreja existe uma datação que não coincide com a que está no exterior. Outro pormenor é que se fala de uma bela talha dourada que no actual templo já não existe mais. 

Na carta-resposta do Pe. João Pinto Barbosa, datada de 24 de Abril de 1758, pode ler-se o seguinte no que toca à igreja paroquial:

Altar mor em 2013

[...] Tem esta igreja cinco altares: o altar mór, em que está o sacrário do Santíssimo Sacramento, de hum e de outro lado Sam Joachim e Santa Anna e no alto da tribuna a imagem do Salvador, o altar colateral da parte do Evangelho tem o Menino Jesus, Nossa Senhora do Pilar, Sam Sebastiam e Sam Caetano.
O altar colateral da parte da epístola he de Nossa Senhora da Purificaçam, e tem mais as imagens de Santo António e Santa Luzia. 
Tem mais no corpo da igreja que he de uma só nave hum altar para a parte do Evangelho em que estam as imagens de Nossa Senhora do Carmo e Sam José, Santa Thereza e Santa Appolonia.
Corresponde a este outro altar da parte da epístola  em que está huma veneranda imagem de hum Senhor Crucificado, tem ao pé da cruz as imagens de Nossa Senhora, Sam Joam Evangelista e Santa Maria Madalena, mas móveis, mas primeiramente instalados no retabolo do mesmo altar; em o arco do retabolo tem pela parte de dentro de hum e outro lado dos Anjos bem proporcionados, cada um em sua peanha com castiçais nas mãos para alumiarem o mesmo Senhor.

Esta é a discrição da primitiva igreja paroquial que, como vemos, tem muito pouco que ver com a actual. Quando, em 1802 foi reedificada a nova igreja, manteve-se a estrutura, ou seja, um templo de uma só nave, mas com algumas diferenças. Ao tempo do Padre Ribeiro de Araújo a descrição era esta:

Tem capella-mór e cinco altares de boa talha dourada; mas algumas das suas imagens não estavam na egreja primitiva que por sua vez tinha tambem algumas que não estão na actual. Esses altares são o altar-mór - com a sua tribuna e tres imagens: a do Senhor Crucificado, em tamanho natural, sobre o throno e as de S. João e N. Senhora aos lados na frente da tribuna. Está aqui o sacrário. Um pouco inferior ao suppedaneo ha dois grandes Serafins, um de cada lado, sobre a sua peanha e com uma tocheira na mão; e sob o arco cruzeiro, aos lados da mesa de comunhão estão outros dois mais pequenos, tendo tambem um castiçal na mão. Eram certamente estes ultimos que estavam no altar do Senhor Crucificado, hoje altar das almas.

Só por aqui vemos que a disposição da igreja que conhecemos hoje mudou e muito e os altares em talha dourada foram substituídos por um altar típico dos finais do século XIX e inícios do século XX: Madeira pintada a branco e azul com pequenos adornos de folha de ouro. Há quem diga que o altar mor era de estilo diferente e que foi unificado com os restantes altares do corpo da igreja, já do século XIX, mesmo que não hajam fontes que sustentem tal afirmação. Quanto aos altares laterais, o Pe. José de Araújo diz:

No corpo da egreja: do lado do Evangelho o altar do Menino Jesus com as imagens de S. Salvador, do Coração de Jesus, de S. Joachim e de Santa Anna; e o de Nossa Senhora do Carmo com as imagens desta Senhora, de S. José, de Santa Thereza e de Santa Appolonia. Do lado da Espístola o altar de Nossa Senhora da Lapa com a sua imagem e as de Nossa Senhora da Purificação (de pedra), de Santo António e do Martyr S. Sebastião; e o das almas com as imagens de Nossa Senhora do Rosário, de Santa Luzia e de S. Caetano. Ainda do mesmo lado direito, em frente ao púlpito, ha um oratório com a imagem de Nossa Senhora da Conceição.

Vemos que esta descrição da igreja e dos seus altares laterais se assemelha muito mais ao que hoje vemos ali. O altar mor é, sem dúvida, uma excepção. Penso que pela descrição, ao instalarem a Confraria das Almas, se transladaram as imagens daquele altar para o retábulo do altar mor e que, ainda hoje, mantém as imagens de Nossa Senhora e de São João. Quanto às outras partes da Igreja diz assim o autor supracitado:

Tem côro, onde existe um pequeno orgão muito antigo, mas regularmente conservado que dizem ter vindo do Mosteiro de Grijó. [...] São ainda dignos de nota nesta egreja os seus quatro confessionários de castanho, em forma de oratório, com o tecto d'abobada, raros de madeira e meia porta na frente, obra evidentemente muito antiga.

O pequeno orgão, infelizmente, já não existe e os confessionários também não. No entanto, parece-me que aquele confessionário que ali existe poderá ser uma obra mais recente.

Aspecto exterior da igreja,
antes das obras do ano 2000

Nos anos 2000 foram empreendidas obras de melhoramento da igreja e algumas coisas foram retiradas, tais como os lugares do coro situados na capela mor e, ainda, os azulejos que ameaçavam ruína. Segundo se sabe, esses azulejos foram estudados pela Universidade, após a sua retirada. Eram pintados com motivos azuis e amarelos e os exteriores apenas em tons azuis com alguns painéis de São Salvador (à esquerda) e de Nossa Senhora do Carmo (à direita). Debaixo da torre havia um outro que me parece dizer respeito a Santo António. Em cada lado de cima da porta, existem dois corações que são os mesmos que aparecem no escudo do Mosteiro de Grijó. Será porque dependia do Mosteiro estes corações?

E como a publicação já vai longa, ficamos por aqui. Amanhã há mais.

N.B: - Penso que algumas imagens deixaram de estar disponíveis nas publicações anteriores. Elas foram tiradas do Google e talvez por causa dos direitos de autor tenham sido retiradas. Peço desculpa.

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