Perosinho: as confrarias

Hoje e nesta publicação iremos abordar a questão das confrarias existentes em Perosinho. Gostaríamos de dispor de mais informação sobre algumas delas e de algumas obras delas, mas cingir-nos-emos às informações que conseguimos arranjar. No entanto, antes disso, abordaremos aqui um outro tema que tem que ver com os Caminhos de Santiago, que passam pela nossa freguesia, naquela Via Romana e, também, pela Estrada Mourisca das quais já falamos em publicações anteriores.


Diz a lenda - que tem o seu fundo de verdade - que o Apóstolo São Tiago veio de Jerusalém e terá entrado na Península e percorrido os caminhos existentes - romanos e mouriscos - até chegar a Compostela, pelo actualmente chamado «Caminho central português». Dizemos que é uma lenda com o seu fundo de verdade por não dispormos de fontes que o documentem. É certo que este caminho romano era uma grande via que facilitava o percurso até Compostela. Uma outra lenda é que a Raínha Santa Isabel de Portugal terá feito este caminho central até Compostela e terá ficado hospedada nas dependências do Mosteiro de Grijó. Mais uma vez digo lenda já que D. Dinis ordenou a expropriação de alguns terrenos do Mosteiro de Grijó, como os «Cazaes de Sergueyros», tal como já vimos anteriormente. No entanto, mesmo que sendo lendas, elas aumentam a devoção daquelas pedras que sobem a Serra de Negrelos. Há uns anos atrás, a então Junta de Freguesia de Perosinho assinalou estes caminhos para ajudar os peregrinos e, desde então, têm sido imensos aqueles - até mesmo de outros países - que passam pelas nossas ruas, nos dizem «bom dia» e a quem desejamos «bom caminho», mesmo que não nos entendam muito bem.

Quanto ao tema que nos traz aqui hoje, as confrarias, podemos dizer que existiam cinco, outrora sete. Confrarias ou Irmandades são uma instituição que o Direito Canónico contempla e são  instituições que juntam pessoas em torno de uma devoção ou de um santo. Existiam, também, algumas aglomerações de fiéis que detinham o título de «Confrarias», mas que hoje diríamos ser a «Comissão de Festas». Vejamos cada uma delas.

1. Confraria das Almas

Esta confraria existe desde 1693 e os seus estatutos primitivos foram aprovados pelo Prior de Grijó D. Próspero de Santo Agostinho, a 10 de Março e foram reformados em 1842. Esta confraria, caracterizada pelas opas de cor branca e verde, tinham como função principal a oração pelas almas dos seus irmãos que padeciam no Purgatório e, segundo alguns, o acompanhamento do funeral, levando o estandarte, a cruz e as lanternas de dita Confraria, que ainda hoje existem. 

2. Confraria do Mártir S. Sebastião (ou da Cera)

Os seus estatutos foram aprovados a 28 de Dezembro de 1711, pelo Pároco João Barros Nogueira e D. Jerónimo dos Anjos, Prior de Grijó. Para além de se desconhecer o porquê da criação desta Confraria, sabemos que uma das funções era o acompanhamento do Juíz da Cruz, aquele que estava encarregue de levar a Cruz Paroquial nos enterros, procissões e acompanhar o Santíssimo em procissões. Acabou por ser extinta não se sabe quando.

Altar mor no dia da Festa, 2013


3. Confraria do Santíssimo

O Padre Ribeiro de Araújo diz assim sobre esta Confraria: 

Antes do anno de 1656, não se conservava o SS. Sacramento permanentemente na parochia de Perosinho, devido certamente a não possuirem os habitantes d'ella os meios sufficientes para O terem ahi sempre com a requerida decencia. Por isso, quando algum enfermo tinha de ser viaticado, ou o era em seguida à missa, se era de manhã, ou se era de tarde, vinha a SS. Eucharistia, como reza a tradição, do mosteiro de Grijó, o que devia ser muito penoso.

Em 1656, pediram ao Mosteiro de Grijó a concessão de sacrário, pedido que foi diferido sob a condição de observarem certos requisitos. Então o povo de Perosinho juntou-se e contribuiu para a manutenção da Sagrada Reserva. Ora, a Confraria do Santíssimo veio substituir este povo e assumiu com a maior das dedicações o cuidado pela Eucaristia. Foi assim que, em 1693, foi instituída canonicamente pelo Prior de Grijó, D. Próspero de Santo Agostinho. Os seus estatutos foram reformados por D. João da Visitação, em 1740. Foram feitas algumas adaptações e remodelações aos mesmos e continuam a uso, apesar dos irmãos serem poucos.



4. Confraria do SS. Nome de Jesus (ou do Menino Jesus)

Apesar de já não existir actualmente, esta Confraria aparece referenciada nas Crónicas do Mosteiro de Grijó quando, em 1740, foram aprovadas as alterações aos estatutos. Segundo os estatutos, esta confraria tinha obrigação de mandar cantar uma missa no dia de Reis e outra no dia 6 de Agosto, dia so seu Padroeiro. Para além deste serviço religioso, a Confraria tinha como função a organização de leilões e a promoções de festas de Natal.

5. «Confraria» do Sagrado Lausperene

Para além da Confraria do SS. Sacramento, havia ainda uma outra que tinha como função principal assegurar a presença de fiéis na Adoração do SS. Sacramento quando exposto solenemente na igreja paroquial, «no altar ou no trono», geralmente no terceiro Domingo de cada mês.

Foi instituída em 1866 pelo Pe. João Dias Moreira. Cada associado tinha de pagar uma quota mensal e tinha o direito e o dever de participar - enquanto vivo - das missas celebradas pelos irmãos e, depois de morto, tinha direito a duas missas pela sua alma e à bandeira/estandarte no seu enterro.

Foi mais tarde incorporada na Confraria do SS. Sacramento e todos os bens foram entregues à mesma, incluindo a Cruz, as opas e a bandeira dos enterros.

Painel a óleo, 
proveniente do altar de N.  Sra. do Carmo


6. Confraria de Nossa Senhora do Carmo

Existem, também, algumas lendas relacionadas com esta Confraria. Uns dizem que foi criada quando «roubaram» uma imagem ao Mosteiro de Grijó; outros que foi criada a pedido do Pe. João Nogueira, que era natural de Perosinho e outros, ainda, que um Frade Carmelita que transportava a imagem até Compostela se esqueceu da mesma e que acabou por ficar naquela igreja. Isto fundado nas tradições orais que fui recolhendo dos mais velhos da nossa terra.

O Pe. Ribeiro de Araújo, na sua obra, diz que o Pe. João Nogueira, devoto desta invocação de Nossa Senhora comprou uma imagem à sua custa e a colocou na igreja paroquial para a veneração dos fiéis, por volta do ano 1710.

A imagem de Nossa Senhora do Carmo sem a coroa
e o manto de procissão



Num livro intitulado de Sanctuario Mariano, o fr, Agostinho de Santa Maria, no ano de 1716, sustenta a opinião do Padre José de Araújo ao escrever:

Na freguezia do logar de Perusinho que pertence ao Isento do grande Mosteiro de Grijó e na sua Parochial Igreja que lhe he dedicada ao Salvador do Mundo se venera huma muy devota Imagem da May de Deus com o titulo do Carmo; esta imagem he moderna, porque foy colocada baquela igreja pelo Padre João de Barros Bogueyra, Cura da mesma Freguezia em o anno 1710.

No entanto, a Irmandade de Nossa Senhora do Carmo é de 1733, o que indica que a devoção à Senhora do Carmo é anterior. No ano 1733, o Prior do Mosteiro de Grijó, D. Henrique de São José, intituiu-a e agregou-a à Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo (Ordem do Carmo, abreviando), tal como consta da carta do Padre Geral da mesma Ordem, que estava em Saragoça, datada de 29 de Junho de 1734. Esta era - e é! - a maior Irmandade da Paróquia de Perosinho, tanto que a instituiu como Padroeira e começou-se a festejá-la como festa principal da Paróquia.

Tinha irmãos dentro e fora da freguesia e muitas regalias, tais como, por exemplo, o direito a 10 missas e ofícios cantados por 10 padres, aquando a morte de um irmão. Esta regalia foi abolida em 1740, pelo Prelado de Grijó, já que se tornava difícil reunir 10 padres para tal serviço.Assim, em 1789, os seus estatutos foram reformados que foram submetidos à aprovação de D. Fr. João Rafael de Mendonça, Bispo do Porto, que os aprovou. Foram sendo feitas alterações aos estatutos conforme as necessidades. No entanto, nunca se retirou a um irmão o direito de uma missa mandada celebrar pela Irmandade, aquando a sua morte.

Sobre as festas em honra de Nossa Senhora do Carmo, exitem várias notícias que descrevem a pomposidade e beleza das mesmas, sobretudo os ofícios, a imposição dos escapulários, a procissão e os festejos. Transcrevo aqui algumas:

São as seguintes(festividades de arraial), que quasi sempre se costumam fazer: a de Santo António, a da Senhora da Lapa, a de Santa Marinha, a do Senhor do Calvário, e a Senhora de Crasto. Mas a principal é a de Nossa Senhora do Carmo, no domingo seguinte ao dia 16 de Julho. É uma festa relativamente pomposa e costuma attrahir a esta freguesia grande numero de forasteiros. (P.APSM, 1920)

A nossa terra foi mais uma vez cenário das grandiosas festas em honra de Nossa Senhora do Carmo, festas estas que decorreram com muito entusiasmo e raro brilhantismo. De toda a programação é justo salientar a sua majestosa procissão e a conclusão das mesmas festas, com as magníficas prestações dos ranchos folclóricos que, com os seus cantares e bailados, atraíram à nossa terra milhares de pessoas de freguesias vizinhas (OG, 1964).
 
A chegada da Banda de Música ao Adro da Igreja

Grandiosas festas em honra de Nossa Senhora do Carmo, em Perosinho, nos dias 16, 22, 23, e 24 do corrente que, com o seu grandioso programa atrairão à nossa terra inúmeros forasteiros. [...] No dia seguinte, Domingo, entrará às 8h no arraial a conhecida e afamada Banda Musical de Revelhe (Fafe), que dará concerto até às 10h seguindo-se a celebração da missa solene com acompanhamento a cargo do Grupo Sacro Pio XII, de Perosinho. Ao Evangelho subirá ao púlpito um consagrado orador; às 11h, sairá da igreja paroquial uma imponente procissão que percorrerá o itinerário habitual; às 16h, a Banda Municipal de Vigo (Espanha) entrará no recinto e iniciará uma série de concertos alternados com a banda de Revelhe e, às 24h, terá lugar uma brilhante sessão de fogo de artifício (C.P., 1967).

Foram coroadas com êxito as festas de Nossa Senhora do Carmo, em Perosinho. [...] No dia 16, consagrado a Nossa Senhora do Carmo, foi celebrada missa solene, sem sermão, bênção do escapulário e outras cerimónias habituais, sendo a parte coral desempenhada pelo Grupo Sacro Feminino [...] No dia 23, a apreciada banda de Revelhe, Fafe, deu entrada cerca das 10 horas, seguindo-se a missa solene com sermão do Reverendo Pe. Dr. Xavier Coutinho, a grande instrumental pelo Grupo Sacro Pio XII de Perosinho. No fim deste acto, uma majestosa procissão percorreu o costumado itinerário, vendo-se ricas colgaduras em todas as varandas e janelas do percurso dando a esta solenidade um aspecto deslumbrante [...] Foi realmente um cenário que merece referência, pois, além de tudo, o interior da nossa paroquial oferecia ao visitante um aspecto encantador. Pena é que nem todos compreendam o significado altíssimo desta antiquíssima festa a Nossa Senhora do Carmo, que honra a nossa terra. (C.P., 1977)


Muitas outras coisas se poderiam abordar no que a Perosinho diz respeito. No entanto, o objectivo destas publicações era de estudar e de perceber como é que o culto a Nossa Senhora do Carmo nasceu e cresceu tanto em Perosinho, missão que penso ter sida cumprida.

Aproveito para recordar que, tal como foi avisado pelo Pároco, apesar deste tempo de Covid-19, haverá uma missa solene, celebrada no Adro da Igreja, pelas 21h, seguida da recitação do terço e de uma procissão (num automóvel) da imagem de Nossa Senhora do Carmo através do percurso habitual. Nessa celebração, os acólitos renovarão os seus compromissos, assinalando o 10º aniversário da refundação do grupo.

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