A alegria do recomeço

«Onde estiverem em causa os frágeis, os pobres e os que sofrem. 
Os pobres não podem esperar

D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto

Embora tenha aberto na quinta-feira, só ontem é que foi, para mim, o primeiro dia de apostolado sério e no meu dia. Falo da João13, é claro. 


Ainda que com novo espaço, outra configuração, outras regras, a gente, a vontade, a alegria, o serviço é o mesmo. Pretendemos dar dignidade, dar de comer, de vestir e dar sentido à vida das pessoas mais carenciadas da cidade. E como isso alegra o coração. 

Ontem, enquanto estava a debicar castanhas para celebrar tão especial data, estava a pensar na tese que tenho de escrever. Mas pensava que, de tanta coisa que já tenho lido sobre a pobreza ou sobre o pobre, tudo não passa de teorias. E pensava que ao contrário de outras pessoas, eu começaria na prática (serviço aos pobres) para chegar à teoria (uma tese sobre a pobreza). 

Tantas iniciativas se fazem sobre a pobreza, mas todas com muita teoria. Há dias brincava com um colega da universidade sobre uma conferência que a sua congregação realizou. Porém, quando vi o programa disse-lhe: «Como é que vocês organizam uma conferência sobre os pobres e só chamam os ricos para falar?». 

Mas bem, depois do trabalho inicial de preparação para os nossos ilustres amigos, foi tempo de os receber: sorriso no rosto, lá íamos encontrando caras conhecidas, histórias que já se tinham cruzado com a nossa, rostos que já não são desconhecidos, já não são apenas conhecidos de vista, mas que já são familiares. A alegria daquele reencontro, plasmada naqueles rostos, um abraço, um beijo, o chamá-los pelo nome... fez, sem dúvida alguma, o meu dia! 

Como fui eu quem os reencaminhei para o refeitório, lembrava-me daquele cântico que tantas vezes cantamos aqui no convento: «Está posta a mesa da festa e o convite a quem quer entrar» ou, ainda, a passagem evangélica: «Mas, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os os coxos e os cegos. Feliz serás tu, porque estes não têm como retribuir. A tua recompensa virá na ressurreição dos justos». 

Quando vinha para casa com o Padre Mestre, ia-lhe a contar como foi o dia e contei-lhe o caso de um senhor que me pediu que todos os sábados lhe levasse as leituras do Domingo e um comentário meu sobre o Evangelho. Contei, ainda, o reencontro com um casal que, quando me viu, me deu um abraço. E dizia o Padre Mestre: «Quando chegares ao Céu, aí terás esses pobres para te receber!». 

Quem diz comigo, diz com todos aqueles e aquelas que se dedicam a fazer o bem aos que sofrem, aos voluntários que dedicam uma noite de sábado para tratar dos «pobres, dos coxos e dos cegos». 

Tanta gente critica a falta de respeito que os da WebSummit tiveram ao ir jantar ao Panteão Nacional (ao lado da nossa associação), num grandioso jantar, dentro dum monumento nacional. Escandalizou-me muito mais, que tenham servido um «grandioso jantar», do que tenha sido dentro do Panteão.  Ficava muito mais contente e menos escandalizado que tivessem oferecido, dentro do Panteão, um jantar ao pobres da cidade. Antigamente, as Igrejas eram locais onde se praticava a caridade, onde os que tinham fome iam comer (e não podemos esquecer que o panteão nacional era a igreja de Santa Engrácia). 

Ainda não há muito tempo, o Papa Francisco, durante a visita a Bolonha, jantou com os pobres dentro da igreja de São Petrónio, uma das maiores igrejas de Bolonha. Pois é, a Igreja é a Assembleia dos Reunidos, mas convertemos as igrejas em salas de culto estáticas, lugares quase impenetráveis. 


A este respeito, dizia São João Crisóstomo: “Nas igrejas havia um costume admirável: (…) Ao final da reunião, em vez de voltarem imediatamente para casa, os ricos, que haviam se preocupado em levar provisões abundantes, convidavam os pobres e todos se sentavam à mesma mesa, preparada na igreja, e todos sem distinção comiam e bebiam as mesmas coisas.”

Respeito sim, mas temos de perceber que dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede não é desrespeito, mas respeito pelo Mestre e pelos seus ensinamentos. Não nos escandalizemos pelos monumentos, mas deixemo-no escandalizar por aquele que não tem que comer ou onde comer. Esse devia ser o escândalo maior de todos: o nosso próximo, o pobre, a riqueza da Igreja sofre!

O nosso trabalho será recompensado e cada um, que tiver praticado a caridade, receberá cem vezes mais, porque o nosso Pai que vê no segredo, nos dará a sua recompensa.

E agora, já percebo a expressão de D. António Francisco dos Santos, Bispo do Porto.

Pax Christi!

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