Domingo I da Quaresma - (Re)Aproximar-se

Livro de Deuteronómio 26,4-10.

Moisés falou ao povo, dizendo: «O sacerdote receberá da tua mão as primícias dos frutos da terra e colocá-las-á diante do altar do Senhor, teu Deus.
E diante do Senhor teu Deus, dirás as seguintes palavras: ‘Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egipto com poucas pessoas, e aí viveu como estrangeiro, até se tornar uma nação grande, forte e numerosa.
Mas os Egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos e sujeitaram-nos a dura escravidão.
Então invocámos o Senhor, Deus dos nossos pais, e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava.
O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios
Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel. 
E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra que me destes, Senhor’. 
Então colocarás diante do Senhor, teu Deus, as primícias dos frutos da terra e te prostrarás diante do Senhor,teu Deus».

É comum, neste Domingo, comentar-se o Evangelho, no qual nos é narrado as tentações de Jesus no deserto, o porquê da Quaresma ter quarenta dias. Mas, foge-se sempre à leitura do Deuteronómio, porque pensamos que só o Evangelho tem sentido nos nossos dias! Engano... 

O Evangelho que chegou até nós é marcado pelo Antigo Testamento, pois não esqueçamos que Jesus foi judeu e um profundo conhecedor das Escrituras. Basta ver o que Jesus responde ao Diabo no Evangelho de hoje: «Está escrito...». Posto isto, o meu comentário deste Domingo vai ser centrado na Primeira Leitura, retirada do Pentateuco, mais propriamente do Deuteronómio. 

O nosso Credo não é do tempo dos Judeus, pois os Judeus não tinham uma fórmula de fé criada. A primeira fórmula de fé cristã data do ano 325 d. C., fruto do Concílio de Niceia e com o fim de combater a heresia. Contudo, o Povo de Israel professava a sua fé com fórmulas como a que hoje escutamos. 

Nela há vários elementos que podemos retirar para a nossa vida hoje! Invocar o Senhor às nossas vidas é chegar até Ele, é ser capaz de ir ao Seu encontro. Quando somos capazes de invocar o Senhor e de nos aproximar dele, então tudo se torna mais fácil 
O Senhor, tal como no Povo de Israel, sabe o nosso sofrimento, o terror em que vivemos, as nossas misérias!!! Ele sabe tudo...

Mas, perguntamos: Então, se Ele conhece tudo, não precisamos de o invocar! Engano... 
Deus, como escrevi à uns dias, dá-nos a liberdade de escolha, por isso dá-nos a liberdade de escolher se queremos ou não que Ele venha às nossas vidas. Parte de nós esse desejo...

Também a Segunda Leitura de hoje, fala-nos da importância da Palavra nas nossas vidas, dizendo que a Palavra está perto de nós, no nosso coração. São João Crisóstomo dizia: «Nós, os cristãos, não deveríamos necessitar de rolos com a Palavra de Deus. A Palavra devia estar gravada no nosso coração de tal modo que dispensaríamos os escritos para sermos nós próprios o rolo da Palavra de Deus» (Hom, Mateus, I, 1).

De facto, se fossemos capazes de levar no nosso coração a Palavra de Deus, não seria necessário livros, porque nós mesmos seríamos esse livro aberto em que os outros podiam ler a Palavra de Deus. Nos dominicanos, isso chama-se pregar com a vida...

Para resumir tudo isto, uma história que recebi estes dias:
«Um homem vai ao barbeiro, senta-se na cadeira e abre a Bíblia e lê durante o serviço. No fim, o barbeiro interpela-o, dizendo: 
«Sabe, eu não creio que Deus exista!». 
O homem perguntou: «Então? Porque diz isso?». 
O barbeiro: «Se Deus existisse não haveria tanto sofrimento e tanta guerra no Mundo!»
O homem, silenciou-se e saiu da barbearia. Mais tarde, o mesmo homem voltou acompanhado de um jovem com barba e cabelos grandes. E diz ao barbeiro: «Sabe, eu não acredito que existam barbeiros».
O barbeiro intrigado responde: «Então? Eu sou barbeiro!»
O homem continuou: «Se existissem barbeiros não existiam pessoas com barba e cabelos tao grandes e descuidados.»
O barbeiro, cheio de entusiasmo: «Barbeiros existem! O problema é que as pessoas não vêm até nós!»
O homem, sorrindo, respondeu: «Precisamente! Deus existe, o problema é que os homens não se aproximam d'Ele!»

Estamos no Tempo da Quaresma, tempo em que devemos procurar a Deus, tempo de nos aproximar de Deus e se estamos já próximos d'Ele, é tempo de o redescobrir! Não deixemos escapar a oportunidade que temos...

Mas, hoje, no Mundo inteiro celebra-se o Dia dos Namorados. É uma realidade que devemos pensar e viver com mais afinco. Pensar que o Amor que temos uns pelos outros, especialmente entre casais e namorados, é Dom de Deus e, por isso, partilhamos com outras pessoas! A todos os casais e namorados, desejo um feliz dia! E àqueles que por opção ou por outras razões (como eu) não namoram, este é um bom dia para celebrar o dom do amor alargado e, principalmente o dom da amizade! 

Bom Domingo!

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