Perosinho: as capelas da Paróquia

Tal como já referimos anteriormente, quando vimos a origem do nome de Perosinho, os documentos mais antigos falam-nos de dois lugares antigos no que se refere ao culto: Crasto e Sirgueiros. Estes lugares e as suas capelas poderiam ter sido em tempos pequenos ermitérios do Mosteiro de Pedroso durante o Reinado de D. Afonso II, quando doou o Mosteiro do Lorvão às suas irmãs Teresa e Sancha.
Hoje veremos quais são as capelas de Perosinho, tentando traçar um pouco a sua história e caracterizá-las dentro das possibilidades, tendo por base o livro do Pe. Ribeiro de Araújo e mais algumas informações por nós recolhidas.

Perosinho tem, portanto, seis capelas: cinco públicas e uma privada. Veremos em detalhe cada uma delas a partir de agora.

Solar da Quinta da Pena, de Valdemar dos Santos

1. Capela da Quinta da Pena

A Capela da Quinta da Pena é uma capela privada, instalada no Solar da Quinta, onde hoje é a Creche da Paróquia. No meu entender não deveria ser chamada capela, mas oratório. É uma pequena sala ao lado do hall de entrada. Consta de um retábulo de madeira e com uns pequenos painéis de madeira nas paredes. 

Terá sido fundada pelo Visconde da Pena para seu uso particular, em 1832, quando a comprou. O Visconde da Pena era um negociante de origem espanhola, nascido em 1794 e o seu nome era José Rodrigues de Cazaes. Após o seu casamento com D. Maria Júlia Sampaio Guimarães de Cazaes, adquiriu a Quinta da Pena e nela viveu até à sua morte. Foi, durante o Cerco do Porto, Cônsul de Espanha, tendo recebido várias condecorações e ordens conferidas pelos governos liberalistas. Foi agraciado com o título de Visconde da Pena em 1854, por ordem de D. Fernando II, Rei de Portugal. 

Após a sua morte a Quinta da Pena foi tendo vários proprietários até que a sua última proprietária D. Alzira Rodrigues da Costa (Pacheco) a doou à Paróquia, pensamos que já no século XX. Esta doação mereceu-lhe um reconhecimento público como a colocação de um busto em bronze no adro da igreja paroquial.

Capela de Crasto, de Valdemar dos Santos


2. Capela da Senhora de Crasto (ou do Pilar)

Esta é, de facto, a capela que mais história tem, dada a sua datação e a sua proximidade ao Monte Murado e ao Castrus Petrosus ao qual nos referimos em várias publicações anteriores. O Pe. Ribeiro de Araújo explica longamente a origem desta capela. Faremos apenas um trabalho de síntese de toda a matéria por ele escrita. Fr. Agostinho de Santa Maria descreve-a assim:

Na mesma freguesia de São Salvador de Perosino se vê em hum monte que lhe fica imminente, o qual pela muyta quantidade de pedra que em si tinha lhe chamavão o monte Pedroso; neste monte esteve uma grande Atalaia ou Castello que durou até o tempo em que os padres da Ordem de São Bento forão despojados do Convento do Lorvão pelo dar El-Rey Dom Afonso II a suas irmãs, convertendo-o em casa religiosa de Cister; vendo-se os Padres Bentos despojados d'aquele seu ilustre convento em hum sitio, vierão a edificar outro convento em hum sitio que dista da cidade do Porto duas legoas e nelle com a pedra d'aquele Castello edificaram um novo convento com o nome de Pedroso. [...]
Nas faldas d'este monete se vê situada a casa de nossa Senhora da Assunpção ou de Crastro [...]; he esta casa da Senhora muy antiga [...] sempre se conservou o nome e titulo de nossa Senhora do Castello ou do Castro.

Há sérias dúvidas quanto à datação da capela e as opiniões dividem-se se esta foi ou não a primitiva igreja paroquial que, como vimos anteriormente foi fundada em 1132. A única data visível é a que está no púlpito que se encontra dentro da capela. É aqui que as opiniões mais se dividem porque uns lêem ANNO D. C. 1101 e outros ANNO D. C. 1701. Segundo os entendidos, provavelmente será de 1701, dado o estilo do púlpito, ainda que alguma da traça original demonstre que seja anterior.

Inicialmente, a capela estava num lugar ermo, rodeada de arvoredo e que, com o passar dos anos foi sendo povoada, fazendo passar pela sua frente uma rua, tendo sido demolida a galilé e o adro. No Livro de Visitas, pode ler-se na entrada de 10 de Julho de 1750:

Diferindo ao requerimento que se me fes de que mandassemos que o Alpendre da Capela da Senhora de Crasto se levantasse hum pouco para que desse logar a que os Pregadores podessem sobir com commodo para o pulpito que no mesmo Alpendre se acha.

Isto é uma demonstração clara que aqui havia, de facto, um alpendre e um púlpito. No entanto, ainda que alguns queiram dizer que por causa disto teria sido a igreja paroquial, temos sérias dúvidas. Provavelmente este alpendre terá sido levantado dada a afluência de devotos no dia da festa, que se comemorava a 15 de Agosto. 

Retábulo da capela de Crasto


Quanto ao interior desta Capela, a sua traça original corresponde a uma arquitectura Românica, tendo sido, ao longo dos anos, renovada e, infelizmente, perdendo alguma da sua traça original. É de uma só nave, tem uma capela mor e nela um retábulo de madeira com uma bela  e antiga talha dourada. Ao centro tem um nicho onde se conserva uma antiga imagem de Nossa Senhora e nos painéis laterais uma pintura sobre madeira que retrata S. João Baptista (à esquerda) e de Santa Luzia (à direita). Fr. Agostinho de Santa Maria, na sua obra Sanctuário Marianno, de 1716, escreve a seu respeito o seguinte:

Esta santíssima imagem he de escultura formada em pedra; está colocada em hum retabolo dourado, a sua estatura são de 5 palmos e he muyto perfeita a manufatura, tem coroa imperial e o menino resplandor, tudo de prata: ao menino esta oferecento a Santissima Mãe o peyto que ele toma com muita graça [...]. Como a Senhora he invocada com o título do Castello que he proprio do misterio da Assumpção, como refere o Evangelho.

Pela descrição, parece-nos que a imagem que hoje está no retábulo é a mesma que descreve o Cronista. Provavelmente veio do Castelo que estava no Monte Murado e, por isso, é chamada Nossa Senhora do Castelo e, ainda, Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora do Castro ou Nossa Senhora de Crasto. Não se sabe ao certo de onde lhe veio a invocação de Nossa Senhora do Pilar. 

Nesta capela termina a Via Sacra que começa na Igreja passando pelo lugar da Barrosa e da Costa e era tradição que, nos Sábados da Quaresma, se fizesse uma procissão desde a igreja paroquial até à capela de Crasto, em que se cantava as Ladaínhas de Todos-os-Santos e, no final, um sermão. Voltaremos a falar dela quando abordarmos as irmandades e religiosidade em Perosinho.

Capela de Sirgueiros, de Valdemar dos Santos


3. Capela de Santa Marinha (Sirgueiros)

Também muito antiga é a capela de Santa Marinha no Lugar de Sirgueiros. Ainda que não se saiba com certeza a altura da sua construção, o que é certo é que o Livro de Visitas, em 1320, já lhe faz referência. Em 1886, foram levadas a cabo obras de requalificação nas quais se substituiu o altar antigo, provavelmente em talha dourada, por um em madeira de castanho pintado a branco. 

Com o passar dos anos, a sua traça foi sendo alterada, com a construção de um andar superior que serviu de leitaria (distribuição de leite em pó, segundo conta o meu pai) e de um amplo salão que serviu para a catequese daquele lugar de culto. 

Descrevendo o interior desta capela podemos dizer que é de uma só nave e tem capela mor. No retábulo do altar mor, podemos ver ao centro uma imagem em granito pintado de Santa Marinha, do lado direito a imagem de Nossa Senhora da Guia e do lado esquerdo a imagem do Beato Gonçalo de Amarante (dominicano). Havia, ainda, ao lado do altar, um relicário dos Mártires de Marrocos (Franciscanos) que hoje se conserva na sacristia da mesma capela e que, segundo a tradição terão por ali passado e se hospedaram no Mosteiro de Grijó.

Começa nesta capela uma Via Sacra que termina na capela do Senhor do Calvário.


Capela do Senhor do Calvário, de Valdemar dos Santos


4. Capela do Senhor do Calvário (Sirgueiros)

A primeira capela do Senhor do Calvário terá sido construída por volta de 1758, ainda que a actual capela remonta a 1880 e é a 12ª estação da Via Sacra (Morte de Jesus na Cruz), já que na frontaria se encontra gravado o nr. 12. Em 1916, iniciaram a construção de uma galilé na frente da capela.

Tem um só altar onde se encontram as imagens do Senhor Crucificado e aos seus pés a de Nossa Senhora das Dores. 

Capela do Senhor de Brandariz, a partir do Google Images


5. Capela do Senhor de Brandariz

Apesar de não se conhecer a origem desta pequenina capela no lugar de Brandariz. Provavelmente foi construída para ser o termo de uma Via Sacra, pelos cruzeiros que perto dela se encontram. Segundo um antigo morador daquele lugar, talvez fosse uma Via Sacra que começava na igreja paroquial, mas ao certo nada se pode dizer. 

No seu retábulo tinha apenas duas imagens, segundo o Pe. Ribeiro de Araújo: a do Senhor dos Passos e a do Senhor do Alívio. São todas figuras ligadas à Paixão do Senhor. Pela traça de ditas imagens podemos dizer que são da mesma altura. No entanto, a imagem de Nossa Senhora do Alívio aí venerada nada tem que ver com as imagens de que já falamos, o que supõe ser uma devoção posterior àquela capela.

Pela sua pequenez, não há culto público nela. Havia, no Domingo de Pentecostes, uma procissão que saía da igreja e que terminava com a celebração da Eucaristia na rua. Há uns anos atrás, devido a alguns problemas, esta celebração foi cancelada. 

6. Capela da Sagrada Família (Mouta)

Esta é provavelmente uma das mais recentes capelas de Perosinho. Penso que foi o Padre Joaquim Marques de Oliveira (o Padre velhinho como lhe chamávamos) que adquiriu o seu espaço. Era um salão que foi convertido em capela para satisfazer aquela parte da população perosinhense. Chegou a ser um grande centro de culto, com catequese e missa dominical. De há uns anos para cá, começou a perder freguesia e, com a falta de vocações sacerdotais, ficou impossível de se conseguir celebrar lá todos os domingos. 

Infelizmente, o Conselho Paroquial anunciou faz umas semanas o seu encerramento, já que o dono do espaço pediu um aumento excessivo da renda que a Paróquia lhe pagava. Face a esta situação, a capela será encerrada.

E por hoje é tudo. Peço desculpa pela longa publicação de hoje, mas fazia todo o sentido abordar de uma só vez todas as capelas da Paróquia. Algumas das imagens que aqui colocamos são da autoria do Sr. Valdemar dos Santos. Peço desculpa, também, pela falta de fotografias que ilustrem algumas das capelas a que nos referimos.



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