Que comércio fazemos?

Fez então um chicote de cordas e 
expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois;
deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas;

Esta tarde dediquei-me a ler o Evangelho de S. Marcos e algumas passagens do Evangelho de S. João mas numa tentativa de encontrar nas suas páginas os sentimentos de Jesus. E porquê? A Quaresma é um tempo de procurar configurar a nossa vida à vida de Cristo, já que, durante o resto do ano, nos desviamos e confundimos caminhos e, por isso, nos afastamos. Daí a «Metánoia» (Conversão), o regresso aos caminhos de Deus.

É muito interessante ler os Evangelhos nesta perspectiva, porque descobrimos um Jesus com sentimentos, profundamente humano e, ao mesmo tempo, com uma paciência e dedicação para com o Homem, que só Deus pode ter. 

Mas a passagem acima citada é a única - que eu tivesse encontrado - onde Jesus fica verdadeiramente irritado com toda aquela situação, já que, mesmo traído, Jesus permanece calmo; mesmo flagelado, permanece firme e pacífico. 

E nós? E eu? E tu? Como reages às situações mais difíceis da tua vida?
Somos, naturalmente, seres conflituosos e, tantas vezes, fazemos - como diz o povo, e bem! - «uma tempestade num copo de água». 

Mas isto acontece por um motivo simples e claro: não deixamos que Jesus expulse os vendilhões do nosso templo (entenda-se coração). E quantos vendilhões temos... 

Vendemos o coração por pouco... sim, incluo-me a mim, gostamos de vender o nosso coração: reconhecimento, ser o centro das atenções, dar importância ao supérfluo, dos primeiros lugares. É por isto que vendemos o coração? O melhor comércio que podemos fazer é o de dar o nosso coração a Deus e aos outros, sem estar à procura de reconhecimento, de que os outros digam que somos os melhores, que fazemos isto ou aquilo bem... puro dom gratuito. 

No Colégio onde tenho ido, uma das turmas dos mais pequenos, ainda há dias um aluno dizia: «Frei, o único que Jesus nos pede é o nosso coração. É isso que temos de dar e é o que nos vai dar um lugarzinho no céu!». E reparem que era um miúdo. E isto vinha a propósito desta imagem (ao lado).
É altura de pensarmos o tipo de comércio que fazemos nas nossas vidas: é o comércio admirável da entrega a Deus? Ou é o da troca por troca? 

Não será que precisamos de que Jesus faça um chicote e expulse todos os vendilhões do nosso templo? Dói, move e comove, mas ao fim tudo fica mais puro e mais belo. 


Deixemos Jesus limpar a nossa casa do comércio que andamos a fazer, pois Ele tira umas coisas, mas enche o vazio com a sua presença.

Pax Christi!

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