Dom do acolhimento


O Evangelho deste Domingo é quase sabido por todos, é a parábola do filho pródigo ou, como alguns já começam a chamar, a parábola do Pai bom. Enfim... Tudo para falar da misericórdia e da conversão de vida. 

Para Deus, o arrependimento é já uma conversão, ainda que o filho pródigo não se tenha movido de um arrependimento autêntico, mas de um arrependimento de circunstância (tinha fome!), o que também é válido! Este arrependimento de circunstância é, por vezes, o impulso necessário para uma conversão séria e autêntica. 

A conversão é um caminho, uma vida que se percorre e não é nada automático, pois implica toda a nossa vida, implica mudança, implica fazer opções, implica, enfim, pensar e repensar toda a vida. Dizem que o Papa Francisco afirmou numa das suas audiências (ainda não encontrei o texto que o comprove): «A Igreja não é um museu de Santos, mas um hospital de pecadores». 

A Igreja, em todas as suas formas e expressões, deve ser o Pai da parábola, de braços abertos, que sai ao encontro, que se abraça aos seus filhos e os reveste de uma nova túnica, a mais bela de todas. De facto, a Igreja deve acolher todos os filhos, nenhum pode ficar de fora, nenhum pode ser a ovelha perdida, todos devemos estar no redil. Afinal, é isso que afirmamos no Credo: «Creio na Igreja UNA...». 

Mas mais que a atitude da conversão e do perdão, da misericórdia e do sair ao encontro, gosto de uma outra atitude, a do acolhimento! Nós, os cristãos, temos uma função muito importante que é o acolhimento. Temos de saber acolher... temos de entender que a porta deve estar aberta e quem aparece é bem recebido... 

Há um fado da Amália que acho que resume toda esta atitude do acolhimento. E diz assim:

Numa casa portuguesa fica bem
Pão e vinho sobre a mesa
E se à porta humildemente bate alguém
Senta-se à mesa co'a gente
Fica bem esta franqueza, fica bem
Que o povo nunca desmente
A alegria da pobreza
Está nesta grande riqueza
De dar, e ficar contente.

Se, na época, este era o sentimento das gentes, muito mais hoje se deve retomar esta atitude do acolhimento, mas com franqueza, com alegria, com generosidade e autenticidade... 

Por isso, é na atitude do Pai bom que nos devemos centrar, nesta alegria genuína de receber aquele filho que o leva a celebrar com todos esse regresso que, certamente, no seu coração, ansiava. 

Mas nós, dominicanos, hoje, temos também um acontecimento importante: começam o noviciado oito jovens, provenientes de Angola e Portugal, neste convento onde vivo e hoje é a sua tomada de hábito. 

Também nós, frades, abrimos as portas para que estes jovens iniciem um caminho importante na sua vida, tal como eu comecei há dois anos atrás e também me acolheram. Como dizia um frade no dia da minha tomada de hábito: «Hoje nós acolhemos, amanhã sereis vós a fazê-lo com outros».

Cumpre-se, assim, aquela passagem do Evangelho de hoje em que o pai diz: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos'. Para nós, dominicanos, hoje é o dia de vestir a melhor túnica a estes jovens, o hábito da Ordem dos Pregadores.

Que este dia seja para eles o primeiro dia do resto das suas vidas, tal como diz a música. Que dispam o homem velho e se revistam do homem novo. Que o Senhor lhes conceda um bom caminhar na Ordem e com a Ordem... nós cá estamos para acolher!

Assim sendo, temos de procurar abrir as portas, não só as físicas, mas as do nosso coração para acolhermos aqueles que batem à nossa porta por variadíssimas razões. Que eles encontrem em nós, aquela atitude do Pai bom, de correr ao encontro, de lhes vestir um traje de festa... e que nos alegremos por eles e com eles!

Acolhamos...

Pax Christi!

Comentários