Um novo «Pentecostes Dominicano»?

Hoje, em Fátima, tiveram lugar as Jornadas da Província Portuguesa da Ordem de São Domingos, com o tema «Formação Permanente». De manhã ouvimos uma conferência, proferida pelo fr. Bento, em que nos mostrou qual a importância do estudo na Ordem e como esse estudo deve estar ao serviço da Pregação. 

Há uns dias, o Prior Provincial veio pedir-me para fazer a pregação da Eucaristia. Ora bem, pregar a pregadores é difícil... mas lá aceitei o desafio e esforcei-me por passar uma mensagem. 

As linhas que abaixo escrevo são parte da homilia que fiz neste dia, já que apenas levei, num papel, o 'esqueleto' da mesma.

«Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura»

Se quiséssemos escolher umas leituras que melhor ilustrassem a nossa missão enquanto Ordem, seria impossível, já que os textos que hoje escutamos na Festa de São Marcos são os melhores para nos caracterizarem.

O Evangelho de Marcos é um evangelho muito particular, já que se limita ao essencial, já que relata apenas o essencial da vida e da missão de Jesus e não se perde em pormenores. Este evangelho é um Evangelho puramente baptismal e é impossível ficar-se indiferente diante dele. 

E o que é essencial? Confessar que Jesus é o Filho de Deus. É isto que acontece em três momentos ao longo de todo o evangelho. Acontece no Baptismo, quando o Espírito Santo desce sobre Jesus e a voz anuncia: «Este é o Meu Filho muito amado...»; acontece na Transfiguração, onde a mesma voz proclama: «Este é o Meu Filho muito amado» e, por fim, acontece na Cruz, quando um pagão, um homem fora do ambiente judaico confessa: «Este é verdadeiramente o Filho de Deus». Assim vemos que este é o tema central do evangelho de Marcos. 

Mas este Evangelho é, também, um evangelho da Igreja. Alguns exegetas afirmam que este Evangelho tem duas conclusões e o trecho que acabamos de escutar situa-se na segunda conclusão, que terá sido um aumento que a comunidade cristã fez. 

O mais interessante é que este aumento começa exactamente com as mesmas palavras que deram início ao ministério de Jesus: «Completou-se o tempo e está próximo o Reino dos Céus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Assim, a segunda conclusão, depois do tempo completado é o tempo da Igreja, no qual os próprios discípulos são enviados: «Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura». Assim dá-se o movimento contínuo da pregação: recebemos, assimilamos e transmitimos. É a nossa missão: receber o Evangelho, tomar consciência de que somos filhos no Filho e anunciar o que recebemos para que outros se convertam.

O ano passado celebramos os 800 anos da fundação da Ordem mas, porque envolvidos nestas celebrações, talvez nos tenhamos esquecido de um acontecimento mais importante que se deu a 15 de Agosto de 1217, o chamado «Pentecostes Dominicano». Assim, naquela colina da dispersão, em Prouille, Domingos dispersou os seus irmãos e enviou-os a estudar, a fundar conventos e a pregar. É o que Jesus fez aos seus discípulos. 

Somos enviados, à semelhança dos apóstolos, a pregar o Evangelho a toda a criatura e, tal como diz o parágrafo IV da nossa constituição fundamental, a imitar a sua vida através da oração, do estudo, da vida fraterna e da pregação. 

Porque não fazer deste encontro de Família Dominicana e de Província um novo «Pentecostes Dominicano»?

Assim foi a minha homilia...

Por fim, não quero deixar passar este dia sem fazer uma referência ao dia que hoje celebramos, o 25 de Abril. Faço-o com a prece que um irmão fez nas laudes de hoje e que dizia:

«Neste dia em que comemoramos um dia emblemático para a história de Portugal, peçamos ao Senhor que dê aos nossos governantes o auxílio necessário para conservar, no nosso país, os valores da liberdade, da justiça e da paz».

Pax Christi!

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