Penitência e Sacrifício

Nós temos, quase sempre, a ideia de penitência mais cruel: a flagelação, a renúncia completa, a pena de uma falta cometida, a culpa, etc... tudo tão negro que, se não fossemos cristãos, quase que seria uma coisa irremediável, cheia de sofrimento e de punições.

A palavra penitência vem de um vocábulo grego μετάνοια (metanóia), que significa conversão, arrependimento. Porém, o sentido mais literal de penitência em grego é ποινή (poiné), que originou poena (pena) em latim. Daí que nós, os cristãos do ocidente, utilizemos o vocábulo penitência para designar aquilo que os nossos irmãos do oriente designam de conversão. 

De facto, se formos a ver a penitência nasce da conversão, isto é, da ambição de querer mudar o rumo da nossa vida. Não se trata apenas de rezar um rosário ou um Pai Nosso, mas de sentir que, pela oração nos convertemos e fazemos o propósito de mudar de vida. Isto é o sentido da penitência, para mim!

De facto, as nossas más acções, causadas pelo pecado, têm de ser punidas, mas com amor, com confiança. Este foi o erro dos nossos irmãos que, na Idade Média, pregavam o terror e o medo do pecado e que esteve na origem da questão de Lutero. 

Mas bem, deixemo-nos de etimologias e histórias e passemos à espiritualidade. No Evangelho de hoje, é-nos proposta a penitência e o sinal de Jonas, que nos vem relatado na primeira leitura. Geralmente, resume-se a vida de Jonas ao episódio da baleia que o acolhe no seu ventre e o leva a bom porto, mas isto seria muito redutor. A missão de Jonas foi outra.

A Pregação de Jonas
A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas nos seguintes termos: 
«Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e apregoa nela a mensagem que Eu te direi». 
Jonas levantou-se e foi a Nínive, conforme a palavra do Senhor. Nínive era uma grande cidade aos olhos de Deus; levava três dias a atravessar. 
Jonas entrou na cidade e caminhou durante um dia, apregoando: 
«Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída». 
Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, proclamaram um jejum e revestiram-se de saco, desde o maior ao mais pequeno. 
Logo que a notícia chegou ao rei de Nínive, ele ergueu-se do trono e tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza. 
Depois foi proclamado em Nínive um decreto do rei e dos seus ministros, que dizia: «Os homens e os animais, os bois e as ovelhas, não provem alimento, não pastem nem bebam água. 
Os homens e os animais revistam-se de saco e clamem a Deus com vigor; afaste-se cada um do seu mau caminho e das violências que tenha praticado. 
Quem sabe? Talvez Deus reconsidere e desista, acalmando o ardor da sua ira, de modo que não pereçamos». 
Quando Deus viu as suas obras e como se convertiam do seu mau caminho, desistiu do castigo com que os ameaçara e não o executou

Sempre o texto fala de penitência, excepto no último parágrafo. Aos olhos de Deus, a nossa penitência é sempre uma conversão. Fazer penitência, significa voltar ao essencial para que, nesse essencial e despidos de tudo aquilo que é excedente, possamos apresentar-nos perante Deus. O vestir-se de saco é mais que um sentido literal, mas é voltar à simplicidade com que fomos criados, livrando-nos da tentação de querer ser Deus(es). 

O que me causa grande impacto e no qual me revejo é que só damos importância à conversão quando há perigo, quando anunciam a destruição, tal como Jonas apregoava para a cidade de Nínive. Só fizeram jejum e penitência porque o Senhor os ameaçou de que Nínive seria destruída e não porque tinham a necessidade de mudar de vida. 

Por isso, Jesus diz no Evangelho: «Esta geração é uma geração perversa: pede um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal de Jonas.» Ao chamar geração perversa, Jesus quer alertar para esta necessidade de conversão espontânea, que parte do coração e que tem em vista a mudança de vida. 

Assim, Jesus é, não só profeta da conversão, mas também é Ele próprio que converte. Por isso, Ele é maior que Jonas, porque, enquanto Jonas prega a conversão, Ele é aquele que redime e perdoa os pecados da humanidade. 

Por fim, podemos pensar um pouco sobre isto, a partir destas perguntas:

Como é a minha aproximação de Deus? É só nos momentos de aflição ou também no quotidiano da vida?
Em que medida me converto? Faço-o só para a Quaresma ou para a vida?
O que é a penitência para mim? Só um acto externo para despenalizar-me? Ou é, na verdade, a metanóia, a conversão?

Aviso:
Hoje, como já é costume, a Associação João13 promove um momento de Oração pelos que sofrem e com os que sofrem, lembrando, de modo particular, os doentes e quem deles cuidam. Será às 21h15, na Capela de Nossa Senhora da Carreira (rua Gomes Freire, nº 70).
Estão convidados a juntarem-se a nós!

Pax Christi!

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