Perosinho: outras independências da paróquia

Como já vimos anteriormente, a igreja paroquial da nossa terra foi, ao longo dos anos, sendo alterada, de acordo com as necessidades dos tempos. Hoje veremos os vários espaços que compunham a paróquia.

Antes de avançar, falando com um estudioso da nossa terra, queria fazer uma correção ao post anterior: no painel de azulejo que estava debaixo da torre da igreja, estava retratada a aparição de Nossa Senhora do Carmo a S. Simão Stock.

Adro da Igreja Paroquial actualmente

Avancemos, portanto, para o objecto que nos leva a escrever hoje. Suponho, também, que muito do que nos conta o Padre Ribeiro de Araújo já não exista ou, pelo menos, seja de outra maneira. Toda a igreja tem o seu adro e o de Perosinho era conhecido como «terreiro da igreja» ou «eirado» e era aqui que se costumava fazer o arraial da festa. Não posso afirmar com certeza, mas suponho que seja hoje o lugar em frente à Junta de Freguesia e que mais tarde foram feitas alterações, pois como explica longamente Maria Manuel de Oliveira na sua tese de doutoramento, até 1835 os enterros eram feitos dentro das igrejas e no adro das mesmas, daí a revolta da Maria da Fonte em 1845. Por isso, o que agora entendemos como adro da igreja era, muito provavelmente o ilhéu actual circundado pela Rua da Igreja e pela Rua de São Salvador de Perosinho.

Então, nesse adro existiam quatro grandes dependências relacionadas com a igreja paroquial: o cruzeiro do terreiro, o tanque da igreja, a residência paroquial e o cemitério. Vejamos cada uma delas em pormenor:

1. Cruzeiro do terreiro

Este cruzeiro da igreja é o início de uma Via Sacra ou Via Crucis que termina na Capela de Crasto. Datam do ano 1676, tal como se pode ver no pedestal. Inicalmente, este cruzeiro situava-se praticamente junto da actual Rua da Igreja, tendo sido mudado mais para o interior do adro em 1912 e depois, mudado para o lado norte, mesmo junto ao muro do cemitério. Em 1912, aquando do primeiro translado, foi encontrada uma moeda de prata do tempo de D. João V (1706 - 1750), o que corrobora a antiguidade de dito cruzeiro.

2. Tanque da igreja

Ao norte do terreiro, proximo do actual cemitério, existe um tanque com três lavadouros, aonde noutro tempo vinha a cahir uma bica d'agua, há muito já distrahida por outras partes. Nasce no sitio dos Bajócos e é chamada ainda hoje a agua da Egreja, sendo a a mina da sua origem a mina da Egreja.

Pela quantidade de referências nos Livros de Visitas do Prelado de Grijó a esta paróquia, vemos que esta mina ou tanque era, de facto, bastante importante para a vida da igreja e para a vida dos fregueses. Neste Livro de Visitas são várias as vezes em que o Prelado de Grijó manda limpar o rego, vigiar a água e impedir que desviassem a água, pois era com ela que se realizavam os sacramentos, sobretudo o do Baptismo. Assim, o Livro de Visitas em 1733 regista:

Sendo nós informados da muita utilidade e proveyto que tem os quinhoeiros da agua do rego dos Passaes da Igreja com que se regão os mesmos Passaes e serve para a administração dos sacramentos, e como por descuido dos mesmos quinhoeiros anda o dito rego pouco reparado e limpo.

E, na entrada de 1739 lê-se assim:

Novamente se nos fes queixa que a agoa do rego que vem até jnto da igreja se diverte, de sorte que hora vem pouca, ora nenhûa e que alguas vezes vem suja, por se lavar nella antes de chegar á bica, adonde só se deve e pode lavar; e por sêr necessaria para o ministerio da igreja, he couza indignissima de que chegue á bica suja.

Na entrada de 1744, o Prelado de Grijó decreta uma sanção para quem lave ou desvie a água:

Como por queixas que nesta e na visita passada se nos fizerão a respeito da agoa que he e pertence a esta Igreja para o que lhe for necessário [...] ordenamos ao R. Parocho que elleja alguas pessoas que vigiem e examinem quem diverte a tal agoa do rego que vem dar junto a essa igreja ou lava nella de sorte que a suje e certificando.se d'isto condemne a cada pessoa que achar comprehendida em quatro centos reis para a confraria do Senhor.

O que é certo é que dizem que a água foi mesmo desviada abusivamente para a Mina Nova, que perto da igreja existe. O mais importante é perceber que esta mina, para além da utilidade pública, servia para a administração dos sacramentos e para o serviço da igreja. Actualmente não há grandes vestígios nem do lavadouro nem de alguma parte do rego da água.

Igreja vista a partir do Cemitério

3. Residência Paroquial

A residência paroquial de Perosinho tem sofrido, ao longo dos anos, várias alterações e, por isso, obteve várias localizações. Havia a primitiva residência paroquial, da qual iremos falar aqui, a antiga residência paroquial e a actual residência paroquial. A primitiva residência paroquial situava-se mesmo ao lado da igreja paroquial, havendo um corredor processional entre ela e a Igreja. Pela descrição feita pelo Pe. Ribeiro de Araújo, a primitiva residência paroquia ficava onde é hoje o cemitério. 

Diz a tradição que fora mandada construir pela patrocinadora da igreja, a D. Elvira Nunes Aurea, sobrinha dos fundadores do Mosteiro de Grijó, como já vimos. Há, também, uma tradição - que a mim me parece pouco certa! - que essa primitiva residência paroquial fosse, em tempos, uma comunidade religiosa. Acho pouco provável, dado que dependia do Mosteiro de Grijó. No entanto, pode ser que tenha servido como «Escola Paroquial», mas dada a escassez de fontes que o comprovem nada podemos afirmar. 

Em 1853, o espaço da residência paroquial estorvava ao passeio processional, já que a nova igreja paroquial (1802) tinha aumentado bastante de tamanho. Por isso, construíram-se dois quartos de um outro lado e demoliram a parte junto à torre para dar mais espaço. Em 1889, a residência paroquial estava demasiado devoluta , que todos concordaram em demolir aquela residência e construir uma nova já fora do espaço do adro. A 18 de Julho de 1890 obteve-se o despacho de expropriação da residência, do terreno e do passal, cuja venda rendeu quinhentos e vinte e cinco reis. No entanto, a nova residência paroquial prometida nunca foi construída. 
A Igreja vista de trás (à esquerda) e
cemitério (à direita)


4. Cemitério Paroquial

Como dissemos acima, as inumações faziam-se dentro da Igreja. Por Real Decreto de 6 de Fevereiro de 1833 e por decreto do Governo de 1835, as inumações passaram a ser feitas no adro da igreja. Em 1833 criou-se um cemitério provisório no adro da igreja de Perosinho mais tarde, em 1867, fora ampliado. 

Quando se expropriou o terreno da residência paroquial, em 1890, criou-se o cemitério paroquial, ocupando o território da residência e do passal, juntando um terreno que foi comprado a um particular.  Este cemitério foi benzido pelo Pároco, comissionado pelo Cardeal D. Américo. Em 1906, foram feitas as exumações dos corpos enterrados no adro da igreja, sendo construída para o efeito a Capela das Almas ou também chamada Capela dos Ossos ou, ainda, Casa das Ossadas. Em 1918, por causa da gripe pneumónica fez várias vítimas em Perosinho e para lhes dar sepultura foram comprados mais alguns terrenos e, por isso, foi ampliado.

Penso que mais tarde, conforme as necessidades, foi sendo alargado. O alargamento mais recente foi o dos anos 2000, com a compra de um terreno do lado nascente.

Por hoje, ficamos por aqui. Na próxima publicação iremos estudar as capelas da freguesia para depois entrar na parte que mais nos importa e que diz respeito à vida devocional da freguesia, sobretudo sobre a criação das Irmandades e a devoção a Nossa Senhora do Carmo.

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