Recomeçar

Todos nós já sentimos, depois de um dia de trabalho, aquela sensação de «Missão Cumprida». E como é boa a sensação e o sentimento. Hoje, depois de um dia cheio e ocupado, sento-me à secretária, cansado, mas com o sentimento de «missão cumprida». É uma boa sensação esta!

Recomeçar é sempre difícil, porque requer de nós disponibilidade e muita força, porque cansa, porque é difícil, porque custa, porque algo muda. Enfim, um misto de coisas que nos assolam e que nos colocam diante de algo que não é nosso, mas pelo qual temos de velar para se tenha um bom termo e uma boa finalidade.

Hoje, apesar do meu dia ter começado às 6h da manhã, foi um dia cheio e muito enérgico. Entre os trabalhos comunitários, o ajudar a preparar um almoço e um aniversário de um irmão, mestre e amigo, fui para as novas instalações, onde a João13 irá funcionar. 

Ainda não abrimos portas aos verdadeiros hóspedes e utentes da nossa associação, mas já preparamos grande parte das instalações para que tudo esteja preparado e conforme às necessidades daqueles que vão utilizar o espaço: os mais pobres, os nossos amigos sem-abrigo.

Cristo peregrino, recebido por dois frades, de Fra Angélico
Sempre gostei de uma ideia que existe na nossa Ordem: o hóspede é o rosto de Cristo, hóspede e peregrino no meio de nós! Esta ideia sempre me acompanhou ao longo destes três anos na Ordem e espero que nunca estes sentimentos me abandonem. Sim, o pobre é um «lugar teológico», um lugar onde Deus fala. 

Ontem, a Ordem dos Pregadores celebrou a festa de São Martinho de Lima, também conhecido como Frei Vassoura, por se ter dedicado sempre aos serviços mais humildes da comunidade. Hoje, enquanto limpava pela terceira vez o chão do refeitório, lembrei-me tanto deste santo e do seu exemplo: de vassoura na mão, mas com os irmãos no coração. E ia-me lembrando de rostos e de pessoas que foram passando ao longo do meu voluntariado nesta Associação.

Há histórias que se cruzam na nossa história, há vidas que se cruzam nas nossas vidas e há pessoas que entram na nossa vida. E estas experiências ensinam-nos, comovem-nos e ajudam-nos a entender que somos muito agraciados. 

Foi das coisas mais bonitas que aprendi com os nossos amigos: sermos agraciados pelo encontro! Não é preciso muito, não é preciso grandes bens, não é preciso grandes riquezas porque ali encontramos a riqueza de uma vida partilhada, dorida, atribulada, mas com esperança. É preciso um sorriso, uma palavra de aceitação, uma palavra de conforto. 

Assim, com a esperança de melhorar a vida das pessoas que nos procuram e vêm ao nosso encontro, trabalhamos, cansamos o corpo, mas enriquecemos o espírito. É assim que encarei a minha presença naquela associação e é assim que quero encarar o futuro próximo. 

Assim, parafraseando São Paulo, «alegrando-me com os que se alegram e chorando com os que choram», vou descobrindo o bom de se pôr ao serviço do pobre, deste 'lugar' onde Deus fala. E tem-me falado! E tem-me mudado! E tem-me dado um novo entendimento da minha vida e da vida dos outros... 

Por isso, cansado fisicamente, mas sentindo-me agraciado espiritualmente, dou graças a Deus pela vida destes irmãos e amigos nossos, por estes irmãos mais pobres. 

E vamos começando e recomeçando este projecto que se vai robustecendo e tornando-se mais sólido e adulto. É esta a alegria do recomeço.

Pax Christi!

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