«Quem merece são os pobres»

Tal como disse alguém há uns tempos: «Há mais barulho por um avião que caia, do que por milhões que cumprem a sua missão». 

De facto, o mundo tem tido notícias bastante tristes sobre pessoas da Igreja que fazem mal, que são corrompidos pelo mal, que fazem coisas que não deviam ser feitas por pessoas da Igreja (desde Bispos a fiéis leigos). E isto é notícia... não uma vez, mas uma semana inteira! Porém, ninguém se lembra daqueles cristãos mais discretos que se preocupam em fazer o bem... esses não vendem, logo não os noticiamos. É triste!

E digo isto porque, no passado domingo, foram nomeados novos cardeais, entre eles um português e que está a dar muito que falar, logo... não irei falar desse! Mas quero falar-vos de um outro que conhecemos de vista, mas que deixou de aparecer e é uma presença discreta. 

D. Konrad Krajewski
Nasceu na Polônia, em 1963, e mora em Roma, desde 1990, onde se formou em Teologia com especialização em Liturgia na Pontifícia Universidade de S. Tomás. Foi nomeado, em 1998, para trabalhar junto do Departamento das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice e, em 12 de maio de 1999, foi nomeado Cerimoniário Pontifício. A 3 de Agosto de 2013, Papa Francisco nomeou-o Esmoleiro e Arcebispo Titular de Benevento.


O Esmoleiro Pontifício é a mão da caridade do Papa, ou seja, é o responsável pela ajuda e distribuição de bens àqueles que nada têm, sobretudo aos pobres da cidade de Roma, da qual o Papa é Bispo. A Esmolaria Apostólica estava confinada a um escritório no Vaticano e limitava-se a enviar dinheiro para causas sociais. Porém, o nosso Papa Francisco veio dar uma nova função a este ofício. Numa entrevista, o Arcebispo polaco reproduziu as palavras do Papa Francisco, aquando da sua nomeação para Esmoleiro: "Pode vender a sua secretária, já que não vai precisar dela.Precisa, isso sim, sair do Vaticano. Não espere que as pessoas batam à sua porta. Tem que sair e cuidar dos pobres". E foi o que ele fez.

Lembro-me de ter cruzado com ele, em Roma, e impressionou-me. Sempre o vi com batina, roquetes e numa posição muito rígida durante as celebrações com o Papa. Mas, em Roma, vi-o como um homem simples, sentado nas arcadas da Praça de São Pedro a falar com algumas pessoas que deveriam ser os seus «amigos pobres». 

Mas, porque queria eu falar deste Arcebispo? É um facto que os maiores actos de caridade acontecessem no segredo, na discrição e na vontade de amar e não para as câmaras. É o que este homem tem feito...

Desde que ele tomou posse do ofício que o Vaticano tem mudado muito: criação de um albergue, chuveiros, barbearia e lavandaria para pessoas sem-abrigo do Vaticano e arredores, passeios à praia com os sem-abrigo, passeio pelos museus do Vaticano, etc... 

Segundo alguns, quando o Papa trouxe para o Vaticano alguns refugiados, depois de uma visita a um campo de refugiados, juntamente com o Patriarca Grego, este Arcebispo cedeu o seu apartamento e, desde então, tem vivido no próprio escritório da Esmolaria e não considera que este acto seja heróico. Cede o seu apartamento às famílias de refugiados e ajuda-as a procurar emprego, a tornarem-se independentes e a procurar alojamento definitivo. Na entrevista que deu, depois de se saber os nomes dos novos cardeais, disse a propósito do seu apartamento: "Há algumas semanas, chegaram outras famílias e a coisa bonita é que pela primeira vez, na minha casa, nasceu uma bela menina. E eu confesso: sinto-me uma espécie de avô, um tio. É a vida que continua, dom de Deus".

A propósito da nomeação disse: "esta púrpura é de todos os voluntários, e todos os que saem à noite para ajudar… mesmo hoje, nesta noite vamos ao bairro Ostiense… não muda nada, mas creio que seja um reconhecimento para eles" e, ainda, "lembrei-me que os primeiros cardeais eram diáconos, eram aqueles que serviam os pobres, porque os diáconos são para os pobres…". Concluindo, afirmava, "esta nomeação é para os pobres". 

É na discrição, no trabalho, na saída do nosso espaço de conforto que encontramos Jesus. Sim, nos pobres, nos que precisam, nos doentes... Estes são, de facto, tal como dizia o Papa Francisco, «a riqueza da Igreja». 

Que belo testemunho nos dá este novo Cardeal e que esta nomeação não o faça distrair da sua missão, mas antes a fortaleça.

Bem haja pela caridade que pratica!

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