A privação

Na Quarta-feira de Cinzas, ouvimos a importância que o Jejum deve ter na vida dos fiéis. Não o Jejum teórico, mas o ser capaz de renunciar ao supérfluo da vida e abraçar o mais importante. Cada vez mais me convenço que o que vamos adquirindo nos dificulta a vida e nos vai tornando dependentes de coisas e mais coisas (Contra mim falo!!!).

No Processo de Canonização de São Domingos, vem várias vezes referido que São Domingos exortava os irmãos a viverem na simplicidade e que não lhes fossem dados luxos, nem no comer nem no vestir. Mais ainda, quando enviava os irmãos a pregar, exortava-os a que não levassem nada e que vivessem da mendicidade... Isto é, a viverem com o essencial.

A nossa tentação de sermos reconhecidos pelos homens leva ao afastamento de Deus... 
Não rezamos porque fica bonito que nos vejam a entrar na Igreja e a rezar, não damos esmola para ganhar uma estátua ou uma placa (só a do cemitério!), não jejuamos para que os outros admirem a nossa vida austera... Isto vale de pouco, porque é cair na 'devoçãozinha'!!! 

Fazemos porque estas nossas atitudes têm um sentido e querem ser a expressão do nosso sentir e do nosso interior!

Mas a leitura de Isaías que hoje escutamos ou escutaremos na Missa fala-nos do Jejum:

‘De que nos serve jejuar, se não Vos importais com isso? De que nos serve fazer penitência, se não prestais atenção?’ Porque nos dias de jejum correis para os vossos negócios e oprimis todos os vossos servos. 
Jejuais, sim, mas no meio de contendas e discussões e dando punhadas sem piedade. Não são jejuns como os que fazeis agora que farão ouvir no alto a vossa voz. 
Será este o jejum que Me agrada no dia em que o homem se mortifica? Curvar a cabeça como um junco, deitar-se sobre saco e cinza: é a isto que chamais jejum e dia agradável ao Senhor? 
O jejum que Me agrada não será antes este: quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? 
Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante? 

Já aqui há tempos publiquei uma Homilia de São João Crisóstomo (http://omniumservus.blogspot.pt/2015/12/s-joao-crisostomo.html) que, quem sabe, vá ao encontro deste texto de Isaías.

O nosso jejum não é apenas - como diz o povo, e bem! - «para Inglês ver», mas é algo do qual nos privamos para que possa ajudar quem não tem. Não fazemos Jejum para comprar uma PlayStation ou um SmartPhone, mas fazemos Jejum para que, o fruto desse Jejum se converta em ajuda aos mais necessitados... É este o sentido do jejum cristão!

Porque se o Jejum e a Abstinência fossem só não comer carne, não fumar, não beber, não..., não..., não... é que não mesmo! O nosso jejum tem de ter um carácter positivo: Eu opto por comer menos, eu opto por ir menos ao Facebook, eu opto por rezar mais e isto contribui para que aquele que não tem nada, possa ter algo!

A superficialidade e o ritualismo com que vivemos, são muitas vezes um obstáculo para chegar à felicidade... 

Que vivamos com o essencial e optemos pela ajuda...

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