Humildade e Paciência

Começamos, ontem, a Semana Santa ou Semana Maior dos Cristãos, pois nela meditamos mais de perto nos mistérios de Jesus Cristo, sobretudo no Tríduo Pascal. São três dias simbólicos, que concretizam as palavras de Jesus, quando disse: «Destruí este templo e eu em três dias o levantarei». Todos os anos procuro meditar estes três dias à luz de algum tema e, este ano, escolhi o tema das virtudes teologais: a Fé, a Esperança e a Caridade. Assim, associei a Caridade com a Sexta-feira Santa (que começa já na quinta-feira), a Esperança com o Sábado Santo e a Fé à Páscoa. São estas reflexões que irão acompanhar as publicações dos próximos dias.

Mas esta Semana Santa está associada, também, à meditação das últimas Sete Palavras de Cristo na Cruz e, antigamente, costumavam-se fazer pregações em todas as igrejas sobre elas. Hoje, este exercício quase que caiu em desuso e apenas em alguns países - por exemplo, em Espanha - ainda se mantêm. 

Elas são sete, mas eu não vou aqui comentar as sete, mas apenas quatro delas.

«Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem!»

«ο δε Iησους ελεγεν πατερ αφες αυτοις ου γαρ οιδασιν τι ποιουσιν 

διαμεριζομενοι δε τα ιματια αυτου εβαλον κληρον»

O Perdão é, talvez, a atitude cristã que nos dá mais trabalho e que exige mais de nós. Perdoar não é apenas desculpar uma má atitude, um mau sentimento ou uma má acção: perdoar é dar amor àqueles que nos provocam e nos fazem mal. 

Do alto da Cruz, Jesus implora o perdão do Pai para aqueles que o crucificam e maltratam. Jesus compadece-se de todos sem excepção, mesmo aqueles que lhe fazem mal e o acusaram; mesmo daquele que o traiu e o entregou, mesmo daquele que lhe deu a bofetada, mesmo daquele que lhe cravou na cabeça a coroa de espinhos, mesmo aquele que o cravou na cruz. É este o nosso Deus... o Deus do perdão e do amor. 

Jesus, crucificado naquele madeiro, não deixa de ser o que é, não deixa que a dor lhe transvie o coração e o enfureça contra aqueles que lhe fazem mal. Jesus apenas sobre silenciosa e pacientemente.

No meu noviciado, em Sevilha, uma das evocações de Jesus, numa das procissões da Semana Santa, é a de Santísimo Cristo de la Humildad y Paciencia. Na imagem, Cristo aparece sentado sobre uma rocha, com a mão apoiada no joelho e com a cabeça apoiada na mão, com um rost tranquilo e sereno. São João Crisóstomo chega a chamar à Paixão de Escola de Paciência, por causa deste perdão amoroso de Deus.

É assim que Cristo está na Cruz. De tão sereno que estava, não pede a Deus que o faça descer da Cruz, mas pede o perdão para aqueles que o crucificaram e maltrataram. 

Ficam as perguntas: Já senti, na minha vida, o perdão de Deus? Será que perdoei sempre e gratuitamente? Será que sei o significado do perdão?

Pax Christi!