S. João Crisóstomo

Estou a fazer o meu trabalho de Teologia Patrística e deparei-me com este belo texto de S. João Crisóstomo. Leiam e vejam a profundidade disto:

«Queres honrar o corpo de Cristo? Não o desprezes quando nu; não o honres aqui com vestes de seda e abandones fora no frio e na nudez o aflito. Pois aquele que disse: Isto é o meu corpo (Mt 26,26) e confirmou com o ato a palavra, é o mesmo que falou: Tu me viste faminto e não me alimentaste (cf. Mt 25,35); e: O que não fizeste a um destes mais pequeninos, não o fizeste a mim (cf. Mt 25,45). Este não tem necessidade de vestes, mas de corações puros, aquele, porém, precisa de grande cuidado. 

Aprendamos, portanto, a raciocinar e a reverenciar a Cristo como lhe agrada. A honra mais agradável a quem se deseja honrar é aquela que ele prefere, não aquela que julgamos melhor. Pedro, por exemplo, julgava honrá-lo, não permitindo lavar-lhe os pés; mas o que queria não vinha a ser honra, mas exactamente o contrário. Assim, honra-o tu com a honra prescrita em lei, distribuindo tua fortuna com os pobres. Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas de ouro.  
Digo isto, não para proibir que haja dádivas, mas que com elas e antes delas se dêem esmolas. Porque ele aceita aquelas, porém, muito mais estas. Daquelas só quem oferece tem lucro; destas, também aquele que recebe. Lá o dom parece ser ocasião de ostentação; aqui só pode ser compaixão e benignidade.  

Que proveito haveria, se a mesa de Cristo está coberta de taças de ouro e ele próprio morre de fome? Sacia primeiro o faminto e, depois, do que sobrar, adorna sua mesa. Fazes um cálice de ouro e não dás um copo de água? Que necessidade há de cobrir a mesa com véus tecidos de ouro, se não lhe concederes nem mesmo a coberta necessária? Que lucro haverá? Diz-me: se vês alguém que precisa de alimento e, deixando-o lá, vais rodear a mesa, de ouro, será que te agradecerá ou, ao contrário, se indignará? Que acontecerá se ao vê-lo coberto de andrajos e morto de frio, deixando de dar as vestes, mandas levantar colunas douradas, declarando fazê-lo em sua honra? Não se julgaria isto objecto de zombaria e extrema afronta?  

Pensa também isto a respeito de Cristo, quando errante e peregrino vagueia sem tecto. Não o recebes como hóspede, mas ornas o pavimento, as paredes e os capitéis das colunas, prendes com cadeias de prata as lâmpadas, e a ele, preso em grilhões no cárcere, nem sequer te atreves a vê-lo. Torno a dizer que não proíbo tais adornos, mas que com eles haja também cuidado pelos outros. Ou melhor, exorto a que se faça isto em primeiro lugar. Daquilo, se alguém não o faz, jamais é acusado; isto porém, se alguém o negligencia, provoca-lhe a geena e fogo inextinguível, suplício com os demónios. Por conseguinte, enquanto adornas a casa, não desprezes o irmão aflito, pois ele é mais precioso que o templo.»

A tradução não é a melhor, mas é a possível...

Cfr. Hom Math. 50,3-4: PG 58,508-509

Comentários