Ei-la de pé...

'Virgen de la Amargura', Igreja de S. Juan de la Palma, em Sevilha

Aprendi com a minha avó materna que, no mês de Setembro devíamos rezar pelas sete dores de Nossa Senhora. Sempre que íamos ao Mosteiro de Pedroso, a minha avó, depois da missa, ia ao altar da Senhora das Dores e aí rezava com uma devoção e uma piedade que sempre me impressionou. 

Apesar de não gostar, aquela imagem de Nossa Senhora das Dores impressionava-me: vestido de veludo roxo, manto azul escuro, cabeleira preta, ar sombrio e lágrimas que pareciam verdadeiras. Uma verdadeira dolorosa. 

Curiosamente, a primeira imagem de Nossa Senhora que tive, foi-me oferecida pela minha tia e era a Nossa Senhora das Dores que, ainda hoje, é uma peça central da minha estante.

Então, a minha avó ensinou-me as sete dores de Nossa Senhora:

1. A profecia de Simeão
2. Fuga para o Egipto
3. Perda do Menino Jesus no Templo
4. Ver Jesus com a Cruz ao ombro
5. Ver Jesus ser pregado e a morrer na Cruz
6. Receber o corpo de Jesus nos seus braços
7. Ver o corpo de Jesus ser sepultado

Havia, então, sete dias em que rezava o terço por cada uma das dores de Nossa Senhora. Ora, isto impressionava uma criança de 9 anos, tal como eu era. Deixei tal devoção, mas quando fui para o Noviciado - não sei se influenciado pelo espírito das Dolorosas de Sevilha - retomei a devoção. E sinto-me solidário com as mulheres, sobretudo com as mães e isto torna-nos mais humanos. 

Como dizia, o espírito sevilhano das procissões e da Semana Santa centra-se na Paixão do Senhor - claro está! -, mas centra-se na figura de Maria, sempre atrás do seu filho, ainda que por meio de muito folclore e de muita atracção cada vez mais turística. Mas impressiona, sem dúvida. 

Dizia, ainda, a minha avó que é necessário sentir as dores de Maria para nos esquecermos das nossas dores. De facto, temos uma vida indolor (generalizando), porém ainda existem muitas 'Marias' que sofrem estas dores. São mulheres, são mães que vivem numa amargura e numa angústia constante, devido às escolhas nem sempre felizes dos seus filhos ou mães que perdem os filhos ou, ainda, mães que vêm os seus filhos sofrer. 

Mas surge Maria, humilde, calada, imóvel, consciente e sofredora, ali, diante da Cruz, a ver o seu filho, carne da sua carne, a sofrer, resignada, mas confiada...

Curiosamente, as mulheres no Novo Testamento têm um papel fundamental e, mesmo quando todos se escondem com medo, as mulheres ali estão: ali estava Maria junto à Cruz e ali estava Maria Madalena pronta para anunciar a Ressurreição de Jesus. 

É a figura materna e o instinto de mãe que não a deixou arredar pé dali, porque muito amou o seu Filho e, ainda hoje, vemos muitas 'Marias' que, ante uma provação, não arredam pé e ali ficam ao lado dos seus maridos e dos seus filhos. 

É este exemplo de fortaleza que hoje celebramos. Apesar de celebrar as dores de Maria, celebramos também as suas virtudes de uma mãe forte e sempre presente. 

Rezemos por todas as mães, sobretudo por aquelas que passam dificuldades e sofrem pelos seus filhos. Que Maria, mulher da confiança e do amor, fortaleça a fé de todas as mães que sofrem. 

Pax Christi!

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