In Memoriam: Fr. Mateus Peres, OP

Tenho a fama de ser mais sentimental nestas horas de despedida e alguns até estranham e dizem que é demais. No entanto, sinto-me mais livre de o fazer por escrito ou em forma de carta, porque nos dá a liberdade de dizer o que nos vai na alma de um modo que aos olhos críticos nos fazem sentir acabrunhados e nos intimidam. Tentarei não o fazer...

Faz hoje sete dias que um irmão da nossa Ordem partiu para junto de Deus, o nosso fr. Mateus Peres. Desde 2018 tive a grande oportunidade de cuidar dele, de o acompanhar, de estar mais perto dele até vir para o Porto e recordo-o com muita saudade e com muito carinho. 


O Cardeal José Tolentino lembrou hoje, na missa de 7º Dia, que o fr. Mateus tinha três grandes qualidades e eu recordo outras três que muito me marcaram ao longo destes anos:

A primeira qualidade era a sua percepção rápida da realidade e do que os outros sentiam. Quando andava mais triste, o frei Mateus reparava; quando andava mais ansioso, o frei Mateus sentia; quando estava irritado, o frei Mateus acalmava. Era uma pessoa atenta ao outro e, neste caso, atento a mim. Às vezes sentia que eu é que era cuidado por ele e sempre começava com «Olhe lá...».

A segunda qualidade era agradecido. Acompanhei-o a quase todas as consultas até que vim para o Porto e era grande o agradecimento que nos fazia: «Obrigado!», «Obrigadíssimo», eram sempre as palavras que ele tinha para comigo. Era um homem humilde que agradecia a todos os que lhe faziam bem, mesmo que essa fosse a minha «missão».

A terceira qualidade era o seu humor e paciência. Suportava tudo com paciência e usava o seu humor refinado para desvalorizar o que de mau houvesse. Tinha sempre aquele sorriso, aquela palavra, aquele jeito de aliviar o ambiente. 

Só tenho muito a agradecer ao fr. Mateus tudo o que me ensinou, tudo o que me foi dizendo naquelas curtas mas boas viagens desde o Convento ao Hospital (cerca de 1,4km). Todos os conselhos, todas as chamadas de atenção, todas as anedotas, todas as palavras certas nos momentos certos.

Sei que fiz o que podia e conforme as minhas forças físicas e psicológicas me ajudaram a fazer e com um coração cheio da sua humildade, paciência e profundidade posso dizer: «Obrigado frei Mateus por me deixar cuidar de si e muito obrigado por cuidar de mim».

E, tal como o fazia quando o ia ajudar a deitar, rezo também hoje a oração que ele mesmo pedia que rezássemos:

Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria,
que nunca se ouviu dizer
que algum daqueles
que têm recorrido à vossa protecção,
implorado a vossa assistência,
e reclamado o vosso socorro,
fosse por Vós desamparado.
Animado eu, pois, de igual confiança,
a Vós, Virgem entre todas singular,
como a Mãe recorro,
de Vós me valho e,
gemendo sob o peso dos meus pecados,
me prostro aos Vossos pés.
Não desprezeis as minhas súplicas,
ó Mãe do Filho de Deus humanado,
mas dignai-Vos
de as ouvir propícia
e de me alcançar o que Vos rogo. Amen.

Descanse em paz frei Mateus! 

(Agradeço todas as mensagens de condolências que me foram enviadas desde Lisboa)

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