A Vida é mais que a vida

A vida é mais do que a vida


Small Crucifixion | J. Richards
a vida é mais do que a vida
cinzenta, crua, vingativa
a vida é mais do que a vida
se testemunha a Fonte de onde corre
e do júbilo de existir

a vida fala do que transporta
da fé a que todo o Amor se arrima
a vida fala do que transmuda
e do devir que não nos prende à prisão do tempo

por isso nos reunimos
navegando nos olhos uns dos outros
para olhar através da janela de cada casa
de cada rosto
o Aberto, a paz-desejo

cure-nos a água da tua misericórdia
da cegueira do suficiente e do proselitismo
rompa o teu Sopro as cortinas
da casa murada e defendida
do medo que nos tolhe e até a alegria rouba

e que a Palavra nos aproxime
daquilo que do bem e da beleza nos afasta

Fr. José Augusto Mourão, OP

E continuamos a caminhar para a Páscoa... para esse momento em que a VIDA vale mais que a vida. O ciclo da vida não se fecha, mas abre-se ao eterno, ao absoluto, àquilo a que chamamos eternidade, felicidade, bem-aventurança. 

Não nos marque o medo, a sombra, a escuridão e a tristeza, mas a alegria daquela confiança que perdoa, cura e ressuscita.

Confiemos na misericórdia daquele que, suspenso numa cruz, suspenso na morte infame pode libertar e nos diz: «Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso», porque redentor, porque salvador, porque Senhor, porque verdadeiro Deus e verdadeiro Homem...

Ei-l'O, pregado, ensanguentado, sofredor, mas que, mesmo assim, clama e pede: «Pai, perdoa-lhes...». 

Ei-l'O, levantado no madeiro, cumpridor, de braços abertos, incapacitado de se valer por si mesmo e diz: «Tenho sede...», sede não de água, porque ele é a Água Viva, mas porque tem sede de nós, do nosso amor, da nossa vida, mesmo barrenta, cheia de impureza...

Ei-l'O de olhar compadecido, cheio de amor, cheio de misericórdia e não quer que ninguém fique orfão, sozinho, isolado e entrega: «Mulher, eis o teu filho» e «Filho, eis a tua mãe».

Ei-l'O, rasgado, açoitado, chagado, tentado como homem que era, cheio de sofrimento que grita: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?», mas tão cheio de confiança que logo exclama: «Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito!». 

Ei-l'O, consumador, completo, perfeito, o Homem Novo, o Novo Adão que, morrendo para a Terra, nasce para o Céu, nasce para a Vida e em Si consuma tudo: «Tudo está consumado».

E porquê? Porque a VIDA é mais que a vida...

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