Para dar fruto

Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós.
Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, 
se não permanecer na videira, assim também vós, 
se não permanecerdes em Mim.
Eu sou a videira, vós sois os ramos.
Se alguém permanece em Mim e Eu nele, 
esse dá muito fruto, 
porque 
sem Mim nada podeis fazer.

Se, na passada semana a expressão que dava o mote e tema era o «Pastor e as ovelhas», esta semana a metáfora centra-se na «Videira e os ramos». Se na semana passada o verbo destacado é o «conhecer», esta semana é o «permanecer». 

Ao longo do tempo Pascal vamos escutando o Evangelho de São João e a liturgia convida-nos a fazer uma analepse, para que, tal como os discípulos de Emaús, sejamos iluminados e se nos abra o entendimento. Por isso, voltamos ao ambiente da Última Ceia, ouvindo os discursos de Jesus e assim podemos compreender, à luz do mistério pascal, o que Jesus tinha anunciado.

Contudo, o Evangelho de João é um evangelho cheio de metáforas, analogias, comparações e símbolos, tal como o da videira e dos ramos.

Eu sou de uma zona em que já só vemos o resultado final de um processo, como é o Vinho do Porto. Em Gaia são armazenadas as pipas com o vinho já tratado, como produto pronto a vender. Porém, quem se desloca à zona do Alto Douro e aí visita uma vinha, perceberá melhor o que é isto de vinhas, ramos e frutos.

Não um expert da cultura vinícola, mas sempre gostei de perceber como funcionam as coisas e, ontem, em conversa com um amigo daquelas zonas perguntei-lhe como é que cuidavam das vinhas. Ele explicou tudo muito pormenorizadamente, mas contou-me, sobretudo, como era os cuidados para com a vinha: «É preciso muita paciência e dedicação. Todos os dias é necessário passear pela vinha», dizia ele, «Todos os dias é preciso ir com uma tesoura e ver se há algo para cortar, algo que apodreceu, alguma erva que se misturou, algum cacho que esta a crescer contra a estaca».

Ora, logo aqui já percebemos o que Jesus queria dizer: uma vinha (a Igreja) requer muito trabalho e vigilância por parte do agricultor (o Pai) e todos os ramos têm de estar ligados à videira (Jesus) para dar frutos.

E dizia este meu amigo: «Quando se corta um galho da videira, rapidamente ele seca». Assim acontece connosco, pois se deixarmos de estar ligados à videira, secamos. Nós somos esses ramos! Às vezes, somos cortados pelo agricultor, outras vezes uma rajada de vento acaba com a nossa ligação à videira e outras, ainda, somos nós mesmos que nos deixamos secar.

Alto Douro Vinhateiro:
Património da Humanidade
Uma das 7 Maravilhas de Portugal
É muito difícil ser uma vinha frondosa porque, tantas vezes, nos desligamos da vinha, deste tronco principal que é Cristo que nos alimenta, que nos protege, que nos dá os nutrientes necessários para a nossa existência. Mas, para ser uma vinha frondosa, bela e com muitos frutos, só há uma atitude necessária: Permanecer!

Que faço eu para permanecer unido a Cristo? Será que tomamos consciência de que somos apenas um pequeno ramo desta vinha ou julgamo-nos ser uma videira?

Claro que seria muito mais fácil sermos uma videira: buscamos o nosso próprio alimento, procuramos o nosso próprio sustento, procuramos a nossa própria sombra, mas... será isto permanecer? A busca da nossa auto-afirmação, de sermos nós o centro não fará que as outras videiras deixem de dar frutos?

Que futuro queremos para a nossa vinha? Queremos uma vinha frondosa, bela, harmoniosa ou uma vinha solitária, murcha e seca?

Assim, poderíamos puxar o exemplo para a nossa Igreja: esta vinha, de que Deus é o agricultor, mas onde há tantos vinhateiros que a querem para eles, fazendo-se o centro das atenções, indo contra aqueles que a cuidam, fazendo de um ramo seco uma vinha. Há ramos secos que necessitam de poda, não para os afastar, não para os deitar fora mas para deixar que a vinha floresça.

Dizia, ainda, este amigo: «Não deitamos os ramos todos fora. Alguns aproveitamos para plantar novas vinhas, fazemos enxertos e voltamos a plantar». Isto para dizer que um ramo que não produz nesta videira, pode ser trabalhado e tratado para dar fruto e, por isso, podemos dizer que os ramos, mesmo aqueles que não dão fruto agora, não estão fora da vinha, mas precisam de ser cuidados, enxertados e plantados para que possam viver de novo.

Que tipo de ramos somos nós? Estamos ligados à vinha ou precisamos de ser cortados, tratados e convertidos? 

Como vêem, esta imagem da videira dá para muitas reflexões e para muitas outras analogias com a nossa própria vida. Mas, sem dúvida, que o mais importante é permanecer em Cristo, porque sem Ele nada poderemos fazer e, só assim, poderemos ser uma vinha bela e frondosa, ou seja, uma Igreja unida ao seu Cristo e cuidada por Deus. 

Por fim, quero agradecer ao meu amigo Ricardo pela grande e exaustiva explicação e desejo-lhe que a sua vinha possa dar muito fruto este ano. 

Bom Domingo!

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