Tremendum et Fascinans
«Arrebatas-me, fazes-me cavalgar o tufão, aniquilas-me na tempestade.»
Job 30, 22
A revelação que Deus faz de si é sempre algo imprevisível. Umas vezes é como uma leve brisa, como com Elias; outras é no abismo, como a Qoelet; outras ainda, numa tempestade, como em Job. É a imprevisibilidade de Deus que nos faz estar atentos e, sobretudo, não nos deixa acomodar a uma certa imagem.
Esta postagem baseia-se nos recentes acontecimentos na minha terra, onde o mau tempo abunda e faz muitos estragos. Ao receber várias imagens de pessoas amigas, sobretudo de um lugar, quero fazer uma reflexão...
Certamente que sabem que o concelho de Vila Nova de Gaia tem sido bastante afectado com a tempestade Dóris. Dizia, ontem, um amigo em jeito de brincadeira: «É engraçado que as grandes tempestades têm sempre o nome de mulheres!». Uma brincadeira para desanuviar da grave situação.
Atentemos na imagem:
Certamente que conhecemos esta bela paisagem. Trata-se da Capela do Senhor da Pedra, uma capelinha no meio da praia, entre o mar e o areal e que ao pôr-do-sol, esta imagem idílica cria um ambiente mágico.
Mas, este lugar, estes dias tem sido notícia, mas não pelos melhores motivos. O mar revolto tem tomado conta do areal e daquela área, criando um autêntico cenário de horror, pelos menos para os gaienses que, certamente, já passaram pela zona.
Recolhi algumas fotos destes dias de tempestade e... que diferença!!! Vejam:
É surpreendente a força do mar, a força da tempestade, mas mais que essa força extraordinária é a força de Deus e a sua fortaleza. Tanta coisa que estava na praia e que foi «engolida» pelo mar, mas a capela permanece ali, à vista de todos, erguida como sinal de esperança de que Deus ali está, no meio da fúria das ondas, no meio da tempestade.
Rudolf Otto, um teólogo, dizia Deus como «mysterium tremendum et fascinans», isto é que faz estremecer, mas que é fascinante. É assim que sentimos a força e o poder deste Outro nas nossas vidas.
Aquela capela, construída sobre a rocha, uma imagem bonita de Deus que, várias vezes, encontramos na Sagrada Escritura, e que refere Deus como a rocha, tal como em II Samuel 22, 3: «mas Deus é a minha rocha onde encontro o meu refúgio, meu escudo e força de minha salvação, minha cidadela e meu refúgio».
Estas imagens de Deus são para nós uma oportunidade para pensar em que rocha assentamos, se construímos a nossa vida sobre a rocha ou sobre a areia e quais são as tempestades da nossa vida... dá que pensar!!!
Quero, para terminar, que à semelhança do ano passado, iniciarei um caminho quaresmal aqui neste blog. Este ano, em vez de ser uma reflexão em torno ao Evangelho do Dia, farei um caminho quaresmal à luz do Livro de Job. Espero que seja proveitoso para todos os leitores e, claro, para mim também!
Mostrando a minha solidariedade para todos aqueles que sofrem com esta tempestade em Gaia, acompanho-os na minha oração. Que essa capela no meio do mar, construída sobre a rocha, mas firme, dê esperança... o nosso Deus continua ali!
Pax Christi!
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