Para chegar ao Mar

«No Evangelho, acabamos de ouvir como Jesus, o Mestre, ensinava a multidão e o pequeno grupo dos discípulos, adaptando-se à sua capacidade de compreensão. Fazia-o com parábolas, como a do semeador (Lc 8, 4-15), de forma que todos pudessem entender. Jesus não procura «doutorear»; pelo contrário, quer chegar ao coração do homem, à sua inteligência, à sua vida, para que esta dê fruto.» 
Estas palavras retiradas de um discurso do Papa Francisco durante a Viagem Apostólica ao Equador, dirigido a toda a comunidade académica da Pontifícia Universidade Católica do Quito, em Julho de 2015, lembra-nos porque estudamos Teologia. 

Começou hoje, de modo oficial, a fase de exames, que terá a duração de um mês. O método de avaliação da Universidade é feito, como todos sabemos, por exames. O melhor exame de Teologia que nos podem fazer é durante a vida de pregadores, de ensinadores e de anunciadores das comunidades onde somos enviados. É aí que se vê como é que o nosso estudo deu ou não frutos.

Num outro discurso, este mais recente, o Papa afirmou:
«Por conseguinte, seja alimento para o Povo de Deus a vossa doutrina, simples, como falava o Senhor, que chegava ao coração. Não façais homilias demasiado intelectuais e elaboradas: falai de maneira simples, falai aos corações. E esta pregação será verdadeiro alimento.»
Ora, assim deve ser o estudo de toda a pessoa, de todo o cristão e, muito em particular, de um candidato a presbítero e, de um modo ainda mais especial, de um dominicano. O estudo como base de uma pregação - não intelectual - mas que parta da vida do Povo de Deus e a ele se dirija. 

Diz-se, entre nós dominicanos, que um bom pregador é aquele que prega com a Bíblia numa mão e o jornal na outra e porquê? Porque a pregação deve acompanhar a vida daqueles a quem se prega. 

Assim, o estudo deve ser, para nós, não uma meta para alcançar um diploma ou um grau académico, mas um meio para fazermos chegar aos outros o Evangelho de Jesus. Sempre acompanhado, claro está, pelo exemplo. Quem diz teologia, diz medicina, pois o médico não é médico para si, mas para os outros... ou Direito, pois nenhum advogado se pode defender a si mesmo... etc! 

Assim, que este tempo de exames - tempo de prova, seguramente! - seja uma oportunidade de estudar não só para obter 20 valores, mas que seja uma oportunidade para se aprofundar o que se estuda e que nos ajude a servir os outros com os nossos conhecimentos. 

Assim, deixo aqui os Conselhos de S. Tomás de Aquino a um estudante:

S. Tomás de Aquino | Museu Nacional de Arte da Catalunha
Meu caro João,
Perguntaste-me como adquirir uma boa bagagem intelectual. Aqui estão os meus conselhos:

1. Não mergulhes de cabeça no mar do conhecimento, mas tenta chegar a ele através de riachos menores. É sábio trabalhar a partir do mais simples até chegar ao mais difícil. Este é o meu primeiro conselho e farias bem em segui-lo.

2. Sê lento para falar…

3. Dá grande importância a uma boa consciência.

4. Nunca negligencies os momentos de oração.

5. Mostra-te amável para com todos.

6. Nunca metas o nariz nos assuntos dos outros.

7. Não sejas excessivamente íntimo dos outros, porque a familiaridade excessiva gera desprezo e fornece pretextos para negligenciar o trabalho sério.

8. Não percas tempo em conversas fúteis.

9. Tenta seguir as pegadas dos homens honestos e santos.

10. Não repares tanto em quem fala, mas acumula na mente o que ele diz de útil.

11. Certifica-te de que entendes bem tudo o que lês ou escutas.

12. Esclarece os pontos em dúvida.

13. Dá o teu melhor para guardar tudo o que puderes na pequena biblioteca da tua mente.

14. Não te preocupe com as coisas que estão fora da tua competência. 

Se seguires todos estes conselhos, vais atingir a meta desejada.

Para todos os estudantes universitários os votos de um bom estudo e de boa época de exames!

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