Ser SAL e LUZ ao SERVIÇO

«Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 
"Vós sois o sal da terra. [...]
Vós sois a luz do mundo".»

Partilho algumas pistas de leitura, através de analogias, para compreender o Evangelho deste Domingo. Certamente, já estamos habituados a ler este trecho e pensamos que já sabemos o que nos diz: temos de ser sal e luz! Ponto... 

Três momentos da minha reflexão: ser sal, ser luz e não se esconder.

A linguagem culinária tem um termo que eu acho interessante: q.b (quanto baste). É um termo muito lato, depende do palato de cada um, do gosto de cada um, depende daquilo que gostamos ou não ou, ainda, depende da saúde de cada um. 

Mas este termo cai muito bem neste evangelho; na receita do cristão devia ter um item que diz: 'Sal q.b.'. O cristão não pode ser insosso, nem salgado, mas deve ter o sabor correcto, isto é, o sabor de Deus. 



Deus nos livre de uma vida insossa! Uma vida vazia, uma vida superficial, uma vida de aparência. O cristão tem de ter sabor, porque configurada ao bom sabor de Cristo que saboreamos e experimentamos na nossa vida sempre. 

Deus nos livre de uma vida salgada! Uma vida tão cheia de coisas, sem espaço para mais, saturada de sabor, saturada de vícios, saturada de certezas que, quando se prova, rejeita-se. 

A medida q.b. é a medida de Cristo que soube dar sabor à vida de todos aqueles que com ele se cruzaram (e cruzam). A medida q.b. é aquela que, com o seu ténue e bom sabor, causa admiração, causa ânsia de saborear mais. É assim que a nossa vida tem de ser... saborosa, cheia de Cristo para que todos vejam e saboreiem, em nós, o sabor de Jesus. 

Porém, Jesus fala, também, de ser luz! Nos nossos carros, as luzes têm três modos: mínimos, médios e máximos. 



Os mínimos não iluminam quase nada, apenas são um sinal de presença na estrada quando faz nevoeiro, ou chove. Não podemos ser esta luz fraca, apenas uma presença...

Os máximos, mal utilizados, encandeiam os outros condutores e, por isso, só em alguns casos devem ser utilizados apenas para ver, momentaneamente, se existe algum obstáculo na estrada. 

Os médios são a luz que buscamos: uma luz ténue que ilumina, mas não encandeia; uma luz ténue que ilumina, mas que deixa que os outros vejam. Esta é a luz que os cristãos devem ser... A nossa luz não pode, nem deve, ofuscar os outros.

São apenas analogias para dar a entender que o cristão não pode ser de extremos, mas tem de ser de meios, isto é, moderados na maneira de viver para que sobressaia da sua vida, um rosto, uma luz, uma pessoa: Jesus Cristo!

São Tomás de Aquino, tem uma frase que nós, dominicanos, assumimos como lema: «Contemplarii et contemplata aliis tradere» (Contemplar e dar o contemplado). A parte final do Evangelho vem, na minha opinião, ao encontro desta expressão. Nós contemplamos não para sermos os donos da Verdade, mas para a partilhar com os outros. 

Assim, a luz que somos tem de ser partilhada, tem de se dar a conhecer, tem de brilhar. Não podemos esconder a nossa luz - reflexo da luz de Cristo - debaixo do alqueire. Assim, também nós devemos deixar brilhar a luz, não a podemos despedir da sua função. 

Quando leio a frase: «não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte», lembro-me de alguns monumentos portugueses que são exemplo disto: o Monte da Virgem (Gaia), a Senhora da Saúde (Carvalhos), São Domingos da Serra (Castelo de Paiva), o Cristo Rei da Marofa (Figueira de Castelo Rodrigo), o monte de Santa Luzia (Viana do Castelo). São lugares visíveis, mesmo à distância. Assim devemos ser nós... visíveis por todos. 



O cristão não se pode esconder, o cristão não se pode camuflar no meio do mundo, deve ser visível, deve ser esta cidade situada no alto do monte que irradia luz. Não nos podemos isentar de ser sinal visível no Mundo. Jesus diz-nos como tem de ser a nossa visibilidade: «para que vendo as vossas boas obras». 

É o grande testemunho que podemos dar de Cristo no Mundo, não ser indiferentes ao sofrimento do outro, meu semelhante, meu irmão e minha irmã. Só assim seremos Luz que ilumina a vida de tantos e tantas que vivem nas sombras de uma vida triste e difícil; só assim seremos sal que dá o sabor da alegria e da ternura, cuja vida perdeu o sabor por causa do sofrimento; e, por fim, seremos esta cidade no alto de um monte. 

Peçamos a Deus a graça de sermos sal (q.b), de sermos luz. Peçamos a Deus para que nos dê o dom da moderação, do equilíbrio para que a nossa luz nos ajude a ajudar e o nosso sal ajude a dar sabor à vida dos que nos rodeiam.  

Bom domingo!

Comentários