Factor «C»

«Então a mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com os filhos e prostrou-se para Lhe fazer um pedido. 
Jesus perguntou-lhe: «Que queres?». Ela disse-Lhe: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu reino um à tua direita e outro à tua esquerda». 
Jesus respondeu: «Não sabeis o que estais a pedir. Podeis beber o cálice que Eu hei-de beber?». Eles disseram: «Podemos». 
Então Jesus declarou-lhes: «Bebereis do meu cálice. Mas sentar-se à minha direita e à minha esquerda não pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem meu Pai o designou». 
Os outros dez, que tinham escutado, indignaram-se com os dois irmãos. 
Mas Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. 
Não deve ser assim entre vós. Quem entre vós quiser tornar-se grande seja vosso servo 
e quem entre vós quiser ser o primeiro seja vosso escravo. 
Será como o filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção dos homens». 

Estamos mal acostumados no que toca à vida do quotidiano. Pensamos que tudo é feito e acontece à nossa volta, por causa de nós e apenas para nós. Em tudo!!! E não digamos que não é verdade!!! 

Procuramos em tudo um bom tratamento, por exemplo, vamos ao hospital e não queremos esperar, então ligamos a um amigo, que é médico, e ali vamos nós à frente de quem passou a manhã no hospital à espera de uma consulta. Vamos tratar de umas papeladas às finanças, mas dói-nos a cabeça só de pensar que vamos estar duas horas numa fila para ter um carimbo, mas lembramo-nos que temos uma amiga, que tem um namorado e que tem um irmão que trabalha nas finanças... ligamos e passamos por lá como não quer a coisa. A isto chamo factor «C» (de CUNHA). 

O mesmo aconteceu com a mãe dos filhos de Zebedeu. Foi ter com Jesus pedir uma «cunha» para que os filhos tivessem uma boa vida, mas se formos a ver, quem é a mãe que não faz isto pelos seus filhos? 

Mas, atenção... nem sempre este é o caminho certo!!! Primeiro, porque nos fica mal andarmos com «cunhas», com «favores»; segundo, estragamos as relações; terceiro, esquecemo-nos de uma coisa importante: o trabalho pessoal, o mérito próprio.

Jesus, neste Evangelho, tal como no relato de ontem, alerta para este perigo e para esta tentação. O querer chegar depressa aos topos nem sempre é a melhor opção, pois - como diz o povo, e bem! - «quanto mais alto se sobe, maior é a queda» e devemos recordar que quando caímos por termos subido tão rápido, ninguém nos ajuda a levantar. 

«The Greatest in the Kingdom»
de J. Richards
O poder que devemos exercer uns sobre os outros é o poder do serviço, da entrega, da disponibilidade, do amor... este é o serviço que é valorizado ou, como dizia um confrade ontem, «quem são serve, não serve para nada!». 

A nossa atitude perante a vida, faz-nos perceber que não é estar nos lugares cimeiros que nos faz feliz, mas é estar no mesmo caminho com os irmãos e, se somos eleitos para um ou outro cargo, devemos ter consciência que é para o serviço. (cfr. João 13)

O patrão não é só para dar ordens, mas para acompanhar o trabalho do empregado. Aliás, o vocábulo Patrão, vem da palavra latina «Pater», que quer dizer «Pai». 

De facto, todos os cargos na sociedade e também na Igreja, deviam ser entendidos como um serviço e não como uma honra, uma subida de posto. Fizeram um estudo nos Estados Unidos sobre a satisfação no trabalho e descobriram que as melhores empresas e com um índice de satisfação são aquelas em que os patrões trabalham tanto ou mais que os empregados! Mas bem...

O título papal que mais gosto (já que os referi no dia 22) é o de «Servo dos Servos de Deus», pois revela o serviço que o Papa presta à Igreja e ao Mundo. 

Neste tempo da Quaresma, repensemos a nossa vida e como vemos os cargos que ocupamos: temos uma atitude de serviço? Ou somos altivos por ter este ou outro cargo? Como cheguei ao topo? Por «cunha» ou mérito?

Os nossos irmãos judeus tiveram dificuldade em aceitar Jesus como Messias, porque a sua concepção de Messias era o de um rei altivo, que vinha mostrar o seu poder, exterminaria as nações que não lhe obedecessem...um Messias glorioso; mas Jesus nasceu e viveu na humildade e o seu poder era o serviço aos pobres e necessitados. Por isso, Jesus nunca poderia ser o Messias esperado por Israel!!!

Que o ocupar um lugar de destaque não nos distancie desta maneira bonita como Cristo viveu a sua condição de Messias: com humildade e simplicidade de coração! Temos o exemplo... imitemo-lo! Ele veio para servir e nós?

Deixemos, de uma vez por todas, o factor «C» e façamo-nos ao caminho como «um homem qualquer», a exemplo de Jesus. Deixo-vos o Hino da Carta aos Filipenses que é um hino cristológico, realçando este carácter de Cristo como servo humilde, embora sendo filho de Deus (cfr. Fil. 2, 6 - 11):

Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. 
Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome. Assim, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de Deus Pai.

Pax Christi!




Comentários