Primeira e última romaria

Na minha terra costuma dizer-se que com S. Gonçalo começam as festas e com a Senhora do Rosário terminam. São dois marcos do círculo festivo de Gaia e que, por acasociaciones,  são duas evocações dominicanas.

Quem é que nunca ouviu a cantilena: "o santo é nosso, o corno é vosso" ou ainda "O santo é nosso... É, é, é!". São os gritos de ordem que imperam na romaria ao São Gonçalo de Amarante.

Diz a lenda que houve uma grande inundação e que a cabeça de um santo veio parar às margens do Rio Douro, na parte de Gaia.

Outros dizem que a romaria teve inicio em 1394, aquando da criação da confraria de S. Gonçalo, na Igreja do Corpo Santo de Massarelos. Como o S. Gonçalo era o padroeiro dos navegantes, os navegantes de Gaia eram obrigados a ir ao Porto para as festas. Mais tarde, descontentes com esta ideia, pediram a rei D. Manuel I para que, no domingo seguinte ao dia 10 de Janeiro, organizassem uma procissão em Gaia para não terem que se deslocar ao Porto. O rei concedeu e, alguns historiadores afirmam que os gaienses roubaram a cabeça do santo, deixando apenas o resplendor (corno), mas não há bases históricas.

A partir daí no Domingo seguinte ao dia 10, os mareantes do Rio Douro saem à rua e proclamam que o santo é nosso (de Gaia).

Mas, quem foi S. Gonçalo?

S. Gonçalo nasceu em Tagilde (Guimarães), de uma família nobre e cursou Teologia na escola da Arquidiocese Bracarense. Foi pároco, mas desejava conhecer os lugares Santos.  Então,  saindo da paróquia empreendeu uma viagem e foi conhecer Roma e Jerusalém. Quando voltou, o Bispo não o aceitou e deslocou-se para uma das margens do Tâmega, construindo uma pequena eremita dedicada à Senhora da Assunção. Impôs-se grandes jejuns e penitências, vivendo uma vida austera e de oração. Conta a lenda que lhe apareceu Nossa Senhora e que lhe pediu para se juntar à Ordem que começava o ofício com o Angelus ou a Ave Maria. Foi até Guimarães e encontrou o convento dos Dominicanos, recém fundado por S. Pedro Telmo e acabou por estar no ofício e rapidamente se juntou à Ordem dos Pregadores. Depois de ter emitido a profissão, voltou ao ermiterio e aí desenvolveu o seu ministério de pregação, de caridade e social. A ele se deve a construção da ponte em granito ao lado do convento (do século XVI). 

Foi sepultado na eremita que, com João III, passou a incorporar a actual Igreja.

Portanto, ainda que Beato, o povo nortenho nutre uma grande e sincera devoção a S. Gonçalo (casamenteiro das velhas), patrono dos mareantes, intercessor dos pobres e doentes, etc...ainda hoje atribuindo milagres.

Que não nos fiquemos pelas romarias, mas que elas sejam um sinal de devoção e, sobretudo, que nos levem a imitar as virtudes do nosso Beato Gonçalo.

Para concluir, se tiverem tempo façam uma pequena pesquisa sobre cantigas a São Gonçalo. São engraçadas, mas não as podia colocar aqui pelo conteúdo. Mas deixo o início de uma: São Gonçalo de Amarante / que estáis voltado para a vila / virai-vos para o outro lado / ...

(Baseado em tradições orais. Pode conter erros históricos)

Pax Christi! 

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