Quinta-Feira Santa

A Semana Santa, começada no Domingo de Paixão ou Ramos, é o pórtico de entrada para uma das semanas mais importantes para os cristãos, culminando com o Tríduo Pascal. Ainda não chegaram a um consenso se a Semana Santa ainda faz parte da Quaresma ou se é uma semana à parte. O que é certo é que sabemos que, na Quinta-feira Santa, de manhã, termina a Quaresma e começa o Tríduo. 

Mas o que é o Tríduo Pascal?

Tríduo são os três dias em que se comemoram a Paixão (Sexta-feira Santa), Morte(Sexta e Sábado Santos) e Ressurreição de Cristo(Domingo de Páscoa). Esta é a definição mais comum e mais aceite, embora, liturgicamente, seja diferente, devido às vésperas. 

Quais as celebrações do Tríduo Pascal?

Vou responder a esta pergunta nos próximos dias, mas hoje respondo parcialmente, no que toca à Quinta-feira Santa.

O que é a Quinta-feira Santa, o que se comemora e o quais as celebrações?

Poderíamos dizer que a Quinta-feira Santa é dividida em duas partes: a manhã e a tarde. Na parte da Manhã, fazemos tudo como se fosse Quaresma: o ofício de Laudes, ofício de Leituras e Hora Intermédia, até à hora Noa.

Em algumas dioceses, na parte da manhã celebra-se a Missa Crismal. Chama-se crismal, não porque as pessoas recebem o sacramento do Crisma, mas porque é, no decorrer desta missa, que se consagram e benzem os óleos que serão usados durante o ano para os sacramentos do Baptismo, do Crisma, da Ordenação e da Unção dos Doentes. São, portanto, consagrados três óleos: Óleo dos Catecumenos, do Crisma e dos Enfermos. É, também, nesta celebração que os sacerdotes, em comunhão com o Bispo, renovam as promessas sacerdotais. Acho que seria bom, um dia, participarem nesta celebração; No entanto, deixo-vos um vídeo da Missa Crismal.(Missa Crismal, em Notre Dame de Paris). Porém, esta celebração pode ser transferida para um outro dia da Semana Santa, de modo a permitir a participação do maior número de sacerdotes. 

The greatest in the Kingdom, de J. Richards
Na parte da tarde, ou melhor, a partir da Hora Noa, celebra a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, denominada Vespertina porque recorda os momentos antes da Paixão, inaugurando já o Tríduo propriamente dito. Nesta Missa comemora-se a Instituição da Eucaristia, bem como a Instituição do Sacerdócio. Para além da Missa, em si, há dois ritos inseridos nesta celebração: o rito do Lava-Pés (opcional) e o Rito da Transladação do Santíssimo e a desnudação dos altares. O Papa Francisco, recentemente, achou por bem fazer uma alteração ao Rito do Lava-Pés, a qual se pode ver no seguinte 'link' (Decreto sobre o Rito do Lava-pés, do Papa Francisco). 

Sobre a espiritualidade deste dia...

A meu ver, o mais importante deste dia é uma ponte. As leituras deste dia estabelecem uma ponte entre a Páscoa judaica (Êxodo) e a Páscoa cristã, aquilo em que, em liturgia, chamamos a ponte entre a Pascoa Judaica e a nossa Páscoa Ritual. 

Fundamentada no capítulo 12 do Livro do Êxodo, vemos aquilo que, em Jesus, se vem a realizar. Não é já a Páscoa em que se prediz a vinda do Senhor, mas é o próprio Senhor quem celebra a Páscoa, a Ceia em que Ele mesmo se entrega, já não há necessidade de matar um cordeiro e se pintar as portas com o sangue; Ele mesmo se deixa matar, Ele mesmo é o cordeiro, Ele mesmo é o sacrifício. 

Inaugura-se um tempo novo, o tempo da graça, o tempo favorável, o tempo da salvação, pois Ele é quem nos abre as portas, pela Sua morte na «ara da Cruz». Por isso, depois de celebrarmos a Eucaristia, adoramos devotamente esse corpo que por nós foi entregue.

Hoje, façamos o esforço por venerar com ardor, com simplicidade, mas com Fé, o Corpo do Senhor que por nós foi e é entregue.

Que este dia, venerando o Corpo de Cristo, não nos esqueçamos dos nossos irmãos que sofrem no corpo, quer seja pela pobreza em que vivem, quer seja pela violência. 

Por fim, deixo-vos um cântico, cuja letra profunda e muito actual foi composta pelo fr. José Augusto Mourão, op, e que cantaremos na nossa celebração:

Vós que recebeis o Corpo e o Sangue de Cristo
celebrai na alegria a Páscoa da Vida

Depois da Ceia, o Imortal entregou-Se à morte
desceu aos Infernos
libertando os que esperavam a Luz.

É este o Corpo que mostrou na Morte as não-razões da violência
é este o Corpo
o véu de Deus na Cruz erguido sobre o Mundo.

É este o Corpo que aos discípulos lavou os pés ajoelhado
é este o Corpo
que os corações vestiu para o combate.

É este o Corpo por nós partido, que o partilhemos!
é este o Corpo
na prática das mãos e dos olhos percebido.

É este o Corpo que o lençol de linho puro revestiu
é este o Corpo
que anuncia o corpo transfigurado da manhã de Páscoa.

Olha o Teu povo, que reuniu o perfume da Tua alegria
dá-lhe a graça de permanecer na paz
e no amor que contagia tudo!

Boa Quinta-feira Santa!

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