Das palavras aos actos

Ontem, o irmão que pregou na missa no Convento dizia uma coisa que acho muito bonita, de acordo com a primeira leitura, na qual se fazia um elogio à mulher virtuosa. Dizia ele: «Também nas nossas famílias, vemos que há tantas mulheres virtuosas - trabalhadoras, simples e generosas - e é com elas que devemos aprender o dom da partilha. Geralmente, nas nossas casas, quando aparece um pobre, o homem diz à mulher: «Olha, vê lá se dás alguma coisa a este homem!». Devemos aprender delas o valor da partilha».

Ontem, ao final da tarde, fui ao Colombo comprar um livro e quando ia a entrar apareceu um homem que me abordou e pediu dinheiro. Confesso que, pelo modo como fui abordado, pensei que de um assalto se tratasse. Mas não! Trazia uma receita e pediu dinheiro para a pagar que era para a filha. Eu lá li a receita e como não percebo muito de medicamentos, pedi que fôssemos à farmácia e ele veio comigo, é certo! No caminho foi-me explicando onde vivia, quais as dificuldades e problemas, sobretudo financeiros. Pedi à senhora que me dissesse o que eram os medicamentos e ela disse que era para uma criança com problemas respiratórios. Pronto, lá lhe comprei a bomba de SOS e os comprimidos. Ao homem sincero, nada se lhe pode negar. 

Já não comprei o livro, fica para o próximo mês. Valeu o sorriso e a alegria daquele homem. 

Pois é, foi o Dia Mundial dos Pobres e há que passar das palavras aos actos ou, como diz S. João, «Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade» (1 Jo 3, 18).

Se, no Sábado, servimos mais de 70 jantares e tratamos do corpo dos nossos irmãos e amigos, ontem foi dia de tratar da saúde daquela menina. 

Ao longo desta minha curta vida, vou-me apercebendo e deixando tocar por coisas que, até então, tinham sido secundárias. Devo muito à Associação onde trabalho por estas belas experiências que nos fazem desvalorizar tanta coisa, tantas situações e nos faz ser mais sensíveis e capazes de perceber os outros, de ter paciência e tempo para a todos ouvir. É gratificante as palavras «Muito obrigado!», «Que Deus lhe pague!», «Vem na terça-feira? Obrigado», etc. Porquê? Porque ainda há pessoas capazes de passar das palavras aos actos. Um pequeno gesto muda. 

Quando fiz os exames psicológicos, a Psicóloga perguntou: «Já alguma vez quis mudar o mundo?» e eu respondi: «Querer eu até queria; mas sozinho é difícil!» e ela retorquiu: «Entendo, mas se não começar com os pequenos gestos nunca ninguém começará!». Bem verdade. 


Mas, voltando ao Dia Mundial do Pobre, o Papa Francisco, pela primeira vez, deu um almoço, no Vaticano, na Aula Paulo VI, a mais de 1000 pessoas carenciadas. Uma atitude bonita e histórica. Depois de ter criado balneários para os sem-abrigo no Vaticano, agora dá um grande - mas simples - almoço aos carenciados. Lá está, alguém capaz de passar das palavras aos actos. Pena não se verem por ali mais cardeais!!!

Devíamos, esta semana, fazer um compromisso sério de tentar - pelo menos tentar - passar das palavras aos actos. Pequenos gestos, pequenas acções, às vezes um simples sorriso muda a vida daqueles que sofrem. 

Passemos das palavras aos actos...

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