Família de Amor

Heilige Dreifaltigkeit, da Ir. Caritas Müller

“O mistério central da fé e da vida cristã é o mistério da Santíssima Trindade. 
Os cristãos são baptizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” 
(CIC, 44)

Este Domingo, na Igreja, celebra-se a festa da Santíssima Trindade. É uma festa bonita, mas nem sempre muito compreendida, já que é um mistério difícil de entender (por isso mesmo é mistério!). Mas muito se pode dizer e falar dele, pelo menos para que se nos abra o entendimento para compreender. Proponho-me a fazê-lo a partir da estátua da Ir. Caritas, que está numa casa de oração, na Alemanha. Pode ser que ajude...

No centro da imagem está o homem na sua total humanidade: frágil, miserável, quase que moribundo. Depois, em torno a este círculo central, vemos as três figuras da Trindade: o Pai (que carrega este homem frágil), o Filho (que lhe beija os pés) e o Espírito Santo (num intermédio entre a figura da pomba e da língua de fogo).  Vemos, ainda, que os círculos, que circunscrevem as figuras, estão abertos para o centro e, por isso, estão em comunicação uns com os outros. 

É uma analogia perfeita do que é a Trindade. A Trindade existe para a humanidade e para a humanidade enquanto pó, fragilidade, miséria, pequenez, isto é, na insuficiência da nossa existência. É o Pai que nos carrega nos seus braços, cheio de amor, cheio de compaixão e carinho; é o Filho que nos beija os pés, curando as nossas feridas, tal como o Bom Samaritano (Lc. 10), assumindo a nossa fragilidade e lavando os pés da nossa miséria (cf. Jo. 13); é o Espírito que nos aquece e ilumina, confirmando a Sua presença calorosa e fortificante. 

Santo Agostinho, no De Trinitate, no livro VIII, descobre o que une estas pessoas divinas e as faz um só Deus: o AMOR! Deus é Amor (1 Jo. 4) e um amor manifestado por pessoas distintas, mas é o mesmo amor. É o Amor à humanidade que a Trindade manifesta: um amor criador (Pai), um amor salvador (Filho), um amor que guia, alimenta e fortalece o Homem (Espírito Santo). 

O Homem é envolvido por este amor sem limites e é este amor desmesurado que cura o homem da sua fragilidade. 

Assim, o Mistério da Santíssima Trindade faz-nos perceber que não somos auto-suficientes, que não somos melhores que ninguém, que precisamos sempre de uma força e de um auxílio para a vida. É bom que nos reconheçamos na figura daquele homem moribundo, seco, frágil, miserável. Tudo é mérito de Deus, não de nós mesmos! 

Reconhecer-nos frágeis é ir tornando o nosso coração mais humilde e atento. É ir percebendo que não nos podemos vangloriar por isto ou por aquilo, mas que o único que se pode gloriar é Deus, porque nos ama e cuida de nós. 

É nesta família de amor que devemos colocar a nossa confiança: não é nos elogios, no «eu é que sou bom». Nós não somos bons, nós somos barro! É Deus quem modela este barro e o torna belo! Mas mesmo que belo, somos frágeis! É neste mistério que somos baptizados, é nesta família de amor que somos acolhidos...

Pensemos neste mistérios e, sobretudo, sejamos capazes de acolher esta família de amor que nos trata e cuida, que nos guia e fortalece e que nos abraça na nossa pequenez e fragilidade. 

Por fim, partilho um poema que me diz muito sobre a Trindade:

Deus, loucura do mundo, 
adoração e vertigem dos que procuram a tua face
através das coisas visíveis

dá à nossa o encanto dos descobrimentos
e a sabedoria das margens
onde te chama o nosso desejo
e a nossa viagem a caminho do teu Nome,

Deus que vens em Jesus Cristo iluminador
e no Espírito da verdade,
longo caminho de muitos caminhos,
deste fim de tarde ao começo e ao fim
da nossa esperança

Fr. José Augusto Mourão, OP, 
in O NOME E A FORMA

Bom Domingo!

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