É de Deus ou dos Homens?

Agora vou dar-vos um conselho: 
«Não vos metais com estes homens: deixai-os. 
Porque se esta iniciativa, ou esta obra, vem dos homens, acabará por si mesma. 
Mas se vem de Deus, não podereis destruí-la e correis o risco de lutar contra Deus».
(cf. Actos 5)

Sempre me impressionou a comunidade primitiva, seja pela simplicidade da sua vida, seja pela bravura e coragem que demonstraram naqueles tempos atribulados, depois da morte de Jesus. Tertuliano, um Padre da Igreja, tem duas expressões que gosto e que, com frequência, as uso. A primeira é «Sangue de Mártires, semente de cristãos» e a segunda «Vede como eles se amam», ambas na Apologia 39.

Porém, o versículo dos Actos dos Apóstolos que ouvimos hoje na liturgia (acima citado), é uma verdadeira interrogação à nossa vida e ao que andamos a fazer no mundo: De onde são as nossas obras? De Deus ou dos homens?

Com frequência, assola-nos a mania do nosso peso e medida, isto é, só é válido como nós pensamos e como nós fazemos, esquecendo-nos de que, mais importante que a nossa vontade e maneira de pensar, é a vontade de Deus.

Este discurso proferido por Gamaliel - note-se que era um fariseu -, mostra que a vontade de Deus é mais que o nosso grupo, mais que o nosso cargo, mais que o nosso modo de pensar ou de agir, porque é plena acção do Espírito Santo. Quantas vocações se perderam por não se perceber isto? Quantas guerras se fizeram, porque puseram os seus interesses à frente?

Deus encarregar-se-á de demonstrar se um plano é ou não vontade sua, não precisamos de julgar segundo a nossa maneira de ver as coisas... Deixemos Deus trabalhar!

Esta tarde, depois de estar a terminar de ler um livro sobre o Papa Francisco, com o título «Temos de ser normais!» (faltam umas 15 páginas), percebi que este é o plano do Papa Francisco. Dizia ele, em entrevista, que nunca confia nas suas decisões e iniciativas, duvida sempre, essas coisas precisam de amadurecer, de marinar e ver se resultam. É exactamente disto que se trata... ter consciência que pensamos à nossa maneira e duvidar sempre, não ser tão seguro de si próprio ao ponto de se dizer: só eu é que sei! Só eu é que faço bem isto ou aquilo! Só eu... só eu... só eu!!! Duvidemos... 

Por falar em Papa Francisco... 
O Papa iniciou hoje uma viagem apostólica ao Egipto. Após a visita e reunião aos palácios do Presidente e do Patriarca, houve uma Oração Ecuménica (Coptos, Arménios, Católicos e Ortodoxos Gregos, com os respectivos patriarcas) que podem VER AQUI (CLICAR) na capela de S. Marcos que ficou conhecida pelo atentado que ali houve. À primeira vista, a capela não sofreu grandes estragos... 

Mas o site francês que transmitia estes encontros, fez questão de mostrar as colunas e as paredes...
Estavam bem visíveis as marcas dos tiros, bem como marcas de sangue ao longo da parede... um cenário que nos devia preocupar a todos como preocupou o Papa que, na sua alocução, recordou os ditos atentados. 

«Enquanto são eles, não somos nós!». Esta expressão que, com frequência vamos ouvindo, irrita-me. Mais uma vez o nosso «eu» se sobrepõe ao nós! Irrita-me...  Este sentimento de 'peninha', dos 'coitadinhos', dos 'pobrezinhos', só nos fica mal a nós cristãos! A nossa atitude perante tais atentados devia ser de respeito porque deram a vida pela fé, porque estavam a celebrar o Domingo, porque acreditavam em Jesus... a nós só nos dá 'peninha', quando devia causar dor profunda...

Que sejamos capazes de nos esquecer o nosso mundinho e de ver mais longe, porque este é um projecto de Deus... Que o nosso amor ao outro nos leve à compaixão, ao respeito... ao amor que fascinava aqueles que viam os primeiros cristãos e por isso exclamavam:

Vede como eles se amam!

Este fim-de-semana, sejamos capazes de oferecer um tempo da nossa oração, pelo menos de oração, por estes irmãos nossos que dão a vida que, mesmo na tribulação, não deixam de celebrar a fé... que eles sejam Sementes e exemplos da nossa fé!

E perguntemos: a minha vida é projecto de quem? É de Deus ou dos Homens? 

Pax Christi!

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