Caminhar com/na LUZ

«Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.»
Perguntaram-lhe, então: «Onde está o teu Pai?» Jesus respondeu: «Não me conheceis a mim, nem ao meu Pai. Se me conhecesseis, conheceríeis também o meu Pai.»
Jesus pronunciou estas palavras junto das caixas das ofertas, quando estava a ensinar no templo. E ninguém o prendeu, porque ainda não tinha chegado a sua hora.

No Evangelho de São João, existem várias utilizações dos opostos, como a de hoje, isto é, a Luz e as Trevas. A mentalidade helénica vai muito ao encontro destes dualismos e maneiras de pensar por opostos, tal como na filosofia. João põe na boca de Jesus estas dialécticas, de modo a que a mensagem do Evangelho possa ser difundida, num processo de inculturação da Palavra. Uma outra temática importante é a hora, o tempo oportuno, o momento certo.

Mas, nestes textos que temos lido de São João, há, claramente, um caminho que nos conduz à Páscoa, há uma espécie de itinerário pascal, no qual Jesus se vai anunciando e deixando conhecer, mas conhecer a Deus tem que passar pelo conhecimento do Seu Filho. Claro está que a nossa tarefa está mais facilitada, pois já conhecemos e aprendemos a conviver com a presença de Jesus, pois por isso somos cristãos. 

Naquele tempo não terá sido assim, até pela carga negativa - digamos assim - que Deus tinha no seio do Povo de Israel. Era um Deus de bondade, porque os tinha feito chegar à Terra da Promessa, mas era um Deus do Terror, o qual havia que temer, que tremer na Sua presença. Jesus vem mostrar que a Deus não há que temer, mas amar!

Assim sendo, já caminhamos, a passos largos, para a glória da Páscoa, este tempo de graça em que nos recordamos o mistério salvífico de Cristo, o Senhor, a Luz do Mundo. 

Esta Luz de Cristo que brilha sobre nós é sinal desta misericórdia, deste não deixar que o ser humano permaneça nas trevas, mas que tenha a Luz, isto é, que (re)conheça a Cristo na sua vida e na sua existência. 

Que Deus nos conceda a graça de nos encaminharmos para a Luz e que Jesus seja o nosso farol, aquele candelabro que brilha no meio de uma rua vazia e escura, no meio da noite da nossa vida. O que nos deve guiar é esta sede de Deus que nos faz ir à procura da fonte, ele mesmo, que se dá gratuitamente.

Para terminar, deixo o comentário de São Clemente de Alexandria, na sua obra 'STROMATAS', que pode ser acompanhada deste «audio»:

Quando Tu, Senhor Jesus, me conduzes à luz, e encontro a Deus graças a Ti, ou recebo de Ti o Pai, torno-me teu co-herdeiro (Rom 8,17), pois não Te envergonhaste de me ter por irmão (Heb 2,11). Acabemos portanto com o esquecimento da verdade, acabemos com a ignorância; e, tendo-se dissipado as trevas que nos envolvem como uma nuvem diante dos olhos, contemplemos o verdadeiro Deus, proclamando: «Salve, luz verdadeira»!».

A luz elevou-se, pois, sobre nós que estávamos mergulhados nas trevas e encerrados na sombra da morte (Lc 1,79), luz mais pura que o sol, e mais bela que esta vida cá de baixo. Esta luz é a vida eterna, e todos os que nela participam estão vivos. A noite evita a luz e, escondendo-se com medo, cede lugar ao dia do Senhor. A luz que não pode ser extinta espalhou-se por toda a Terra e o Ocidente juntou-se ao Oriente. É isto que significa a «nova criação». Com efeito, o sol da justiça (Mal 3,20), que ilumina todas as coisas, resplandece sobre toda a espécie humana, a exemplo de seu Pai, que faz nascer o sol sobre todos os homens (Mt 5,45) e os asperge com o orvalho da verdade.

Pax Christi!


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